Em mandatos, a lista de Mariana Mortágua fica com 67 e a de Pedro Soares com 13.Na atual composição, tanto a maioria tinha menos assentos e recupera agora terreno, uma vez que nesta convenção se apresentaram menos moções. Os críticos não conseguem desta vez absorver esses mandatos. A ala de Catarina Martins e Mariana Mortágua tinha até agora 54 mandatos e a E tinha 17. As outras moções, críticas da direção, dividiam entre si mais cinco assentos.
Para a Comissão de Direitos (o “tribunal interno" do BE) os resultados são seis mandatos para a moção A e um para a moção E, com 490 votos para a primeira, 98 para a segunda, nove brancos e três nulos.
As primeira palavras de Mariana Mortágua, no seu discurso que encerra a XIII Convenção Nacional do partido, foram "elegeram uma mega feminista, portanto é isto que podem esperar em todas as Convenções", agradecendo assim também a "todos e todas as militantes deste partido. Neste partido as opiniões expressam-se com exigência e crítica”, afirma Mortágua, não esquecendo que o que une o partido “foi conquistado por quem esteve antes”.
“Assistimos à degradação da vida pública”, aponta, esclarecendo que no BE “não se deixa a política entregue ao calculismo. Os 24 anos, as treze Convenções e a sala cheia” são só o começo”, deixando assim um recado aos seus adversários: "Aos nossos adversários, para quem a Esquerda é sempre um projeto condenado, deixo um recado franco: já nos conhecem, mas ainda não viram nada da força que sabemos criar, reinventar e unir.”
Mortágua também fez referência ao momento atual de Portugal, afirmando e criticando o atual governo: "É um novo ciclo de incertezas, em que se instalou um poder absoluto que só parece preocupado em sobreviver ao 'dramalhão' do 4.º andar do Ministério”, referindo assim o que se passou a 26 de abril no Ministério das Infraestruturas.
Continuando, Mortágua referiu “alguns governantes” para os quais as suas carreiras pessoais são mais importantes do que os seus deveres, em que o país é humilhado com decisões arbitrárias e questiúnculas grotescas, em que a política é gerida ao sabor de aprendizes de feiticeiro e spin doctors, em que os anúncios de hoje nada valem amanhã”.
A nova líder do BE também fez referência à desigualdade, afirmando que “o labirinto deste entretenimento triste não consegue esconder as evidências esmagadoras: mais de um milhão e 700 mil pessoas vivem com menos de 554 euros por mês. As mulheres ganham em média menos dois meses de salário do que os homens".
Mariana Mortágua alerta ainda que se vive a política de um “jogo perigoso, onde reina o medo, o pior acontece”. Alerta para as “sementes do ódio” e diz que “na direita uma ânsia de vingança contra os trabalhadores, de desprezo pelos pobres, de regressão nos direitos conquistados. A direita, que bebe do ressentimento e da angústia de problemas reais, é a primeira a querer impor medidas contra o povo, a apoiar a especulação imobiliária, os interesses da banca e a venda ao desbarato dos recursos do nosso país”, diz, assegurando que o Bloco de Esquerda vai “combater essa direita” e que impedirá que tenha “maioria para impor o seu programa”.
“Portugal não será o país onde espancam imigrantes nas fronteiras e em que se multiplicam Odemiras”, mas que também “não será um país sem serviços públicos de saúde e educação, como propôs o Chega”, nem sequer o país “sem salário mínimo nacional, sem escolaridade obrigatória até ao 12º ano ou em que cada universitário se endivida para pagar o seu curso, como querem os liberais”.
A nova coordenadora também rejeita "a política do ódio impõe uma escolha: impedir que continue este caminho de degradação. Quem abafar, menorizar ou desvalorizar o pântano criado pela maioria absoluta não está a defender a democracia, mas sim a desresponsabilizar os causadores da fragilização da democracia”, acrescenta.
Mortágua acusa novamente a maioria absoluta de ser “um tormento de degradação e instabilidade e uma causa de embaraço nacional.” E avisa que “o desgaste da vida democrática não é só provocado pelos arruaceiros que gritam contra ela”, frisando que o mesmo é criado por quem “descredibiliza a República” e acha que “o sucesso de um governo está em desbaratar bens comuns e empobrecer os cidadãos enquanto abre o champanhe pelos números do défice e do crescimento económico”.
Mariana Mortágua estabeleceu vários objetivos. Primeiro, começou por falar na reeleição de um deputado na Madeira para ser “a oposição que Miguel Albuquerque teme”. Prometeu “entusiasmo e a determinação” para ser a “terceira força para ultrapassar o Chega e a Iniciativa Liberal” com o intuito de enfrentar “as alianças europeias da extrema-direita” e “para mostrar que há uma esquerda que se bate pelo seu povo e que disputa a política ao PS e PSD”.
Deixou claro que o Bloco não aceita que Bruxelas e Frankfurt imponham austeridade e recusa alinhar em “devoções belicistas”. “Defendemos a paz, não aceitamos as trincheiras da guerra nem nos deixamos condicionar por tiranos que usam o seu poder para o massacre.”
Mortágua segue para esclarecer que o Bloco pretende o “acolhimento fraterno de exilados, refugiados e imigrantes”, que pretende a “proteção ambiental acima dos interesses económicos, geoestratégicos e financeiros. E se, por desistência, por conveniência ou por jogada de um ou de outro dos protagonistas desta maioria absoluta, uma nova crise política se conjugar, cá estaremos para que a recuperação da força da esquerda permita impor um programa que devolva a este país o que a voragem da maioria absoluta tirou: dignidade e esperança.”
Ontem, Catarina Martins discursou pela última vez como líder do partido, onde agradeceu os onze anos na frente dos destinos do partido e ainda abordou a 'geringonça' e terminou entre abraços pelas históricas figuras do BE.
Em atualização.
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