O processo da gigante de Silicon Valley gera novos problemas para a NSO, que está envolvida em controvérsias sobre relatos de que dezenas de milhares de ativistas, jornalistas e políticos foram alvos potenciais do Pegasus.

Há apenas algumas semanas, as autoridades dos Estados Unidos restringiram as relações entre a NSO e grupos norte-americanos sob acusações de que a empresa israelita "permitiu que governos estrangeiros realizassem uma repressão transnacional".

"Para evitar mais abusos e danos aos seus utilizadores, a Apple também a avançar com uma ordem judicial permanente para proibir a NSO Group de usar qualquer programa, serviço ou dispositivo da Apple", disse a empresa californiana em nota divulgada para anunciar o processo.

"Os acusados são hackers notórios, mercenários amorais do século XXI, que criaram uma engrenagem de cibervigilância altamente sofisticada, que convida ao abuso rotineiro e flagrante", afirmou a companhia no processo judicial.

"Os atores patrocinados pelo Estado, como a NSO Group, gastam milhões de dólares em tecnologias sofisticadas de vigilância sem responsabilidade efetiva. Isso tem de mudar", disse Craig Federighi, vice-presidente senior de engenharia de software da Apple.

A NSO, por sua vez, negou sistematicamente qualquer irregularidade e reagiu ao anúncio insistindo que o seu software está destinado ao uso das autoridades somente na luta contra o terrorismo e outros delitos.

"Os pedófilos e terroristas podem operar livremente em refúgios tecnológicos seguros, e proporcionamos aos governos as ferramentas legais para combatê-los. A NSO Group continuará a defender a verdade", afirmou a companhia numa nota enviada à AFP.

"Isto não pode ser uma boa notícia para a NSO, que, segundo os relatos, está em risco de incumprimento com mais de 500 milhões de dólares em dívidas, uma restruturação recente da sua liderança com o seu CEO e, além disso, a desistência da França de uma compra planeada depois das sanções dos Estados Unidos", assinalou Jake Williams, da empresa de cibersegurança BreachQuest.

Em 2019, o Facebook processou a NSO Group, acusando-a de usar o WhatsApp para realizar espionagem cibernética contra jornalistas, ativistas de direitos humanos e outros.

Essa ação, movida num tribunal federal da Califórnia, alegou que aproximadamente 1.400 dispositivos foram atacados com software malicioso para roubar informações valiosas de utilizadores da aplicação de mensagens.

Os smartphones infectados com Pegasus tornam-se essencialmente dispositivos espiões de bolso, permitindo que os utilizadores leiam as mensagens do utilizador-alvo, vejam as suas fotos, rastreiem a sua localização e até mesmo liguem as suas câmeras sem que eles saibam.

Especialistas da ONU pediram uma moratória internacional na venda de tecnologia de vigilância até que as regulamentações para proteger os direitos humanos sejam implementadas.

Após as preocupações iniciais sobre a Pegasus, uma onda subsequente de temores surgiu quando o fabricante do iPhone lançou uma correção em setembro para uma falha que permitia que um software-espião infectasse os dispositivos sem que os utilizadores clicassem num link ou mensagem maliciosa.

O chamado "clique zero" pode corromper silenciosamente o dispositivo alvo e foi identificado por investigadores do Citizen Lab, uma organização de vigilância da segurança cibernética no Canadá.

"Empresas mercenárias de spyware, como a NSO Group, facilitaram alguns dos piores abusos dos direitos humanos e atos de repressão transnacional, enquanto enriqueciam a si próprios e aos seus investidores", disse Ron Deibert, diretor do Citizen Lab.

Uma investigação feita por um grupo de direitos humanos europeu publicada no início de novembro descobriu que o spyware Pegasus foi usado para hackear os telefones de equipas de grupos da sociedade civil palestiniana visados pelo governo israelita.

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