Era um feito há muito aguardado pela empresa aeroespacial de Elon Musk. No último domingo, a SpaceX conseguiu fazer com que o propulsor da Starship, a nave espacial da empresa privada projetada para futuras missões à Lua e a Marte, regressasse à base depois do lançamento, de forma a ser reutilizado. Mais: a SpaceX também conseguiu fazer a nave aterrar, de forma controlada, no Oceano Índico.

O lançamento ocorreu às 13h25 (hora de Portugal) na base aérea de Boca Chica, no Texas, após um atraso de 25 minutos para garantir que a área de lançamento estivesse livre de embarcações. Cerca de sete minutos após a descolagem, o propulsor Super Heavy, equipado com 33 motores, separou-se da nave e retornou à plataforma de lançamento.

Num momento considerado histórico para a SpaceX, a torre de lançamento capturou o propulsor ao utilizar o que a empresa descreve com humor como chopsticks (pauzinhos). Esta captura bem-sucedida é mais um passo para tornar o propulsor Super Heavy um sistema de lançamento totalmente reutilizável, à semelhança dos foguetões Falcon 9, também da SpaceX.

Enquanto isso, a Starship continuou a sua jornada, reentrando na atmosfera terrestre cerca de 45 minutos após o lançamento. Às 15h30, a nave realizou um “pouso suave” no Oceano Índico e acabou por explodir, o que já estava previsto.

Este quinto teste da Starship representa ainda um avanço nas comunicações espaciais. A nave testou um sistema que utiliza a rede de satélites Starlink para manter contacto com o módulo orbital durante a reentrada, o que é uma novidade em voos espaciais.

Com este teste bem-sucedido, a SpaceX dá mais um passo em direção ao seu objetivo de estabelecer o primeiro serviço privado de viagens à Lua e a Marte. O reaproveitamento dos aparelhos é considerado uma peça fundamental para as metas da empresa, já que permite reduzir substancialmente os custos.


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Tesla: O Cybercab e o futuro dos táxis autónomos

As “vitórias” de Elon Musk não ficam pelo espaço, em terra também há novidades. Na semana passada, o homem mais rico do mundo apresentou na Califórnia, mais concretamente nos estúdios da Warner Bros, o Cybercab, um protótipo de táxi autónomo da Tesla. O veículo, também chamado robotaxi, não tem volante nem pedais e, segundo Musk, custará menos de 30 mil dólares. “Não há volante nem pedais no carro. Por isso espero que isto corra bem, vamos ver”, disse o responsável, com um sorriso à mistura.

“Na maior parte do tempo, os carros estão simplesmente parados. Mas se forem autónomos, podem ser utilizados, não sei, cinco vezes mais, talvez dez vezes mais”, começou por explicar o bilionário à multidão. “Portanto, o mesmo carro teria cinco vezes mais valor, talvez dez vezes mais valor”, acrescentou.

De acordo com o executivo, a produção do Cybercab deve começar antes de 2027, dependendo da aprovação regulatória. O problema é que Elon Musk não é propriamente conhecido por cumprir prazos. Como conta o The Verge, em 2016 Musk afirmou que os carros autónomos da Tesla estavam “a dois anos de distância”. Um ano depois, disse que seria “definitivamente em seis meses”, e que os clientes poderiam realmente dormir nos seus Tesla “daqui a dois anos”. Em 2019, garantiu que haveria “condução totalmente autónoma com todas as funcionalidades ainda este ano”. Na prática, não houve um único ano em que Musk não prometesse a chegada iminente de um Tesla completamente autónomo. Será que é desta?

Depois de chegar à pendura aos estúdios da Warner Bros, Elon Musk defendeu, citado pelo Financial Times, que “o custo do transporte autónomo será tão baixo que poderemos considerá-lo como um transporte em massa individualizado”. Certo é que a apresentação não forneceu detalhes técnicos sobre a tecnologia dos robotaxis nem sobre como a Tesla planeia reduzir os custos dos veículos autónomos, o que voltou a gerar dúvidas entre analistas e especialistas do setor, com as ações da Tesla a caírem quase 9% na semana passada. Ainda assim, o executivo afirmou que a mudança da empresa para a condução autónoma e a Inteligência Artificial poderá subir o valor da Tesla para 5 bilião (trillion) de dólares, cerca de sete vezes o seu valor de mercado atual.

Segundo o jornal norte-americano, a maioria dos analistas acredita que a implementação dos Cybercabs pela Tesla levará vários anos, considerando os obstáculos regulatórios e as questões de segurança relacionadas com a sua tecnologia de condução autónoma, que utiliza câmaras e IA para orientar os veículos. Por isso, apesar das promessas de Musk, a realidade é que, atualmente, os veículos da Tesla atuais  não são totalmente autónomos. Por exemplo, o sistema de assistência à condução da marca, conhecido como Autopilot ou Full Self-Driving (FSD), requer supervisão constante do condutor e não permite uma condução verdadeiramente autónoma.

Ainda durante o evento da semana passada, Elon Musk apresentou um protótipo de um veículo autónomo para 20 pessoas chamado Robovan.

Enquanto isso, rivais da Tesla como a Waymo já estão no terreno com serviços de táxis sem condutor em algumas cidades dos EUA, embora numa escala limitada e com supervisão humana remota. Ao contrário da empresa de Musk, a Waymo não vende carros autónomos, mas sim a tecnologia necessária para lá chegar. Isto inclui sensores, radares, câmaras, LiDAR, software e hardware, de forma a que os fabricantes possam transformar os seus automóveis em veículos completamente autónomos.

As vendas de automóveis da Tesla, que representam 82% da sua receita total, diminuíram face à concorrência cada vez maior das empresas chinesas que lançam para o mercado automóveis com preços considerados mais acessíveis, o que, por sua vez, está a forçar a marca norte-americana a reduzir os seus preços. No último trimestre, as entregas de veículos da Tesla aumentaram 6,4% em relação ao mesmo período de 2023, recuperando pela primeira vez este ano, mas ainda assim abaixo das expectativas de Wall Street. Será que é mesmo uma vitória de Elon Musk?

Optimus: O robô humanoide da Tesla

Já quase no final da apresentação dos novos veículos autónomos, Musk mostrou ainda progressos no desenvolvimento do Optimus, um robô com uma forma semelhante à dos humanos e que é baseado em Inteligência Artificial. De acordo com o CEO, o Optimus “pode tomar conta das vossas crianças” ou ajudar nas tarefas domésticas.

Durante as demonstrações, os robôs foram vistos a usar chapéus de cowboy, a servir bebidas no bar, a dançar em sincronia num palco e a jogar pedra-papel-tesoura com os espectadores. Quanto ao preço, Musk revelou que o aparelho custará menos de 30 mil dólares.

No entanto, escreve o The Verge, há dúvidas sobre se estas máquinas estariam realmente a operar autonomamente, com alguns espectadores a afirmarem que havia humanos a “assistir remotamente” os robôs.

O conceito de robôs humanoides capazes de realizar tarefas humanas complexas tem sido um objetivo de longa data na robótica e na Inteligência Artificial. Elon Musk descreve o Optimus como “o maior produto de sempre, de qualquer tipo”. Agora é uma questão de esperar até que a tecnologia se torne oficialmente disponível.