"Em geral, este tipo de laser pode ser utilizado em várias áreas da medicina, como é o caso dos diagnósticos médicos, cirurgia ocular, operações à córnea e terapia", explicou o investigador.

Para além das aplicações médicas e biomédicas, estes lasers são usados em ambientes científicos, em áreas como a química, a biologia e o desenvolvimento de materiais avançados, bem como na indústria.

De acordo com Hélder Crespo, o novo sistema de laser atinge um tempo mínimo de três femtosegundos (um femtosegundo é igual a 0,000.000.000.000.001 segundos), uma escala "sem precedentes".

"A resolução temporal alcançada com o novo sistema, inferior aos sete femtosegundos, é cerca de dez vezes superior à anteriormente obtida a nível mundial", esclareceu o professor da FCUP, indicando que o avanço permitiu "estabelecer um novo limite para a velocidade à qual se pode modificar a magnetização de materiais diretamente com luz laser".

O novo sistema e os resultados já obtidos podem ainda ter impacto no desenvolvimento de materiais e tecnologias magneto-óticas, para gravação e leitura de informação a alta velocidade.

Segundo o investigador, nos últimos anos, "vários avanços científicos na área do magnetismo permitiram a criação de novas tecnologias de armazenamento de informação de alta capacidade, extremamente compactas".

Estes avanços têm resultado num aumento da capacidade dos riscos rígidos, sendo hoje possível armazenar grandes quantidades de informação (como filmes e vídeos) em suportes digitais magnéticos, que vieram substituir as tradicionais tecnologias analógicas.

No entanto, o aumento da capacidade de armazenamento tem que ser acompanhado por um aumento correspondente da velocidade de escrita e leitura, "pois de outra forma o sistema em questão torna-se lento face à sua capacidade", explicou Hélder Crespo.

O acesso a estas escalas de tempo é então possível graças à tecnologia laser ultrarrápida, onde se destacam os sistemas ‘laser' que têm sido criados pelos cientistas que trabalham no laboratório Femtolab, da FCUP.

O trabalho aí desenvolvido está diretamente relacionado com uma nova tecnologia para a compressão e medida de impulsos laser ultracurtos, denominada dispersion-scan (ou d-scan), inventada e patenteada na UP, em colaboração com a Universidade de Lund.

Tendo por base esta tecnologia, foi criada a Sphere Ultrafast Photonics, uma ‘spin-off' (empresa que nasceu a partir de um grupo de pesquisa) da UP, sediada no Porto, que a fabrica e distribui no mercado científico.

Para além de Hélder Crespo, o projeto conta com a colaboração de outros investigadores da UP, de David Schmool, professor da Universidade de Versailles, França, e um investigador da Universidade de Lund, Suécia.

O trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e os resultados obtidos foram recentemente publicados na revista científica ‘Scientific Reports'.