Las Vegas, EUA. Cidade do Estado norte-americano do Nevada, famosa pelos seus casinos e hotéis e, caso levemos à letra aquilo que é representado nos filmes, local predileto para que uma noite de euforia caia na desgraça. É o local de nascimento de desportistas de renome como Floyd Mayweather ou Andre Agassi, e da famosa frase, também ela universal e para a cidade (ou situação) que seja conveniente: "aquilo que acontece em Vegas, fica em Vegas". Acresce a tudo isto o facto de ser também casa do CES, um evento que pode ser visto como o pontapé de saída para o que vai ser apresentado noutras feiras e salões tecnológicos em 2018, funcionando como um verdadeiro “palco global de inovação”. Mas indo direto ao assunto.
O que é: O maior evento de electrónica de consumo do mundo;
Quando: De 9 a 12 de janeiro, com eventos dedicados exclusivamente à imprensa durante os dias 7 e 8;
O que lá há: Tudo aquilo que se pode esperar dum evento desta magnitude. Desde televisões em 8K a computadores portáteis super potentes, de carros autónomos a frigoríficos inteligentes — há inclusivamente espaço para robôs pugilistas. Enfim, há um pouco tudo.
A CES (Consumer Electronic Show) é uma feira grande. Muito grande. Para se ter uma ideia do quão grande — em dimensão física e em expressão — refira-se que no ano passado estiveram mais de 4.000 empresas a ocupar cerca de 241.547 m² (o complexo da Feira Internacional de Lisboa - FIL tem no seu conjunto 100.000 m²). Isto traduz-se na presença de 180 mil profissionais da indústria, sendo que 58 mil vieram fora dos Estados Unidos. De acordo com o site oficial, o ano passado estiveram presentes mais de 7 mil jornalistas de todo o mundo.
No fundo, é o Disney World para todos aqueles que gostam de estar a par das últimas tendências tecnológicas. E que querem saber quais são os produtos que pertencem aos mundos distópicos da literatura de ficção científica e aqueles que podem fazer parte do nosso quotidiano amanhã. Só que o Mickey, Minnie ou Jack Sparrow são substituídos pela vanguarda dos gadgets, serviços e inovações. Com um pequeno acrescento: foi neste local que se apresentaram vários produtos importantes dos últimos 50 anos.
Para um adolescente, uma videocassete (VCR) é algo que sabem que existe e que os pais, tios ou avós guardam/colecionam em casa e que vê a humidade como um dos seus principais némesis. E é um pouco normal que assim seja, já que foi algo apresentado na CES há 47 anos, em 1970. Assim como o Digital Versatile Disk (DVD), em 1996. Também aqui se começou a falar no sinal de Alta Definição para Televisão (HDTV), em 1998. E estes são apenas alguns exemplos. A lista de coisas que hoje ouvimos falar e que também foram aqui lançadas é deveras extensa. Televisões 4k, smartphones, carros elétricos, portáteis potentes, robótica, realidade aumentada ou realidade virtual, também fazem parte do espólio disponível. Enfim, há uma razão pelo qual andam há praticamente cinco décadas nisto.
O evento pertence e é produzido pela Associação de Tecnologia do Consumidor (CTA) — uma associação comercial de tecnologia que representa o setor de tecnologia de consumo dos Estados Unidos e que vale 292 mil milhões de dólares (243 milhões de euros) — e que “atrai os principais líderes empresariais do mundo e os pensadores pioneiros para um fórum onde as questões mais relevantes do setor são abordadas”.
Contudo, ainda que seja o deserto do Nevada a receber esta megalomanidade tecnológica, a primeira edição do evento ocorreu em Nova Iorque, em 1967. Desde então que todas as edições revelam produtos que hoje utilizamos no nosso quotidiano e às quais banalizamos (ou já os descartamos, porque isto da tecnologia é mesmo assim; o que hoje é novidade amanhã é apenas um passado recente).
Em 2017, segundo os analistas consultados pela Agence France-Presse (AFP), não são esperadas grandes revoluções, mas sim avanços nas tecnologias já existentes, particularmente de uma série de dispositivos conectados para o lar doce lar (como os comandos de voz inteligentes Echo, da Amazon, e Home, da Google, que devem se tornar uma espécie de torre de controle da casa).
StartUP Portugal organiza missão inédita a Las Vegas
Em comunicado, a associação responsável pela estratégia nacional para o empreendedorismo informou estarem cinco empresas, em fase de internacionalização, incluídas na missão para “apresentar as suas inovações numa das maiores feiras profissionais e especializadas do mundo, a Consumer Electronics Show (CES)”.
Na lista estão a Follow Inspiration, a operar na construção de 'robots' de apoio ao consumo; a Findster, criadora de uma tecnologia de 'tracking' (localização) de animais de estimação por GPS; a Invoice Capture, de serviços de optimização de facturação; a Infinite Foundry, uma plataforma de 'cloud' que permite a projeção e simulação de produtos em 3D e a SubVisual, empresa de design especializada em conteúdos e produtos mobile e web.
Para esta missão, que conta com o apoio da AICEP, ainda estão abertas as candidaturas até quinta-feira.
No âmbito do programa Missions Abroad, de apoio à internacionalização de jovens empresas, a CES é a primeira deslocação de um calendário que integra mais 10 missões, incluindo à CeBIT, em Hannover (Alemanha).
“Para além da organização da presença no evento, das viagens, alojamento e do apoio financeiro, que pode ascender a 40% dos custos, as 'startups' [empresas com potencial rápido de crescimento] contam com acompanhamento personalizado por parte da Startup Portugal durante toda a missão”, lê-se ainda no comunicado.
Indústria automóvel e um Pato
Há vários anos a esta parte que o CES tem ganhado ares de feira automóvel. Não é só de agora. A presença de inúmeros fabricantes (Renault-Nissan, Toyota, Hyundai, Ford, entre outros) e a exibição das novidades no segmento dos carros autónomos assim o dita. E Doug Newcomb, jornalista da PC MAG, neste artigo de opinião, elucida dos números que o explicam:
Em 2017, a CES recebeu mais de 180 mil participantes e mais de 7 mil jornalistas de todo o mundo. Em contraste, estiveram presentes 40 mil participantes e 5.100 elementos de órgãos de comunicação nas jornadas da indústria no NAIAS 2017 (North American International Auto Show), em Detroit, naquele que é considerado o maior salão automóvel norte-americano. Contudo, mais de 800 mil consumidores marcaram presença em Detroit — um modelo que visitação não contemplado na CES.
Este ano, será no âmbito da CES que será feita a apresentação, por exemplo, do Fisker EMotion, um sedan desportivo híbrido de luxo, com um preço inicial de 130 mil dólares (cerca de 108 mil euros) e com capacidade de condução autónoma. Apesar do preço bastante alto, é esperado que coloque a Tesla em sentido, especialmente pela sua capacidade de autonomia.
O novo EMotion promete uma velocidade máxima a rondar os 260 km/h e uma autonomia de mais de 600 quilómetros. Mas não só. Escreve o fabricante que 9 minutos de carga vão chegar para fazer aproximadamente 200 quilómetros. Será?
Só que as novidades não se vão cingir somente a modelos de transporte particular. Assim, convém referir que a atenção dos visitantes também se deve virar para os transportes públicos sem motorista. É que neste campo, o fabricante francês Transdev vai apresentar um modelo autónomo de micro-autocarro.
Os assistentes de voz devem começar a fazer das suas nos veículos num futuro próximo. Lentamente, vão começar a transformá-los em "smartcars", onde serão capazes de reconhecer e de se adaptar aos seus passageiros; não só para os simplesmente entreter, mas também para que o seu tempo de deslocação seja mais produtivo.
Significa isto que devemos procurar avanços dentro dos dispositivos, em vez de olharmos para a sua estrutura externa.
"Um smartphone é sempre um retângulo", diz Carolina Milanesi, do Creative Strategies, mas no seu interior os avanços tecnológicos são importantes. "É como um pato que nada: não vemos as suas patas balançando freneticamente sob a superfície para fazê-lo avançar, vemos apenas o pato, sempre o mesmo", explica.
Alexa e o Assistante da Google
Os analistas consultados pela AFP não esperam grandes revoluções, mas antes avanços nas tecnologias já existentes, particularmente numa série de dispositivos à la home — como os comandos de voz inteligentes Echo, da Amazon, e Home, da Google, que devem finalmente caminhar no sentido que se espera: uma governanta à boleia da voz.
Também é bem provável que o sucesso da assistente virtual da Amazon (Hi, Alexa!) se confirme nos corredores do CES, bem como a expansão do seu rival, o Google Assistant.
No que aos dispositivos que tocam música diz respeito, estes devem apresentar-se com a capacidade de ligar para os amigos ou até pedir pizza (com ou sem ananás), mas também de responder a todo tipo de perguntas, já que estão cada vez mais complexos e bem adaptados aos seus interlocutores, graças aos avanços da inteligência artificial (IA).
"Acho que vamos ser esmagados pela domótica [o termo resulta da junção da palavra latina “Domus”, que significa casa, com “Robótica”] e pelo comando de voz, com speakers ligados em todos os corredores do salão", prevê Stephen Baker, analista do Grupo NDP.
As empresas tecnológicas enfrentam atualmente um enorme desafio: conseguir um espaço especial nos lares dos consumidores e tentar impor a sua plataforma de inteligência artificial ativada por voz em todos os dispositivos possíveis.
Porém, há alguns anos que produtos desta linha têm sido apresentados na CES. No entanto, só nos últimos é que chegaram à vida dos consumidores, em parte graças à fácil adaptação e instalação dos mesmos nos nossos smartphones. Num passado recente, vimos isto acontecer em funções básicas, como ligar e desligar luzes ou colunas. Este ano, é esperado que as empresas continuem a tentar potencializar esta inovação noutros aparelhos e diversifiquem a sua oferta dentro daquilo que já existe. Porque há sempre sítios novos para colocar uma luz e onde queremos ouvir música — se possível, sem nos mexer muito para o efeito.
Acima de tudo, tratando-se do CES, é expectável que exista uma parcela razoável de smart gadgets que serão, num primeiro olhar, desnecessários. Mas que no futuro se poderão reverter em algo banal e que já não vamos considerar dissociar do nosso conteúdo. Ou não.
A morte da TV por cabo?
A questão é levantada pela Digital Trends que fez um artigo de antevisão do evento. E um dos seus subtítulos é precisamente esse: “a morte da televisão por cabo”.
A razão: a TV não tem acompanhado o ritmo de evolução. E o consumidor sabe-o. Porque as rotinas de hoje em dia estão a mudar e com elas os nossos comportamentos. Explica o artigo que as pessoas procuram cada vez menos os canais generalistas, e é cada vez mais frequente ligar a TV e ir diretamente a serviços como a Netflix. Têm melhor qualidade e resolução. E isto é algo que ainda se vai acentuar mais no futuro, de acordo com a publicação.
Qualquer pessoa que necessite de comprar uma televisão, nos dias que correm, por muito que não domine a matéria, segue com um pedido de antemão: 4K. Por cá, esta não é ainda uma realidade transversal — de notar que só há pouco tempo é que a SportTv começou a disponibilizar o serviço, num canal especial para o efeito. Mas nos Estados Unidos é cada vez mais a tendência.
Só que a CES é para falar do futuro. 4K é novidade, mas do presente não reza o avanço. E é por isso que a LG tem planos para exibir uma TV a 8K, que certamente fará aguçar os olhares dos mais exigentes a nível visual. Trata-se de uma nova televisão com 88 polegadas. E, ainda que existam modelos com maiores dimensões, a empresa garante que esta “é a maior tela OLED 8K” disponível no mercado. E traz consigo uma resolução de 7,680 x 4,320. Na prática isto significa que tem 16 vezes mais pixels que a versão 1080p e quatro vezes as TV’s de hoje em dia de 4K.
Mas em matérias de TV's, a maior resposta foi da Samsung, com a "The Wall". É, no sentido literal, "A Parede". Afinal, estamos a falar de uma televisão com nada mais, nada menos, do que 146 polegadas.
A funcionar a 4K, vai usar a tecnologia microLED — isto é, a iluminação será à partida mais realista, permitindo que a imagem sofra um efeito de preto profundo quando as secções da imagem não tiverem luz.
Em comunicado, a empresa coreana explica que esta é uma forma de demonstrar que a evolução dos televisores é uma constante e que é sua premissa oferecer uma experiência aos seus consumidores de excelência.
Realidade Aumentada (RA) vai passar uma rasteira à Realidade Virtual (RV)
Esta é, pelo menos, a opinião expressa pelo The Verge. Apesar de haver três headsets bem alocados no mercado, parece que a indústria já não olha para os óculos como o próximo grande acontecimento — “no longer like the next big thing”. E explicam porquê.
Apesar da normalização do produto e adopção morninha, a verdade é que só a Sony com o seu headset da PS conseguiu vendas que impressionem. A vasta maioria dos consumidores ainda não experimentou a tecnologia e tudo indica que o VR irá demorar até se tornar um produto de consumo massificado.
Por seu turno, a Realidade Aumentada, atingiu um novo pico de entusiasmo, muito por culpa do Pokémon Go e do ARKit framework da Apple — e, vá, de qualquer aplicação que dê para tirar selfies com adereços bonitos para enviar aos amigos.
Em suma, enquanto os telefones nos nossos bolsos lidarem com nível baixo de RA, é de esperar que os produtos da CES mostrem aquilo que o mercado experimental (de destaque) desta tecnologia tenha para oferecer.
PC’s mais poderosos que nunca
2017 foi um ano forte para os jogos de computador. E Battlegrounds do Playerunknown muito contribuiu para isso. À hora que este artigo é redigido, estão cerca de 100 mil pessoas a ver vários streamers mostrar os seus dotes neste título, na plataforma Twitch (uma espécie de YouTube dos gamers).
Todavia, escreve a The Verge, que nunca foi tão barato como hoje em dia adquirir material para equipar um computador “potente”. Há periféricos baratos (qualquer equipamento ou acessório que seja ligado ao CPU, como um teclado ou rato) e torres com boa capacidade gráfica a um preço acessível (do que era há um par de anos).
Isso significa que uma feira de gadgets como a CES vai contar este ano com todos os tipos de acessórios de jogos para PC, torres e hardware RV novo e/ou experimental. Também deve haver alguns avanços emocionantes na tecnologia a nível das placas gráficas, que vão fazer com que seja mais fácil fazer stream ou jogar em computadores/ portáteis menos potentes que não tenham uma GPU de topo instalada.
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