Com til, DAO vira Dão e provém da província da Beira Alta, Região Demarcada que data dos primórdios dos anos 1900 e que faz vinho desde então. Sem til e totalmente com maiúsculas, vira Decentralized Autonomous Organization (DAO) — aportuguesando, Organização Autónoma Descentralizada —, algo bem mais moderno e que os entusiastas das criptomoedas acreditam ser o futuro da Web 3.0.

Porque é que estamos a falar das DAO? Essencialmente por três razões: a primeira, porque recentemente foi notícia de que um grupo de amigos no Discord criou uma campanha para adquirir uma cópia rara da Constituição norte-americana num leilão e reuniram o equivalente a 40 milhões de dólares em criptomoedas; a segunda, porque agora há novos relatos de que outro grupo quer comprar uma equipa de NBA da mesma maneira; a terceira, porque estas duas situações não foram inéditas nem pioneiras.

Acontece igualmente que esta onda de investimentos das DAO começou a captar a atenção de investidores mais convencionais, incluindo o Tubarão Mark Cuban, que em maio, no Twitter, as apelidou de "derradeira combinação do capitalismo e do progressismo". O que leva à questão: o que é, em concreto, isto é das DAO? Pegando num artigo elaborado pela CNBC, tentamos explicar porque se diz que são a next big thing do crypto world.

Conta bancária partilhada

"Uma comunidade na Internet que partilha uma conta bancária". Este é o ADN de uma DAO, segundo Cooper Turley, de 25 anos, que diz ter investido cedo na Bitcoin e que por isso agora é milionário (mas que também quer utilizar a tecnologia blockchain para ajudar os artistas musicais). Segundo o próprio, já criou e ajudou a fundar várias DAO.

"Basicamente, são um pequeno grupo de pessoas que se junta num chat e depois decide juntar capital, por norma utilizando uma carteira de Ethereum [além de criptomoeda é também uma plataforma open source global para aplicações descentralizadas]", esclarece.

A maioria das DAO divide-se em duas categorias: as que gerem em conjunto projetos descentralizados em ferramentas open source (como a Ethereum) e aqueles que fazem investimentos. Estas podem agir de forma semelhante às sociedades anónimas ou grupos de investimento, sendo que as especificidades de cada DAO, incluindo o seu tipo, estrutura, regras e governação, dependem de cada caso e dos seus objetivos.

Tradicional vs Descentralizado

Nas organizações tradicionais, o que existe? Uma hierarquia, que segue uma cadeia de comando. Há um conselho de administração formal, executivos ou gestores que determinam a estrutura da empresa e têm o poder de fazer alterações. No fundo, patrões (que podem ter patrões) a ditar as regras.

As DAO, por sua vez, são descentralizadas, o que significa que não são presididas por uma pessoa, entidade ou conselho de administração. As regras e governação de cada DAO são codificadas em contratos inteligentes (smart contracts) na blockchain e não podem ser alteradas a menos que sejam votadas pelos membros do DAO.

No entanto, além deste poder de votação em que se decide em comunidade a vontade da maioria, os membros podem ter outras funções. Normalmente existe uma série de tarefas e posições internas, incluindo postos na distribuição dos tokens e gestão de tesouraria.

Os tipos de DAO

A CNBC recorda que é importante frisar que "DAO" é um termo que abrange vários tipos de negócios e grupos. Dois destes podem ter objetivos completamente diferentes, mas ainda assim serem DAO. Exemplos:

  • A PleasrDAO saltou para a ribalta há umas semanas depois de ter anunciado que foi a responsável pela compra da única cópia do disco "Once Upon a Time in Shaolin" dos Wu-Tang Clan por 4 milhões de dólares (3,5 milhões de euros) — o que deixou a comunidade crypto satisfeita com o destaque obtido nos media tradicionais como é a prova deste artigo do New York Times que apresenta e explica quem são. Compram e colecionam NFT’s;

  • Decrypt, um case study? Lançado em 2018 para ser "o melhor site de notícias sobre criptomoedas", agora quer avançar com a "descentralização dos media" porque o "meio tradicional dos media" está acabado. Como é que o vão fazer? Propõem que seja festa forma, ao avançar com uma DAO para revolucionar o setor.

O futuro

Embora a atingir níveis de popularidade cada vez maiores e a chamar a atenção de novos fãs como Mark Cuban (que diz mesmo que o futuro das empresas será diferente por causa das DAO embora esclareça que não funcionem bem para todo o tipo de negócios), isto não quer dizer que as DAO não tenham um longo caminho a percorrer. Até porque as dúvidas e o ceticismo persistem devido ao facto de não serem reguladas.

Ainda assim, para Cooper Turley, apesar das incógnitas — e de este salientar que são maioritariamente efémeras e de sublinhar que nem todas resultam e se tratam de um risco —, as DAO podem vir a assumir um papel que até aqui eram das estruturas tradicionais dos negócios e empresas.

"Penso que as DAO são as novas sociedades de responsabilidade limitada [Ltd.]", explica Turley. "Acredito que daqui a cinco anos as empresas já não terão capital próprio. Terão tokens, e serão representadas como DAO".

Será?

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.