Este dispositivo, criado no âmbito do projeto Medicare, vai possibilitar a verificação dos fluidos através da medição da bioimpedância torácica, indicou à Lusa o investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) José Alves, responsável pelo trabalho.
A medição da bioimpedância torácica, segundo explicou, é efetuada aplicando uma corrente elétrica de baixa intensidade no corpo do doente - para não danificar os seus tecidos -, medindo-se, de seguida, a resposta elétrica resultante, isto é, a tensão elétrica originada.
"A partir da medição desta resposta é possível estimar a resistência oferecida pelo organismo, ou seja, a sua bioimpedância", disse o investigador.
Quando ocorre uma acumulação de fluidos, como estes têm uma menor bioimpedância, os valores medidos sofrem um decréscimo, continuou.
O dispositivo de medição utilizará quatro elétrodos, colocados em posições específicas no corpo do doente, que realizarão a recolha dos dados de bioimpedância.
Esses dados serão enviados para uma aplicação móvel, já parcialmente desenvolvida, que os irá processar, informando sobre o histórico das estimativas do volume acumulado de fluidos e sobre as alterações que possam ter surgido nos últimos dias.
A insuficiência cardíaca "é uma das maiores causas de hospitalização na União Europeia e nos Estados Unidos em pessoas com idades superiores a 65 anos, estando associada a elevados custos hospitalares", contou o investigador.
Sendo a acumulação de fluidos nos pulmões um dos principais sinais de deterioração grave de saúde nesses doentes, a sua deteção precoce permitirá reajustar a medicação e auxiliar num diagnóstico inicial da doença, evitando potenciais hospitalizações, acrescentou.
José Alves indicou que existem tecnologias semelhantes no mercado, no entanto, são restritas ao ambiente hospitalar. As móveis são caras, havendo ainda algumas mais acessíveis mas pouco precisas nas medições que efetuam.
De acordo com o investigador, o que diferenciará este sistema dos restantes é o seu baixo custo, a portabilidade e a precisão das medições, permitindo ao doente, aos seus cuidadores informais e cardiologistas receber informação adicional acerca do seu estado de saúde.
Este dispositivo será depois integrado no projeto europeu SmartBEAT, que tem como principal objetivo a deteção precoce de sinais e sintomas associados à insuficiência cardíaca.
O Medicare é um dos 14 projetos criados por alunos de diferentes faculdades com o apoio do centro de investigação Fraunhofer Portugal AICOS, sediado no Porto, no âmbito de uma iniciativa anual que lhes permite desenvolver o seu trabalho, orientado para a criação de soluções práticas que contribuem para a qualidade de vida da população.
Este trabalho, agora da responsabilidade de José Alves, é supervisionado por Filipe Sousa, da Fraunhofer Portugal AICOS, e pelo professor Miguel Velhote Correia, da FEUP, tendo sido iniciado pelo investigador Ricardo Silva, da mesma faculdade.
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