Em 04 de fevereiro de 2004, Mark Zuckerberg disponibilizou ‘online’ um “embrião” do Facebook. Atualmente – escreve a agência France-Presse (AFP) – a empresa está omnipresente no dia-a-dia de um quarto da humanidade e vale 500 mil milhões de dólares (perto de 436 mil milhões de euros) em bolsa, tendo encerrado 2018 com um lucro recorde de 22,112 mil milhões de dólares (19,2 mil milhões de euros), mais 39% do que no ano anterior.

Já o seu criador e líder tem, aos 34 anos, uma fortuna avaliada em 62 mil milhões de dólares (54 mil milhões de euros).

Mas esta incrível “história de sucesso” foi, há perto de dois anos, comprometida por um fluxo quase ininterrupto de escândalos e de revelações acerca dos métodos utilizados pela rede social, cujas receitas provêm da publicidade.

A lista de críticas é longa: utilizadores inquietos com a desinformação que circula pela plataforma, defensores da vida privada que se insurgem contra a recolha cada vez mais massiva de dados pessoais para deles se retirar proveito financeiro e, mesmo, ativistas dos direitos humanos.

“Trata-se de uma empresa muito poderosa, que criou um produto viciante do qual muitas pessoas estão dependentes”, sublinha o autor e analista Josh Bernoff, salientando que “isto implica uma enorme responsabilidade”.

Já a analista da eMarketer Debra Aho Williamson refere, citada pela AFP, que, “depois dos problemas de 2018, [o Facebook] deixou de ser elogiado pelas suas inovações”: “Os seus mais pequenos feitos e gestos são escrutinados e criticados”, nota, sustentando que, “aos 15 anos, o Facebook tem de enfrentar a maturidade, já não é um principiante”.

Atualmente, o Facebook tornou-se num império que detém algumas das aplicações gratuitas mais populares do mundo: o Instagram, que revolucionou a fotografia e o relacionamento com a imagem, ou aplicações de mensagens como o Messenger e o WhatsApp.

Cada uma destas aplicações possui mais de mil milhões de utilizadores e permitem captar um público jovem, que se tem vindo a afastar cada vez mais do Facebook, por muitos já encarado como uma rede “para os pais”.

Nos últimos meses, Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg, a poderosa número dois do grupo e a responsável pelo seu modelo económico ultra eficaz, lançaram-se numa verdadeira campanha de contrição, prometendo “fazer melhor e mais rápido” no combate a questões como a desinformação ou os apelos ao ódio.

A empresa tem investido milhares de milhões de dólares para sanear a plataforma, quer com sistemas automáticos, quer também recorrendo a contratações de novos quadros, sendo atualmente já 30.000 os funcionários dedicados a questões de segurança e confidencialidade.

Atacado de forma pessoal, e às vezes mesmo virulenta, Mark Zuckerberg tem uma estratégia de defesa bem alinhada: o Facebook serve para ajudar as pessoas a reaproximarem-se, pelo que podemos confiar nele.

E, apesar das críticas à sua gestão de dados pessoais, está fora de questão alterar o modelo: o serviço é gratuito graças à publicidade e os seus algoritmos orientam-se por entre o emaranhado de dados pessoais que são recolhidos e cruzados.

E isto funciona: o número de utilizadores continua a aumentar e os anunciantes continuam lá.

Josh Bernoff está, contudo, mais cético: “O capitalismo ensinou-nos a redobrar a vigilância quando as empresas que têm imenso poder nos dizem que fazem o que é melhor para nós”, sustenta.

Com o objetivo de demonstrar a sua boa vontade, Mark Zuckerberg decidiu este ano participar em debates públicos para refletir sobre o futuro da Internet e sobre como melhor servir a sociedade.

“Vou envolver-me publicamente, além do que a minha zona de conforto me tem permitido até agora, e vou participar nestes debates sobre o futuro, sobre os compromissos que devemos assumir e sobre a direção que queremos tomar”, anunciou no início deste ano, em resposta às principais questões que têm vindo a ser apontadas pelos críticos da rede social.

Com a história repleta de empresas que pareciam incontornáveis até desaparecerem, o perigo para o Facebook pode vir de uma alteração na forma como as pessoas utilizam e interagem com os seus dispositivos eletrónicos.

Josh Bernoff questiona, por exemplo, se o Facebook estará preparado para a ascensão fulgurante de dispositivos inteligentes como os disponibilizados pela Google ou mesmo pela Amazon.

“O futuro vai pertencer cada vez mais à voz e às empresas e indivíduos que interagem através da inteligência artificial”, sublinha o analista, acrescentando: “Não é certo que haja espaço para o Facebook à medida que as pessoas alteram a sua maneira de interagir com o resto do mundo”.

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