Para muitos adolescentes, nomes como Sir Kazzio (mais de 4 milhões de subscritores), Wuant (cerca de 1,5 milhões de subscritores) ou Nuno Agonia (mais de meio milhão de subscritores), são muito mais do que nomes aparentemente abstratos. Para muitos adolescentes, estes que são alguns dos mais ativos e bem sucedidos youtubers em Portugal neste momento, são autênticos modelos a seguir.
Todavia, este fenómeno não se circunscreve ao nosso país. Prova disso, em Los Angeles, Estados Unidos, nasceu o Social Star Creator Camp (Campo de Criação de Estrelas de Redes Sociais). Entre 8 e 17 de julho, na Universidade de La Verne, a cerca de 57 quilómetros de Los Angeles, a primeira leva de aspirantes a futuras estrelas da rede entra na academia.
Londres, Reino Unido, de 6 a 15 de agosto, e Sydney, Austrália, no início do próximo ano, serão outras das edições da colónia de férias. Para Los Angeles, avança o ‘The Guardian’, há já “dezenas” de jovens inscritos. O objetivo? Aprender a criar melhor conteúdo, que atraia seguidores e, com isso, os investimentos das marcas.
Nichelle Rodriguez, 48 anos, a responsável pela ideia diz ao jornal britânico ‘The Guardian’ que “os media sociais estão rapidamente a ultrapassar tudo. O interesse é incrível”. “A colónia é uma incubadora de negócios. O seu único objetivo é a monetização e aprender o negócio”.
Por cerca de 2.500 euros, os jovens entre os 13 e os 19 anos terão direito a alojamento, alimentação, transportes, aulas e workshops, visitas de estudo e convidados especiais, pode ler-se no site do campo de férias.
Mas, não é irresponsável prometer fama por menos de 3 mil euros? A resposta está na página da iniciativa: “É um facto! Com a informação atual, um sonho alimentado e objetivos no lugar; trabalho árduo consistente nesta indústria vai pagar. Não é um caminho fácil, mas assim que o criador vir os resultados, estará motivado para chegar ao nível de stardom [estrelato] que deseja”.
Tudo somado (viagens, jantares e outros não incluídos no preço), o valor da colónia pode subir para lá dos três milhares de euros. Contas feitas, a participação no campo de Londres, o mais próximo de nós, em localização ainda a anunciar, fica nos 2.937 euros, excluindo bilhetes de avião e despesas complementares.
Note-se, porém, que há um desconto: 1 dólar, ou cerca de 92 cêntimos, para quem partilhar o site da colónia de férias nas redes sociais.
A proposta parece ser a de criar autênticos empreendedores das redes sociais. Com workshops de negócios, networking [criação de redes de contactos] e branding [criação de marcas], para além da oportunidade de conhecer criadores ativos e fazer negócios. As promessas são muitas.
“Quantas mais pessoas te conhecerem e te amarem, mais famoso és, certo? Tudo o que tens de fazer é deixar as tuas capacidades e personalidade brilhar, acredita em ti, sê consistente e deixa que os utilizadores das redes sociais reconheçam a tua singularidade.”, dizem as brochuras.
Rodriguez diz que qualquer um pode ser uma estrela. E a melhor parte é que agora podem ganhar dinheiro com os passatempos e paixões que sempre tiveram, diz a promotora. “Temos a sorte de, nesta era, haver um dólar agarrado a isso tudo”, disse ao ‘The Guardian’.
Outros, porém, deixam o otimismo de lado. Acusam a iniciativa de levar os pais a desperdiçar dinheiro, alimentando expectativas irrealistas das crianças.
Anne Henry, co-fundadora de uma associação sem-fins lucrativos que aconselha famílias na indústria do entretenimento, diz ao jornal britânico que a explosão das redes sociais tem alimentado desilusões. “Agora pensamos que toda a gente pode ser uma estrela, o que significa que todos os pais estão vulneráveis a burlas”.
Na peugada da tradição americana das colónias de férias, de que tantos filmes nos falam, Nichelle Rodriguez cria agora uma nova versão da coisa, com um twist, que é como quem diz, com uma volta enorme nos objetivos. Em vez de obrigar os jovens a passar o verão sem acesso às redes sociais, o campo de Rodriguez foca-se precisamente nisso.
Porém, com um limite: só vinte minutos de chamadas por dia. “Tentamos promover uma experiência de colónia de férias tradicional, onde os aparelhos eletrónicos não são permitidos (‘tradicionalmente’)”, pode ler-se no site. No entanto, “isto não é exatamente possível dada a natureza deste programa focado em internet/redes sociais, já que os telemóveis podem ser necessários para as tarefas. Amigos e familiares devem considerar o tempo do criador no campo como uma ZONA SEM TELEFONE [sic].”
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