Em 2019, foi anunciado durante o Lisbon Investment Summit que o ano anterior tinha sido de recordes para as startups nacionais: as tecnológicas portuguesas tinham registado 485 milhões de euros em investimento em 2018. Contra a maioria das expectativas, e num 2020 particularmente difícil devido à pandemia, as empresas criadas por empreendedores portugueses registaram um valor que não ficou aquém dos números anteriormente anunciados, tendo angariado cerca de 435 milhões de euros em investimento.

Trata-se de valores que não ficam atrás dos grandes mercados europeus, pelo menos quando contextualizados para a escala de cada um deles: conforme anunciado pela Startup Portugal em 2019, a propósito do evento Link to the Future, o montante arrecadado pelas tecnológicas nacionais representava cerca de 0,2% do PIB nacional, números que ombreiam com valores registados pelos mercados alemão e francês (cerca de 0,1%), e que se posicionam acima dos mercados espanhol, italiano e grego (0,1%, 0,03% e 0,02%, respetivamente).

A isto acresce o facto de a tendência europeia para dinheiro levantado em investimento, de acordo com o site focado em startups do Financial Times, Sifted, ser de decrescimento desde 2016, ano em que registou os valores mais altos. Perante este cenário, em que nada indicava um ano particularmente extraordinário para o ecossistema empreendedor nacional, Portugal já regista um ano recordista para as empresas fundadas por empreendedores nacionais: no primeiro trimestre de 2020 a Feedzai tornou-se no primeiro unicórnio [empresa avaliada em mil milhões de dólares] 100% português, tendo levantado 200 milhões de euros sem nunca mudar a sede para fora do país e atingindo a tão desejada valorização de mil milhões de dólares.

Em julho, outro unicórnio fundado em Portugal e co-fundado por um português, a Remote, fechou mais uma ronda de financiamento e chegou à avaliação de unicórnio e deu o passo decisivo para colocar o ecossistema na direção de um ano excecional. De acordo com a plataforma Dealroom, a ronda de investimento da tecnológica fundada por Marcelo Lebre de 150 milhões de dólares, a par com uma ronda de quase 9 milhões de euros da MyLads, fixou o valor total de dinheiro investido em empresas fundadas por portugueses e com operações em Portugal nos 508 milhões de euros, mais do que em 2018, e ainda com 5 meses de negócios pela frente.

De assinalar que das quase 60 rondas reportadas pela Dealroom, há cerca de 24 rondas de seed e pre-seed (investimentos em fase inicial da empresa) que não têm valores públicos, e que contribuem um pouco mais para a ideia de ano excecional. Não menos importante será notar que em 2018 e 2020, os valores assinalados beneficiaram de contribuições de empresas com o estatuto de unicórnio, como a Farfetch, a Talkdesk e a Outsystems, mas cuja sede fiscal não se encontra em Portugal. Em 2021, os valores da Dealroom para as empresas com sede em Portugal encontram-se nos 270 milhões de euros até ao final do mês de julho, um valor que representa já mais de metade do total (para empresas fundadas por portugueses, com sede em Portugal e fora) registado no ano anterior.

O ano de 2021 fica, assim, como um marco para o ecossistema empreendedor português, não só por se chegar aos cinco unicórnios e nos valores altos de investimento, mas também pela promulgação do Startup Nations Standard durante a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia. O contributo do governo português para acelerar o crescimento das startups nacionais foi indelével, mas também a contribuição da Startup Portugal na conceção dos oito pontos se mostrou essencial, assentando nas iniciativas para fomentar o crescimento do ecossistema da Estratégia Nacional para o Empreendedorismo Startup Portugal+, posicionando o país como um líder de medidas já em funcionamento para o cumprimento do standard.