Sumário: Algoritmia e Programação por objetos, Desenvolvimento em Python e Inteligência Artificial.
Este foi o alinhamento cumprido à risca de uma aula diferente numa manhã de sábado efetuada no Técnico Innovation Center (TIC), novo espaço do Instituto Superior Técnico (IST) na antiga Gare do Arco do Cego, em Lisboa.
Rodrigo Girão (Python Developer e Alumni do Técnico), Inês Lince e Arlindo Oliveira, do Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, lecionaram perante uma plateia que encheu a outrora infraestrutura de 1904 associada à arquitetura industrial do século XIX, hoje transformada em 4 mil metros abertos à inovação, conhecimento tecnológico, estudo e experimentação.
Miguel Gonçalves, CEO da Magma Studio, decifrou. “Uma primeira parte sobre algoritmia, que é a base do código, o que é um algoritmo, como se pensa e para que serve, o Python, linguagem de programação, e a IA propriamente dita, sendo que “muito do que é feitio da IA é feito com base em Python”, explicou.
A aula, no entanto, não era uma preleção qualquer. Escondia um propósito.
“Juntámos quase duas mil pessoas e tinha como objetivo principal entrar no Guinness como a maior aula de programação do mundo. E foi conseguido”, referiu ao SAPO24, Rogério Colaço, presidente do Instituto Superior Técnico (IST), instituição que, em parceria com a Magma Studio, consultora de gestão de talento, e o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Unicorn Factory Lisboa, criou 0 evento para memória futura.
“Se não fosse o Guinness, também seria a maior aula de sempre do Instituto Superior Técnico. Desde 1911”, sorriu.
Mas outros objetivos zurziam no pensamento do presidente do IST. “Tinha também como objetivo divulgar esta área do conhecimento, área absolutamente fundamental neste momento do mundo em que vivemos”, continuou.
Altura de Rogério Colaço pegar na bandeira da literacia tecnológica e dissertar. “Vivemos num mundo em rápida aceleração tecnológica. Por exemplo, se olharmos para as invenções e as descobertas, nomeadamente nesta área, nos últimos 10 anos, superam aquilo que foi feito nos últimos 50 anos”, recordou.
“E como tal, para vivermos neste mundo, e conseguirmos tirar partido dele e sermos úteis, é absolutamente indispensável termos alguma literacia tecnológica para perceber aquilo que está à nossa volta”, avisou em conversa com o SAPO24.
Justifica a necessidade. “Porque há aqui uma questão não só de risco, como uma questão de funcionalidade social. Ou seja, as pessoas precisam de literacia tecnológica e científica para perceberem as mudanças que vão acontecendo de forma muito rápida no mundo em que vivemos”, reforçou.
Aprender os códigos do Sudoku numa manhã
Mariana, bolseira de investigação na área de biotecnologia virada para a bioquímica, foi um dos “1.868 alunos; mais do dobro do anterior número registado” — escutou-se instantes antes do anúncio oficial do Guinness World Records em relação número de alunos que responderam ao desafio para criar a maior aula de programação, no TIC. O local foi outrora porto de abrigo dos elétricos da Carris (até 1996), local de paragem de autocarros da Rede de Expressos e parque de estacionamento.
“Aprendi as bases do código, aplicação nas áreas praticas”, contou a bolseira. “Sou de biologia e química, o IA (Inteligência Artificial) aplica-se nas moléculas e quero continuar a perceber como se aplica na minha área, porque será uma aposta” — continuou. “Definitivamente, não foi manhã de sábado perdida”, resumiu.
Elizandro, aluno do segundo ano de mestrado no IST, foi mais longe. “Aprendi a programar em Python, do mais básico ao mais avançado” — sumarizou.
“Aprendemos que desde criança a nossa vida faz parte da programação, são códigos, por exemplo, ao acordar e querer executar uma tarefa somos ensinados a isso, é um algoritmo” — comparou.
“Ao fazer um bolo, temos um algoritmo, que é as receitas e temos de transformá-lo em código”, frisou antes de relevar o que realmente retirou da maior aula de programação do mundo.
“Resolvemos o jogo do Sudoku usando a programação e com 60 linhas de código temos tudo na cabeça”, explicou. Questionado sobre se a chave do Euromilhões poderia sair de uma próxima aula, soltou uma gargalhada. “É isso mesmo”.
Escolher entre jogar no Real Madrid ou no Real Massamá
“Portugal está a crescer de forma expressiva na captação investimento estrangeiro”, assinalou Miguel Gonçalves, CEO da Magma Studio, de cuja cabeça nasceu a semente “há um ano” para esta aula para recorde no TIC.
“Nos últimos cinco anos foram abertos centros de investigação. Por inerência, a nossa expetativa era, por um lado, criar um programa que projetasse e suportasse essa dimensão nos mercados internacionais sobre o papel que podemos ter no desenvolvimento da tecnologia.” Ao mesmo tempo procuravam “sensibilizar a população para a importância das competências de programação e digitais junto dos jovens e da economia no mercado de trabalho”.
Os rápidos avanços tecnológicos são recebidos com cautela por parte do CEO da Magma Studio: “Ainda estamos a ver até onde a tecnologia vai, mas sobretudo no território do IA, o ritmo a que a tecnologia está a ser produzida é incomparavelmente maior do ritmo a que conseguimos adaptar a ela”.
“Mas, em todo o caso, estes miúdos vão entrar num mercado de trabalho muito sensível a estas competências digitais”, sublinhou Miguel Gonçalves, para quem “há uma correlação diretamente proporcional no quão forte são essas competências pessoais neste território e o seu capital de crescimento”, expôs.
“Daí a escolha que devem fazer se querem jogar no Real Madrid ou no Real Massamá”, gracejou.
Universidades na liderança da adaptação à Inteligência Artificial
“As universidades têm a obrigação de liderar o processo de adaptação a esta nova realidade tecnológica que é a Inteligência Artificial”, adiantou à margem do evento, Rogério Colaço, presidente do Instituto Superior Técnico.
“Isso é a primeira nota. Depois, a segunda nota, e ficou patente de um sumário em parte da aula do professor Arlindo Oliveira, é que não há que ter medo da Inteligência Artificial”, comunicou.
“A Inteligência Artificial é programação avançada. São máquinas que emulam a linguagem e o receio da Inteligência Artificial não é uma coisa que me pareça de grande preocupação”, disparou.
Recua e pronuncia-se sobre como as universidades se devem posicionar neste novo mundo aberto pela IA. “A preparação do ensino e da formação perante esta nova realidade ainda está a dar os seus primeiros passos”.
Reconheceu que o IA “é um instrumento poderoso” que “cria e emula respostas de forma rápida”, pelo que terá de haver “um cuidado especial na formação dos estudantes”, alertou Rogério Colaço, referindo-se ao “recurso fácil a essa ferramenta, sem ser em condições controladas”, aludiu.
Por isso, considerou que “o ensino e a formação têm de ser sempre em condições controladas, já era assim antes e agora tem de continuar a ser”.
“Com a Inteligência Artificial pode haver o risco de, efetivamente, de se perder uma componente da formação, nomeadamente em tecnologia, que é uma formação que exige treino das pessoas”, antecipou.
“(IA) trará muito mais benefícios do que prejuízo”
O pessimismo não tolda, no entanto, a visão de Rogério Colaço. O responsável do IST considera, por um lado, que a ferramenta permite ter uma “eficiência formativa mais eficaz. Os professores e os estudantes têm acesso mais rápido à informação estruturada”.
Por outro lado, “em termos de avaliação e criação de competências, a IA exige um ensino de maior proximidade entre o estudante e o professor”, notificou. “Naturalmente, essa adaptação leva algum tempo a fazer”.
Questionado sobre se a IA andará mais depressa que as próprias faculdades, foi claro. “Devo dizer que se me tivesse feito essa pergunta há quatro anos, diria que sim. Depois da covid, digo que não”, comparou.
“A minha experiência como gestor universitário é que, de facto, temos uma enorme capacidade de resposta rápida. Na covid tudo mudou em três semanas. Começámos a ensinar à distância e as coisas acabaram por funcionar”, recordou.
“Portanto, neste momento, acho que o sistema se vai adaptar, acho que é uma ferramenta que trará muito mais benefícios do que prejuízo, digamos assim, mas é preciso mudar algumas coisas no sistema de ensino”, antecipou.
Quais? “Nomeadamente a proximidade, o trabalho e a formação baseada em projetos reais, que é uma coisa que nós tentamos amplificar no Instituto Superior Técnico para evitar, digamos, a muleta fácil de ir à Inteligência Artificial e encontrar respostas”, comentou, antes de emergir, juntamente com os alunos, no networking com as empresas presentes, a Ana Aeroportos de Portugal, Axians, Deloitte, Galp, Millennium BCP, NOS, NTT Data, Vodafone e Worten.
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