Nasceram e cresceram rodeados de tecnologia mas afinal a maioria dos jovens de 13 e 14 anos, conhecidos como “nativos digitais”, não tem assim tanta habilidade a usar as tecnologias de informação, revela um estudo internacional que testou os conhecimentos de mais de 46 mil estudantes de 12 países e dois sistemas educativos.
Entre estes alunos, estão cerca de três mil estudantes de 215 escolas portuguesas que também participaram na 2.º edição do Internacional Computer and Information Literacy (ICILS) que avaliou duas áreas: Literacia em Computadores e Informação (CIL) e Pensamento Computacional (CT).
Resultado: Só 1% dos jovens portugueses conseguiu selecionar a informação mais relevante e foi capaz de avaliar a utilidade e fiabilidade da informação para criar produtos de informação. Dos 46 mil alunos, apenas 2% demonstrou ter capacidade para aceder de forma critica a informação ‘online’.
No relatório hoje divulgado, os investigadores questionam até que ponto estarão os jovens preparados para estudar, trabalhar e viver num mundo digital. Em Portugal, por exemplo, só 20% dos alunos portugueses mostrou ser capaz de trabalhar de forma independente com computadores.
Quase metade conseguiu executar apenas “tarefas elementares e explicitas” de recolha e gestão de informação: 46% dos jovens portugueses ainda “precisam de ajuda” na altura de usar computadores para investigar, criar ou comunicar.
Olhando para todos os estudantes que fizeram os testes, 18% ficaram abaixo do nível um, ou seja, apenas conseguem executar alguns comandos simples. Já em Portugal, a percentagem de alunos com conhecimentos tão baixos é de 7%.
No total, um em cada quatro (25% de todos os alunos e 27% dos portugueses) demonstrou ter um conhecimento funcional dos computadores enquanto ferramentas de trabalho, ficando no nível um – “básico/funcional” (a escala vai até ao nível quatro).
Perante estes resultados, os investigadores alertam para o facto de não bastar entregar equipamentos a alunos e professores e deixá-los sozinhos: É preciso ensinar a usar, defendem.
Em declarações à Lusa, o secretário de estado Adjunto e da Educação, João Costa, lembrou alguns programas que o ministério lançou nas escolas no anterior mandato, nomeadamente junto dos alunos do 1.º e 2.º ciclos, que não abrangeram os alunos que realizaram os testes do ICILS.
“Com a evolução da tecnologia, quanto mais excluído é um aluno, maior é a desigualdade no futuro”, sublinhou João Costa, reconhecendo que “ainda há um caminho a fazer” e que a sociedade digital é uma das preocupações espelhadas no programa de Governo.
Os alunos dizem que foi na escola que aprenderam a procurar informação na internet, perceber se era credível ou se era relevante para incluir num trabalho. Mais uma vez, os números nacionais não diferem muito da média dos restantes países.
Além dos portugueses, participaram no estudo a Dinamarca, Finlândia, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo, Moscovo, Cazaquistão, Coreia do Sul, Estados Unidos da América, Chile, Uruguai e Renânia do Norte-Vestefália.
O estudo revela que a diferença entre países é mais pequena do que as diferenças dentro de cada país entre os melhores e os piores alunos. O estudo mostra também que as condições socioeconómicas dos estudantes, os anos de experiência de utilização de computadores e o acesso a computadores em casa acabam por ser determinantes nos resultados.
Através dos inquéritos foi possível perceber que os filhos de pais com formação superior obtêm melhores resultados, assim como aqueles que têm pelo menos 26 livros em casa.
Nestes casos, as diferenças são menos gritantes em Portugal do que na maioria dos países, sublinhou em declarações à Lusa Vanda Lourenço, chefe de equipa do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), organismo responsável pela aplicação do estudo nas escolas portuguesas.
O estudo mostrou ainda que os alunos usam mais as TIC fora da escola e sobretudo para atividades de lazer, tais como ouvir música, descarregar vídeos ou aceder a informação através da internet.
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