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“O nosso objetivo era criar um ecossistema de design, integrado numa só página, e torná-lo acessível a toda a gente”. Estas são palavras de Melanie Perkins, uma das fundadoras do Canva, e descrevem a ideia que hoje vale 40 mil milhões de dólares, depois de levantar uma ronda de investimento de 200 milhões de dólares.
A plataforma onde é possível, de uma forma muito fácil, editar vídeos ou stories para redes sociais, fazer cartazes, montagens com fotos de família, trabalhos para a escola, currículos para mostrar a possíveis empregadores e tantas outras criações é tão acessível no preço (grátis) como na utilização (onde até os mais leigos fazem boa figura na hora de preparar um conteúdo visual). A simplicidade foi o segredo para o sucesso da startup que:
- Segundo a Forbes, já é uma das mais valiosas do mundo.
É a mais valiosa criada por uma mulher.
Tem duplicado a receita todos os anos e espera-se que em 2021 ultrapasse os mil milhões de dólares.
Para percebermos como é que o Canva chegou até aqui, temos de recuar quinze anos e contar uma história que envolve um casal de estudantes universitários australiano, os famosos yearbooks de secundário, a complexidade dos sistemas operativos de gigantes tecnológicas, o Google Maps e o desporto kitesurf. Prometemos que, no final, vai tudo fazer sentido.
Era uma vez na Austrália…
…um casal de estudantes em Perth, uma cidade na costa oeste australiana, bem longe de Silicon Valley. À época, 2006, a protagonista da nossa história, Melanie Perkins, tinha apenas 19 anos, mas estava prestes a ter a ideia de criar uma empresa com ferramentas semelhantes às da Adobe ou da Microsoft, mas com uma utilização muito mais simples para todos aqueles que não tinham formação em multimédia.
Perkins e o namorado, Cliff Obrecht (também co-fundador do Canva), ganhavam dinheiro a ensinar outros alunos a desenhar programas informáticos. Contudo, os estudantes achavam muito difícil fazê-lo com as ferramentas disponibilizadas pelas big tech clássicas, que, regra geral, pecavam por ser demasiado complexas para o utilizador comum. E onde há uma falha de mercado já se sabe que há uma oportunidade de negócio.
O Yearbook do secundário
Não é algo tão comum em Portugal, mas nos países anglo-saxónicos é tradição fazer um livro, no final de cada ano letivo, com as fotos dos alunos finalistas e de momentos que marcaram esse mesmo ano. A este compêndio de memórias, que já vimos nos filmes, chamamos yearbook e foi por aqui que começou o negócio de Melanie e Cliff, com uma empresa chamada Fusion Books, focada no design destes produtos.
A jovem equipa lançou um website onde os estudantes colaboravam, desenhando os seus perfis. Depois, era tudo impresso e compilado em livros distribuídos por escolas secundárias de toda a Austrália. Este projeto piloto serviu para começar a tentar seduzir algumas capitais de risco, que poderiam fazer a plataforma dar o salto.
Na crista da onda
Em 2010, Perkins já tinha ouvido mais de 100 “nãos” da boca de possíveis investidores. No entanto, encontrou-se, em Silicon Valley, com Bill Tai, um investidor americano, que a convidou a ir a São Francisco fazer o pitch da sua ideia. A apresentação foi um sucesso e o investidor estabeleceu alguns contactos entre os criadores daquilo que eram os primórdios do Canvas e algumas pessoas que podiam ajudar no processo de expansão do negócio.
No meio de tudo isto, Melanie Perkins teve de aprender um novo hobby - o kitesurf - dado que Tai promovia convívios entre vários membros de venture capital que praticavam este desporto marítimo. E Perkins foi corajosa o suficiente para se aventurar, não só na prancha, mas também naquele que seria o ponto de encontro onde seriam ouvidas as suas ideias inovadoras. A empresa não recebeu financiamento imediatamente, no entanto tornou-se uma presença regular no ecossistema das capitais de risco e conheceu, num desses encontros em Silicon Valley, o criador do Google Maps, Lars Rasmussen.
Mapas que dão rumo
Foi com a ajuda de Rasmussen, que se tornou uma espécie de mentor para estes empreendedores, que, em 2012, o casal encontrou duas pessoas que poderiam ser uma mais-valia para o desenvolvimento tecnológico do projeto: Cameron Adams e Dave Hearnden. Formou-se assim a equipa ideal para o lançamento de um negócio mais robusto.
Meses depois, já com Canva como nome e o conceito que hoje conhecemos, a startup recebeu uma ronda de 1,5 milhões de dólares de investimento e o governo da Austrália colocou em cima da mesa uma quantia no mesmo valor (para impedir que a empresa “fugisse” do país). Por esta altura, o site já tinha uma boa quantidade de subscritores em regime gratuito e planos de adesão para empresas. Este sucesso deveu-se essencialmente:
Ao timing, numa altura em que muitas empresas começaram a usar as redes sociais para chegar aos consumidores.
Ao preço, já que é possível produzir trabalhos de qualidade a custo zero na plataforma.
À simplicidade, uma vez que qualquer pessoa, com o mínimo conhecimento informático, podia criar algo no Canva.
Atualmente, a plataforma:
É usada para criar cerca de 120 peças de design a cada segundo.
Tem cerca de 60 milhões de utilizadores mensais em 190 países.
Fornece serviços pagos a 500 mil empresas, entre as quais 85% das empresas do Fortune 500, segundo declarações do próprio Canva, em 2019.
Para já, o Canva não tem planos de realizar uma IPO. Mas fica a pergunta no ar: para quando um lugar em Wall Street?
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