Quem espera sempre alcança, e a Google não é exceção. Depois de uma primeira tentativa, sem sucesso, a empresa anunciou na passada terça-feira o maior acordo de aquisição da sua história, ao divulgar que chegou a um entendimento para comprar a startup Wiz por 32 mil milhões de dólares (cerca de 29,5 mil milhões de euros). Esta operação pretende impulsionar o segmento de cloud computing, onde a empresa ainda se encontra atrás dos principais concorrentes.

A negociação representa mais do dobro do valor da segunda maior aquisição da Google – a Motorola Mobility, adquirida em 2012 por 12,5 mil milhões de dólares. Também se torna o maior negócio do ano até ao momento no setor tecnológico, segundo a Morning Brew.

Estas são as maiores compras da Google:

  • Wiz (2025): 32 mil milhões de dólares;
  • Motorola (2012): 12.5 mil milhões de dólares:
  • Mandiant (2022): 5.4 mil milhões de dólares;
  • Nest Labs (2014): 3.2 mil milhões de dólares;
  • DoubleClick (2007): 3.1 mil milhões de dólares;
  • Looker (2019): 2.6 mil milhões de dólares;
  • Fitbit (2021): 2.1 mil milhões de dólares;
  • YouTube (2006): 1.6 mil milhões de dólares.

Um segundo acordo após recusa inicial

Este acordo surge depois de uma tentativa frustrada em 2024, quando a Google ofereceu 23 mil milhões de dólares pela Wiz. Na altura, a startup rejeitou a proposta, optando por manter a sua independência com vista a uma potencial entrada em bolsa.

Numa mensagem aos funcionários obtida pela CNBC quando rejeitou a oferta inicial, o CEO da Wiz, Assaf Rappaport, escreveu: “Dizer não a ofertas tão impressionantes é difícil”. A empresa queria então focar-se em dois objetivos: realizar uma Oferta Pública Inicial (IPO) e atingir os mil milhões de dólares em receitas anuais recorrentes.

Além da preferência pela independência, fontes próximas da empresa indicaram à CNBC que a Wiz receava um prolongado processo de aprovação regulatória, num contexto em que as autoridades de concorrência nos EUA e Europa intensificavam o escrutínio às grandes empresas tecnológicas.

Startup descolou a todo o gás

Fundada em 2020, a Wiz desenvolveu-se como uma das startups com crescimento mais rápido da história. O negócio da empresa é comercializar ferramentas de segurança que protegem informações armazenadas na cloud e trabalha com grandes empresas do setor, incluindo a própria Google e os seus concorrentes diretos, Amazon e Microsoft. Na verdade, metade das empresas que fazem parte da lista Fortune 100 usam os serviços da Wiz, segundo indica a startup.

De acordo com a Bloomberg, a Wiz foi avaliada em 12 mil milhões de dólares numa ronda de financiamento em maio de 2024. Segundo dados da Pitchbook, a startup israelita precisou de cerca de três anos para atingir uma avaliação de 10 mil milhões de dólares – tornando-se a empresa tecnológica a fazê-lo em menos tempo. Para comparação, a Uber, o Facebook e o antigo Twitter demoraram todos mais de 5 anos.

“O multicloud é algo que os nossos clientes desejam”

Esta aquisição representa um movimento estratégico para fortalecer a posição da Google no mercado de cloud computing. Atualmente, a Google Cloud detém 12% do mercado global, atrás da Microsoft Azure com 21% e da Amazon Web Services (AWS) que lidera com quase um terço do mercado, de acordo com dados da Statista citados pelo TechCrunch.

Ainda segundo o site de notícias, Thomas Kurian, CEO da Google Cloud, reforçou durante uma chamada com investidores a importância da capacidade multicloud (quando uma empresa utiliza serviços de cloud de vários fornecedores) da Wiz. “O multicloud é algo que os nossos clientes desejam”, afirmou. “O nosso compromisso com o multicloud significa que novos projetos de TI que uma organização realiza com a Google Cloud podem funcionar com os seus investimentos existentes em TI, e permite-lhes escolher diferentes fornecedores para produtos no futuro.”

A Google confirmou que os produtos da Wiz continuarão disponíveis para os seus concorrentes. Este detalhe é significativo para apaziguar eventuais preocupações regulatórias, além de assegurar a retenção da base de clientes da Wiz, que inclui grandes empresas como Morgan Stanley, BMW, LVMH e outras que podem nem utilizar os serviços da Google Cloud.

Potenciais obstáculos regulatórios

Apesar das expectativas de um ambiente regulatório mais permissivo sob a administração Trump, a aquisição ainda enfrenta incertezas. Recentemente, o Departamento de Justiça dos EUA trouxe de volta uma proposta da era Biden que obrigaria a Google a separar-se do navegador Chrome (e possivelmente também do Android) devido às preocupações sobre um possível monopólio.

Porque é que isto importa? Em antecipação a possíveis obstáculos regulatórios, a Alphabet concordou em pagar à Wiz 3,2 mil milhões de dólares, o equivalente a 10% do valor da compra, caso o acordo seja bloqueado – uma das maiores “taxas de cancelamento” na história do M&A, diz a Reuters.

A empresa espera que o negócio seja concluído em 2026, sujeito às aprovações regulatórias necessárias.

Mercado reagiu negativamente, porquê?

O anúncio do acordo provocou uma queda de 4% nas ações da empresa-mãe Alphabet. A dona da Google encerrou o ano fiscal com 96 mil milhões de dólares em caixa, o que significa que a aquisição da Wiz consumirá aproximadamente um terço deste valor.

Mais: há outro detalhe que salta à vista e que levantou algumas questões sobre uma possível sobrevalorização deste negócio. Escreve a Morning Brew que a Wiz pretende duplicar a sua receita para mil milhões de dólares este ano, o que significa que a Alphabet vai pagar 30 vezes a receita anual pela startup — um valor substancialmente superior ao múltiplo de 10 vezes pelo qual as empresas de software são tipicamente vendidas.

A Reuters escreve que as conversações entre as duas empresas continuaram mesmo após a rejeição inicial da Wiz no ano passado, com o CEO da Google Cloud, Thomas Kurian, a manter o seu interesse na empresa. As negociações aceleraram nos últimos dois meses, após o regresso de Donald Trump à Casa Branca.

À agência, Dave Wagner, da norte-americana Aptus Capital Advisors, comenta que “provavelmente haverá um microscópio sobre o negócio por parte dos investidores, dado o histórico medíocre da Google com o seu plano de alocação de capital, especificamente em fusões e aquisições.”

Olhos postos na cibersegurança israelita

Esta aquisição destaca-se também como um dos maiores negócios a envolver uma startup israelita desde que a Intel comprou a Mobileye, uma empresa de sistemas de assistência à condução, por 15,3 mil milhões de dólares em 2017.

A equipa fundadora da Wiz, composta por Assaf Rappaport, Yinon Costica, Roy Reznik e Ami Luttwak, já tinha experiência prévia em aquisições por gigantes tecnológicas. O grupo fundou anteriormente a Adallom, também dedicada à segurança, que foi adquirida pela Microsoft em 2015 por 320 milhões de dólares.

Mas há mais empresas de segurança baseadas em Israel ou fundadas por israelitas que têm sido adquiridas por gigantes de Silicon Valley, incluindo a Siemplify, comprada pela Alphabet em 2022, e a Own, adquirida pela Salesforce em 2024.

O interesse crescente no setor de cibersegurança intensificou-se desde o apagão global da CrowdStrike no ano passado, que afetou operações em diversos setores e levou as empresas a investirem mais na proteção dos seus domínios online.

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