Apresentar a sua ideia ou negócio de forma concisa e interessante, de maneira a atrair investidores ou potenciais clientes. O pitch tem toda uma ciência e o termo é hoje indissociável do mundo das startups, e é global, como bem dita o ecossistema.

Todavia, em França o uso da expressão pitch deixou de ser "pão com manteiga" e passou a ser... pão com chocolate, o que neste caso significa um verdadeiro imbróglio jurídico.

Um dos maiores produtores franceses de sobremesas, o grupo Brioche Pasquier, utiliza a palavra “Pitch” para denominar um dos seus produtos mais conhecidos, os brioches de chocolate.

No site oficial, a marca revela que a ideia do produto pitch é fruto de um episódio com os filhos de Pasquier. “Os seus filhos levavam pães de leite para o lanche quando estavam a praticar desporto fora de casa. Para tornar o lanche mais saboroso, colocavam uma barra de chocolate dentro de cada pão. Isto deu a ideia ao pai [Pasquier] de fazer brioches com recheio de chocolate”.

E a Brioche Pasquier leva muito a sério a sua marca. "Não estamos a banir a utilização do termo pitch no discurso diário, mas a proteger os direitos da nossa marca Pitch quando outras empresas registam o termo para fins comerciais. O empreendedorismo corre-nos nas veias. Apoiamos o empreendedorismo e continuaremos a apoiá-lo no respeito dos direitos de todos", diz a marca numa publicação de Twitter onde partilha a sua posição naquele que é já conhecido como o caso "Pitch Gate".

Segundo o jornal Le Figaro, pelo menos seis empresas francesas receberam cartas da firma especializada em propriedade industrial do grupo Pasquier a pedir que abandonem a utilização do nome do seu produto, sob pena de ação penal.

A empresa responsável por organizar Pitch Parties anunciou o fim dos seus eventos. Frederic Bascuñana considera que estando “privada do termo, a atividade já não tem razão de ser”.

Já os organizadores da "Escola dos pitchs" decidiram continuar a lutar. “Seria suicídio desistir do nosso nome”, acrescenta Lorenzo Croati.

Os empresários que receberam as cartas estão a tentar negociar uma “coexistência pacífica” com a Pasquier, mas assumem que se trata de uma atitude exagerada por parte da empresa de produtos alimentares.

O facto é que a adoção da palavra é tudo menos pacífica em França — com ou sem brioches à mistura.

A sua utilização foi muito criticada pelos defensores da língua francesa, nomeadamente pela Académie Française. Há 5 anos, a academia já tinha sublinhado que não era necessário utilizar a palavra “pitch”, uma vez que esta poderia ser substituída por palavras francesas. “Porquê correr o risco de diminuir a riqueza e precisão do nosso vocabulário?”, questiona a academia.

Depois da pergunta, segue-se a explicação: se for “pitching” no mundo do cinema, refere-se a um guião, podendo esta palavra ser substituída por: “idée, résumé, argument, canevas. Se se tratar da apresentação de uma ideia, “pitch” pode ser substituído por présentation, argumentaire, démonstration.

Ainda assim, o termo popularizou-se no ecossistema empreendedor.

O jornal Le Figaro alerta inclusivamente para o facto de se ter tornado difícil controlar o rasto da palavra pitch, uma vez que tem existido uma crescente utilização de anglicismos na língua francesa.

“Para além dos pães-de-leite com chocolate, a palavra pitch já faz parte das nossas conversas”. “Eu não tenho tempo para ler este livro. Fazes-me um pitch?”, exemplifica o jornal.


The Next Big Idea é um site de inovação e empreendedorismo, com a mais completa base de dados de startups e incubadoras do país. Aqui encontra as histórias e os protagonistas que contam como estamos a mudar o presente e a inventar o que vai ser o futuro.