Criado no âmbito do Plano Municipal de Competências Digitais da autarquia do distrito do Porto, o projeto tem a singularidade de reunir jovens e idosos em torno do mesmo objetivo, a aquisição de competências básicas digitais em tecnologias da informação e comunicação.
Tendo a maioria dos utentes das instituições de solidariedade social locais mais de 70 anos e os jovens mentores entre 16 e 30 anos, é nos momentos livres dos segundos que, uma vez por semana, o encontro acontece, em sessões de cerca de 90 minutos, prolongando-se as oficinas até perfazer 24 horas.
Ângela Pereira, coordenadora do projeto, explicou à agência Lusa que o projeto "está no terreno desde julho de 2018, já chegou a cerca 30 pessoas com mais de 70 anos e vai estender-se até ao final de 2020", decorrendo atualmente no São Tiago - Associação de Solidariedade Social de Areias.
Falando sobre uma "seleção feita a partir de quem mostra interesse", a responsável referiu que "há sempre um regresso", pois a "maior parte dos utentes não tem capacidade para adquirir os equipamentos e, pelo menos neste período, mantêm o contacto com a tecnologia".
Estudante do Ensino Superior, Bárbara Machado é uma das mentoras do projeto, tendo salientado o processo "dinâmico em que "cada idoso é diferente" e obriga a "adaptar", fruto de uma curiosidade que começa por estar centrada "mais no mentor e menos no que têm à frente" e que obriga a que se tenha de "puxar o interesse deles para o computador".
Sobre o lado prático da aprendizagem, a mentora disse saber que "há idosos que já compraram computador" e a quem estão "a ajudar a trabalhar" neles.
"Para eles é uma barreira não ter ‘tablets' em casa, mas alguns admitem, no Natal, pedir aos filhos que lhes comprem um para si", acrescentou.
Sentada numa mesa com mais três utentes e diante de quatro ‘tablets', Maria Helena, de 79 anos, "está a conhecer as primeiras letras", não escondendo o entusiasmo pelo facto.
"Está a ser espetacular. Até aqui punha o dedo [numa alusão à utilização da impressão digital para atestar a identidade]. Agora, à custa desta menina, já assino o meu nome", disse, de sorriso, à Lusa.
Questionada sobre se está disponível para continuar a aprender, expressou-o da forma mais generosa que encontrou: "que a vontade da menina [mentora] seja feita".
Quatro anos mais nova, Lurdes Rodrigues nunca tinha contactado com as novas tecnologias e lamenta "ser tão pouco tempo" por semana, numa distância temporal que faz com que "de uma vez para a outra, se esqueça" do que aprendeu.
A viver sozinha e "sem ajuda" que estimule a "comprar um computador", manifestou, contudo, vontade de continuar a aprender a lidar com as novas tecnologias.
Em casa de Maria Marques, de 82 anos, há computadores, mas esse assunto nunca lhe chamou a atenção até a oportunidade surgir no centro de dia.
Prática, disse à Lusa que na relação com o ecrã à sua frente "não gosta de bonecos, mas muito de escrever", apontando depois para o seu nome e mais umas quantas frases ensaiadas na visita semanal da mentora.
Analfabeta, Adelina Dias, de 80 anos, aprendeu a escrever o nome copiando a partir do que os filhos lhe ensinavam e agora, perante a tecnologia, garantiu que "se tivesse gente a ensinar todos os dias aprendia".
Da sua relação com o computador, disse ser "só para ver as fotografias", apontando na imagem a casa que partilha com o filho.
O Plano Municipal de Competências Digitais, "um investimento de mais de 700 mil euros", incide sobre duas áreas: serviços da câmara e sociedade civil, estando no primeiro caso, "previstas medidas que visam a modernização e simplificação administrativa, desmaterialização de certidões e despachos, simplificação de procedimentos, criação de plataformas digitais e reforço das competências digitais dos trabalhadores do município", refere a autarquia.
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