Há seis anos, o investigador Raj Madhavan tornou-se budista e isso levou-o a aplicar "a compaixão e generosidade" inscritas nesta religião para definir a sua linha de investigação na área da robótica e automação.
"Muita da investigação hoje nas empresas e na academia é focada em propósitos comerciais. Mas o que é que o homem comum ganha com isso? É bom ter um carro que conduz sozinho, mas isso não tem significado para alguém que sofre numa aldeia. Para ele ou para ela, nada muda", disse à Lusa o especialista indiano, membro do Institute of Electrical and Electronics Engineers, nos Estados Unidos, onde lidera a iniciativa "Future Directions".
A investigação está centrada na melhoria dos padrões de vidas, de comodidades e confortos, em vez da "qualidade de vida", referiu Raj Madhavan, que participou na conferência científica do Festival Nacional de Robótica, em Coimbra, que decorre até domingo.
"A maioria do trabalho que faço é na qualidade de vida, mas a maior parte do trabalho que é feito em robótica é para melhorar o padrão de vida", salientou, considerando que é como dar um "Mercedes a quem já tem um Toyota", mas não apresentar uma solução a quem tem não tem carro algum.
E porque é que a investigação está centrada em dar Mercedes a quem tem Toyota? "Porque não há dinheiro para ganhar" no campo da qualidade de vida, notou, sublinhando que os esforços da robótica estão direcionados "para as pessoas que têm poder de compra" e não para as comunidades pobres, seja em África ou no Harlem, em Nova Iorque.
"A robótica pode fazer a diferença no alívio do sofrimento das pessoas", sublinha Raj Madhavan, que se foca na "robótica humanitária", que é "humanitária porque se preocupa em tornar as pessoas felizes, não a felicidade temporária, mas num tipo de felicidade permanente".
Neste campo, a robótica pode ajudar na agricultura, no tratamento de doentes e idosos, na ajuda a equipas de salvamento em sismos ou inundações, recorrendo até a "drones, que são usados para matar pessoas" e tornar essa tecnologia em algo "para o bem e não para o mal".
Para o fundador e diretor da empresa Humanitarian Robotics Technologies, os robôs devem também "substituir os humanos nos trabalhos repetitivos, sujos ou perigosos" e essa é também uma forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas.
No entanto, essa substituição pode levar também a uma redução de empregos disponíveis, que terá de ser acompanhada por mudanças no próprio sistema económico, nomeadamente com a criação de "um rendimento básico universal" e a criação de taxas sobre robôs, defendeu, apesar de reconhecer que os governos não têm conseguido acompanhar a rápida evolução tecnológica.
O caminho "será uma estrada com buracos, mas grande parte da população vai colher grandes benefícios", notou, realçando que se pode entrar numa nova "época do renascimento".
"As pessoas vão ter mais tempo livre para pensar, para criar e acho que coisas bonitas poderão sair de lá, como no renascimento", concluiu.
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