Pedro Teixeira tem paralisia cerebral, dislexia e alguns problemas motores e, depois de ter concluído um curso na Escola Profissional Mariana Seixas e uma licenciatura em Artes Plásticas e Multimédia na Escola Superior de Educação de Viseu, viu a sua vida mudar.

Em 04 de outubro de 2018, colocou o seu primeiro vídeo no YouTube e, um ano depois, lançou uma plataforma de informação, com o nome Tecla3 (def, nos telemóveis antigos), que no passado era usado de forma pejorativa.

“Mais do que uma incapacidade, nós temos oportunidades. Vejo muitas pessoas isoladas, porque têm limitações. Não estou a dizer que é fácil, mas nenhum ser humano deve estar em casa. O que eu tento é mostrar como é que eu fiz”, contou à agência Lusa.

Numa só semana, Pedro Teixeira passou por dois eventos que motivaram a mudança na sua vida.

O primeiro foi o ‘workshop’ “Como conseguir emprego em 30 dias”, na Feira do Emprego do Palácio do Gelo, onde conheceu Pedro Silva-Santos, hoje seu amigo, mas a quem na altura apeteceu dar um soco.

“Ele disse-me: ‘tu não deves procurar emprego, porque mesmo que consigas muito dificilmente vão agarrar em ti e vais ter uma carreira, devido às tuas limitações'”, relatou, acrescentando que foi aconselhado a criar o próprio emprego.

Dois dias depois, foi convidado para dar o seu testemunho durante uma formação e considerou a experiência tão enriquecedora que quis agradecer publicamente através do Facebook, mas a hora tardia a que chegou a casa levou-o a não pedir ajuda àqueles que habitualmente escreviam as suas publicações.

“O que me lembrei de fazer? Ligar simplesmente o portátil, a ‘webcam’, e mesmo de rajada agradecer e dizer ‘gostei muito desta noite, obrigado pelo carinho’. E publiquei, sem cortes, sem edição”, contou.

Hoje acha que fez “um vídeo horrível” em termos técnicos, mas essa experiência permitiu-lhe perceber que, em vez dos textos, para os quais precisava de ajuda, podia comunicar através dos vídeos.

Na semana seguinte, já tinha no ar o canal do YouTube, que atualmente tem cerca de 700 subscritores, e no qual Pedro Teixeira começou “a trabalhar a imagem como se fosse para um cliente”.

“Tudo isto aconteceu muito rápido”, admitiu, ainda espantado com o sucesso de alguns dos seus cerca de 80 vídeos.

Pedro Teixeira não tem conhecimentos de fisioterapia, psicologia, reabilitação ou assistência social, mas carrega em si “uma vontade enorme de pesquisa e de procurar soluções” que ajudem os deficientes.

O vídeo mais visto do canal do YouTube chama-se “Tratar de mim” e mostra Pedro Teixeira a usar um corta-unhas adaptado, que lhe facilita muito a vida porque as suas mãos tremem, e depois a ir ao barbeiro, uma vez que cortar a barba também não é uma tarefa fácil.

A boa disposição impera no canal de Pedro Teixeira, no qual mostra não só soluções, como um suporte de caneta ou um equipamento que permite mexer no rato do computador com o olhar, mas também conversas, como a que teve com o atleta paralímpico Mário Trindade na pista do Fontelo, com o título “Eu tentei, mas levei uma coça enorme”.

Os “unboxings” (abrir caixas de novos produtos que surgem no mercado) são o que mais gosta de fazer, apesar de nem sempre ser fácil obter os produtos das marcas, porque ainda é “muito pequenino e isto é tudo um negócio”.

“Muitos dos produtos que eu já mostrei no canal são devolvidos às empresas”, ou seja, apenas são enviados a título de empréstimo, contou à Lusa, enquanto tentava por a funcionar um teclado norte-americano que se encaixa nos dedos e facilita a vida a quem tem pouca mobilidade nas mãos.

Um ano depois da criação do canal do YouTube, Pedro Teixeira achou que “era preciso fazer mais” e surgiu a ideia de avançar para uma plataforma de informação, juntamente com o seu amigo Carlos Figueiredo, também portador de uma deficiência.

“Há tantas dúvidas, às vezes deparamo-nos com tanta pergunta — ‘como é que fizeste isto, como é que fizeste aquilo, como é que conseguiste isso’ – e nós decidimos interpretar os textos, reunir as informações”, contou.

Na plataforma encontram-se já informações sobre o atestado médico de incapacidade multiúsos, o Sistema de Apoio de Produtos Adaptados, a prestação social para a inclusão, as quotas de emprego e o cartão de estacionamento, todas acompanhadas por um suporte de áudio, que Pedro Teixeira considera “super importante para os invisuais e para as pessoas que não conseguem ler corretamente”.

“Desde que foi lançada (a plataforma), já tivemos 480 utilizadores. Não estávamos à espera de uma adesão tão boa, de comentários tão bons”, frisou.

No entanto, Pedro Teixeira esclareceu que se trata de uma plataforma de informação e não de ajuda.

“Nós até podemos ir à procura da informação e tentar trazer a informação às pessoas, mas, como é óbvio, há instituições governamentais, como a Segurança Social, as Finanças e o Sistema Nacional de Saúde, que são as mais indicadas para ajudar as pessoas”, explicou.