Há muito que o setor das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) quebra barreiras e cria oportunidades para a inovação humana e tecnológica. Apesar de ser conhecida como a indústria do futuro e estar na vanguarda da era digital, pode dizer-se que sofre de um desequilíbrio social e económico. O estigma mantém-se vincado; Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) são um mundo de homens. Isto torna-se claro quando, olhando para os  últimos 40 anos, se percebe que 90% das licenças relacionadas com tecnologia de informação terão sido criadas por equipas compostas maioritariamente pelo sexo masculino e apenas 2% dessas equipas incluíram mulheres.

É premente questionar o que leva mulheres a não procurarem uma carreira ou estudos que promovam oportunidades neste campo e são questões como esta que levam a que seja relevante a celebração de um dia como o de hoje, o Dia Internacional das Raparigas nas Tecnologias da Informação e Comunicação, que tem como objetivo inspirar, perceber e valorizar a importância das mulheres no setor.

Poucos saberão que 14% das mulheres entre 18 e 24 anos começaram a codificar quando tinham menos de 16 anos e que esse número tende a duplicar quando comparado com  o número de programadores com mais de 35 anos. Algumas empresas têm-se mostrado proativas para colmatar estas diferenças, criando ferramentas úteis para ajudar mulheres e adolescentes do sexo feminino na formação necessária para que tenham competências para  posições na indústria. Uma das iniciativas disponíveis é o programa SheCodes, uma formação desenhada especificamente para mulheres, também disponível em Portugal. Através deste programa, SheCodes pretende minimizar a diferença entre géneros na indústria da programação e, dessa forma, proporcionar talento qualificado tão necessário para o, cada vez mais tecnológico, mercado de trabalho.

Em Portugal, um forte incentivo para as mulheres na tecnologia vem da iniciativa Portuguese Women in Tech. Criada em 2016, tem como objetivo atrair mais talento feminino para carreiras tecnológicas e promover um ambiente mais diversificado e inclusivo na tecnologia.

Recentemente, em parceria com a Polar Insight, realizou um estudo para identificar o perfil da comunidade portuguesa nesta indústria. Os resultados são preocupantes.

O estudo revela que são muitas as mulheres que não tem conhecimento sobre o potencial e as oportunidades do campo. O silencio e falta de clareza em relação a este tema põem em risco um potencial progresso das mulheres no setor. Simultaneamente, mulheres que enveredaram por esse caminho, fizeram-no por uma paixão genuína por tecnologia, mas encontraram obstáculos como pouca representação feminina no setor e uma progressão salarial e na carreira baixas.

Outro estudo, conduzido pela GitHub, constatou que código escrito por mulheres é aceite 78,6%, o que significa que é 4% mais aceite que aqueles escritos por homens. A investigação revelou que o simples facto de identificar o género do programador altera a forma como se avalia a qualidade do trabalho e a sua eficácia. Frequentemente, o trabalho realizado por mulheres é aceite por gestores de projeto, apenas se o género de quem programa permanecer oculto.

Porquê esta necessidade de manter oculto, quando há tantas mulheres com talento a trabalhar, não só nesta indústria, e na liderança para marcar a diferença de forma positiva?

Está provado que quando liderados por mulheres os negócios podem ter um desempenho quase três vezes melhor do que aqueles com executivos do sexo masculino e o setor de tecnologia não é diferente. Afinal de contas, o primeiro computador foi inventado por uma equipa mista e terá sido graças a quatro mulheres pioneiras que programação e a informática são aquilo que hoje vemos. Ao longo da história, as mulheres desempenharam um papel fundamental na tecnologia. O primeiro programador de computadores foi uma mulher, Ada Lovelace, em 1815. Com 26 anos apenas, Ada terá inventado o “The Analytical Engine” (O mecanismo analítico). Temos também Joan Clarke, matemática na Universidade de Cambridge e a única mulher recrutada para descodificar o código Enigma. O seu papel foi instrumental na descodificação do Código Nazi, ajudando assim o Reino Unido na luta da Segunda Guerra Mundial. Isto faz dela uma das maiores descodificadoras na História e uma inspiração para outras mulheres na tecnologia.

Atualmente, podemos também encontrar duas mulheres a liderar duas das maiores companhias de Ciência, Tecnologia e Comunicação -  Facebook e IBM. Sheryl Sandberg é Chief Operation Officer (COO – Responsável pelas operações) do Facebook e Ginni Rometty é a presidente e Chef Executive Offiver (CEO – Diretora executiva) na IBM. Rometty incentiva de forma constante outras mulheres a não deixarem que alguém as defina ou aquilo que podem fazer. Nas suas palavras, crescimento e conforto nunca existem em simultâneo e esta é a altura em que as mulheres mais podem aprender.

Três em cada quatro raparigas revelam interesse em ciências da computação, particularmente por volta dos onze anos, mas, regra geral, perdem o interesse por volta dos quinze. Podemos reconhecer que os interesses duma criança possam, muitas vezes, desvanecer, mas regra geral, são recuperados mais tarde. Dados mostram que a sociedade tem apenas alguns anos para valorizar o interesse que uma rapariga possa ter pela indústria, antes que estas desistam de vez do tema. De forma a reforçar a presença de mulheres neste campo, é importante que também as escolas e educadores, tornem esta opção mais popular. Os exemplos acima referidos podem ajudar a que idealizem o seu próprio percurso no mundo tecnológico. São necessários para isso bons mentores, bons modelos a seguir e, claro, igualdade nas oportunidades de trabalho.