O nome da equipa e a bola encaixada nas ‘presas’ transportam-nos de imediato para a música de José Estebes, personagem interpretada por Herman José, de 1986, “Bámos Lá Cambada”, aquando da participação portuguesa no Campeonato do Mundo do México.

“Bamos lá cambada, todos à molhada que isto é futebol total
Deixem-se de tretas, força nas canetas que o maior é PORTUGAL
Bamos lá cambada, todos à molhada que isto é futebol total
Deixem-se de tretas, força nas canetas que o maior é PORTUGAL”

Se aqui a CAMBADA está longe de ser a turma de atletas equipados, numerados e de chuteiras nos pés - mas sim um acrónimo para "Cooperative Autonomous Mobile roBots with Advanced Distributed Architecture" -, o mesmo não se pode dizer relativamente ao futebol total. Aqui, no futebol de robôs não há jogadores melhores do que outros, todos recebem os mesmos comandos, todos são verdadeiramente iguais. E só o futebol lhe corre nos circuitos.

"O objetivo é que em 2050 haja o primeiro jogo entre humanos e robôs"

Este é um projeto que nos leva até 2003. O professor José Luis Azevedo, da Universidade de Aveiro, estava lá, naquela primeira reunião. Esteve lá quando a equipa participou no primeiro de torneio de futebol para robôs, em 2004, no Porto, promovido dentro do Festival Nacional de Robótica. E é um dos que se pode orgulhar de dizer que foi um campeão do mundo, quando em 2008, na China, em Suzhou, a CAMBADA venceu o título mundial.

Em poucos anos a equipa tornou-se numa das melhores do mundo, mas nem por isso se esqueceu das suas origens. No primeiro pavilhão do TechDays, o SAPO24 encontrou dois ‘atletas’ da equipa, um guarda-redes e um jogador de campo que passava a bola aos que passavam por ali perto. Francisco Pinto, aluno da Universidade de Aveiro, no mestrado de engenharia eletrónica e de telecomunicações, estava ao computador e foi o porta-voz das máquinas futebolísticas.

Conta-nos que faz parte da equipa e, sem grandes demoras, anuncia-nos a grande ambição do projeto ”o objetivo é que em 2050 haja o primeiro jogo entre humanos e robôs”.

créditos: Pedro Marques | MadreMedia

A ambição é gigante, mas argumentos não lhes faltam. Um título Mundial em 2008, um segundo lugar na RoboCup da liga MSL (Middle-Size League) em 2018, em Montreal, no Canadá, e 11 títulos seguidos de campeão nacional fazem desta uma das melhores equipas de futebol de robôs do mundo.

E se todo o cenário ainda é difícil de imaginar ao leitor, é o próprio Francisco Pinto que nos guia pelas regras da modalidades: “são 5 robôs contra 5. Quatro de campo e um guarda-redes. Os robôs, 100% autónomos, são largados no início de jogo, e o único humano que pode ter interferência no jogo é o árbitro. O árbitro costuma estar de lado, nas linhas, enquanto há outro árbitro que traduz em comandos a informação que o árbitro principal diz para os robôs. São a única interferência que existe humana. De resto, se houver alguma interferência por parte das equipas a equipa é desqualificada”, explica-nos.

“Dentro de campo os robôs não podem tocar nos adversários, se não é falta”. A 'redondinha', essa é “uma bola de futebol normal, tamanho 5 da FIFA. Os robôs reconhecem-na. E para isso só temos de garantir uma característica: tem de ter uma cor predominante em relação ao chão e aos robôs. Os robôs são pretos, aqui, por exemplo, temos uma bola laranja. Normalmente usamos bola amarela ou laranja, que são cores fortes que se consegue detetar facilmente com o sistema de visão do robô. No que toca à visão é ainda importante dizer que os robôs não só reconhecem os colegas e adversários de equipa, como a baliza onde têm de fazer golo, mesmo não tendo esta qualquer tipo de sensor que lhes indique isso. Aliás, têm uma característica interessante. Se uma equipa estiver a atacar, mas se a jogada entretanto mudar o próprio robô consegue-se adaptar e ser defesa”. “Eles falam entre eles e fazem a tática”, sorri Francisco.

Mais, os campeonatos da RoboCup MSL disputam-se num país previamente escolhido, e a liga é composta, atualmente, por 12 equipas ativas das mais diversas nacionalidades, da China à Holanda, da Alemanha ao Irão.

créditos: Pedro Marques | MadreMedia

Cada vez que a CAMBADA se desloca lá fora para um campeonato faz-se acompanhar de entre cinco a seis pessoas. “Há equipas que levam muito mais gente para compor o balneário. Massagistas, preparadores técnicos, etc..”, brinca. “Os jogos são de meia-hora, quinze minutos cada parte. Com 15 minutos de intervalo. É a única altura em que se uma equipa quiser mudar no robô pode mexer nos robôs. De resto são 100% autónomos”.

Há mais de uma década senhores de Portugal

Desde que no Robotica 2007, em Paderne, quando a CAMBADA ergueu o seu primeiro título nacional, que a equipa de futebol de robôs da Universidade de Aveiro tomou o gosto à vitória. Venceram 11 campeonatos consecutivos e ‘secaram’ a competição que existia à volta deles. Conta-nos o professor José Luis Azevedo que “antes havia cinco equipas” mas que “agora há duas ativas, nós e a FEUP. Antigamente o Minho, o Técnico e ISEP também tinham”.

Se pensarmos que desde 1997 que existe uma Federação dedicada à modalidade, não parece assim tão distante esse ano de 2050 em que uma máquina vai tentar fintar um ser humano.

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