Esta espécie de orquestra tem na tecnologia um poderoso aliado nos nossos dias. Um aliado que permite convergir numa mesma plataforma os dados gerados nas diferentes áreas de gestão da cidade que assim podem ser monitorizados por entidades gestoras, como sejam as câmaras municipais, ou outras.

Aveiro foi a cidade piloto escolhida para implementar a Plataforma Urbana desenvolvida pela Altice Labs. Trata-se de um novo conceito urbano assente numa infraestrutura tecnológica centrada numa plataforma de dados da cidade e na rede 5G e que se posiciona como uma peça central agregadora de toda a informação do ecossistema que envolve o município, a universidade, as empresas e os cidadãos e um elemento catalisador para novos negócios e oportunidades.

“A Plataforma Urbana vai recolher informação em variados formatos, de variadas fontes de um conjunto de stakeholders do projeto e da cidade. Não está limitada à informação fornecida pela Câmara Municipal, tem informação dos outros parceiros como a Universidade de Aveiro, o operador do transporte dos resíduos sólidos, que é a VEOLIA aqui em Aveiro, a informação da EDP Distribuição relativamente aos consumos energéticos da iluminação pública e da distribuição de baixa tensão normal, no conselho, informação que preserva os critérios de confidencialidade, nomeadamente quando há menos de 25 CPEs (Código de Ponto de Entrega) por posto de transformação”, explica João Bastos, da Altice Labs.

Mas há mais. A estas entidades, acrescem ainda os dados referentes às três redes wi-fi operadas pelo município, a informação do use case de mobilidade que é da responsabilidade do Instituto de Telecomunicações com informação relativa ao número e tipo de veículos em determinados pontos da cidade. Também a informação – “mais trabalhada, a que está mais completa”, que é a de recolha de dados ambientais da cidade, um use case, liderado pela Universidade de Aveiro, pelo Departamento de Ambiente e Ordenamento.

O conceito das plataformas de gestão urbana como a que foi desenvolvida pela Altice Labs prevê utilizações além das mais óbvias que são as do serviço à comunidade através da utilização via câmaras municipais. “Pode ser usada ou por projetos de investigação ou por empresas, pelas próprias PMEs que irão aceder à informação para desenvolver soluções baseadas naquilo que lá está. Por exemplo, os dados de mobilidade que estão lá colocados que podem ser cruzados com outro tipo de informação”.

Os dados recolhidos e partilhados neste repositório servem também, por exemplo, para testar novos algoritmos que poderão dar origem a aplicações que podem ir desde utilização na Proteção Civil à otimização de rotas de transportes públicos.

Atualmente, a Plataforma Urbana da Altice Labs já está a ser também usada em dois projetos na área dos portos e navegação e noutros dois na área do agritech.

O objetivo da plataforma, em termos práticos, é poder tomar decisões mais informadas”, afirma João Bastos. “Por exemplo, se o presidente da Câmara Municipal de Aveiro quiser tomar uma decisão de aprovação de um evento, pode perceber que por cada evento que ele autoriza, a queima das fitas ou o enterro do ano, isso gera quase 20 toneladas de latas de cerveja e perceber se isso vai ter impacto no contrato com a VEOLIA porque pode exceder a tonelagem contratada, por hipótese. No fundo estou a construir uma base que permite tomar decisões mais bem informadas”.

Com dados tão diversificados, uma das questões que se colocam é sobre a gestão desta informação, nomeadamente ao abrigo da legislação de proteção de dados. Qual o modelo de governance e como se assegura o cumprimento das regras?

Nós não somos os donos dos dados, nós somos o guardião tecnológico da informação. É evidente que temos responsabilidades e teremos de as salvaguardar por contratos. A Plataforma de Aveiro vai ter múltiplos tenants; não é a Câmara que é dona da plataforma, a Câmara tem um tenant, como a Universidade terá outro, o Instituto de Telecomunicações terá outro, e gerem a informação que colocam. A plataforma pretende ser um potenciador, um facilitador da criação de serviços digitais e o que temos é uma ferramenta que permite agregar informação, organizá-la, trabalhá-la segundo os algoritmos, portanto, permite analisar a informação mas isso é responsabilidade de quem vai fazer um trabalho sobre os dados. E depois aplicá-los, pode ser para testar uma aplicação para um cliente final, para um cidadão, um turista (e pode ser para avaliar tecnologia”.

A Plataforma Urbana insere-se, do lado da Altice, num ecossistema maior que é uma infraestrutura com conectividade 5G, com fibra ótica, com sensores. É aqui que estão os alicerces de serviços que se podem traduzir no dia a dia de quem vive ou visita a cidade. Como, por exemplo, o acesso a informação sobre a qualidade do ar ou o ruído. Em termos conceptuais, esse tipo de notificações deverá ser produzido pelas aplicações-cliente. Nós criamos os mecanismos e fornecemos as ferramentas que permitem fazer esse tipo de coisas. No caso, por exemplo, da qualidade do ar, é o tipo de indicador que requer uma coisa muito simples: os dados dizem respeito à hora anterior, por exemplo, são 17.54h e os dados da qualidade do ar publicados seriam de entre as 16h e as 17h. Para a qualidade do ar influem cinco ou seis parâmetros, mas há dados que são integrações durante 8 horas. As integrações requerem conhecimento específico da área concreta, neste caso do ambiente”.

Uma das aplicações da plataforma dá pelo nome de “O centro, coração da cidade”. Qualquer pessoa, com o devido registo e conta na plataforma, pode fazer o pedido de dados e trabalhá-los de forma a criar uma aplicação que as pessoas possam ver.

Está também prevista uma outra aplicação de mobilidade, com as novas “Bugas” que são as bicicletas de utilização gratuita de Aveiro, que também vai dar informação para carregar na plataforma e depois ser analisada.

O projeto de Aveiro Steam City é financiado pelo programa europeu Urban Innovative Actions e a Plataforma Urbana desenvolvida pela Altice Labs vai ficar disponível e em funcionamento durante 5 anos, sendo que o objetivo é que continue depois disso. “Obviamente que não temos interesse nenhum em desligar. O nosso interesse é incluir, completar e melhorar funcionalidades”, remata João Bastos.

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Artigo publicado originalmente no dia 8 de fevereiro de 2022 no site do The Next Big Idea.