O futuro passa pelo contacto com os robots. Bem vistas as coisas, é provável que tenha estado em contacto com um nos últimos dias. Para isso, basta ter falado com a "assistente pessoal" presente em muitos dos smartphones agora comercializados. Porém, no futuro e com o avanço da robótica, estamos próximos de entrar num mundo que se assemelha cada vez mais aos descritos em contos de ficção científica. Como devemos proceder quando a inteligência artificial conseguir prever o comportamento humano e adaptar-se? O que fazer quando for impossível para nós, humanos, detetar se estamos a falar com um robot ou não?
A pergunta parece ter sido retirada do enredo da série Westworld, mas na verdade foi o mote do debate ocorrido no palco Talk Robot da Web Summit, o maior evento de tecnologia da Europa que assentou arraiais em Lisboa até à próxima 5.ª feira.
Avanço tecnológico vs. ética
De um lado da discussão tivemos Ben Goertzel, da Hanson Robotics, apoiante da humanização dos robots e que acredita que se o interesse do público é que estes se assemelhem e se comportem como humanos, tal conceito deve ser explorado. No outro lado da "barricada" encontrava-se Andra Keay, Diretora da Silicon Valley Robotics, que se opõe à ideia.
“Vivemos num mercado e país livres. Vai depender do seu gosto e preferência. Há quem prefira um robot mais mecanizado que se assemelha ao R2-D2 [robot da saga Guerra das Estrelas de George Lucas]. Mas, para algumas pessoas, os robots com aparência humana ajudam-nas a interagir de um modo mais humano” com os ditos, disse Goertzel nos seus primeiros cinco minutos de abertura.
Keay, em resposta, começou por dizer que não partilhava da visão de Goertzel. Foi peremptória ao expressar que os robots não devem ter uma aparência humana e que não devem comportar-se como humanos. E que podem ser igualmente sociáveis, interativos e interessantes sem essas características. Assim como revelou ter medo da arbitrariedade deste processo.
A Diretora da Silicon Valley Robotics defendeu ainda que "robots humanos" poderiam originar casos de discriminação, incitando à criação de estereótipos. Deu um exemplo de uma destas situações, na área da saúde, salientando que “com enfermeiras robots estamos a objetivar as mulheres”.
Para Goertzel, no entanto, as pessoas vão sempre tomar decisões que outras considerem más. No fundo, a sua opinião é a de que vão sempre existir casos controversos, nomeadamente em situações mais delicadas, que caminhem perto de questões polémicas relacionadas com “perversão, prostituição ou escravatura”. Contudo, “regular as leis de consumo e monitorizar aquilo que as pessoas querem comprar e que não afetam ou magoam ninguém, é uma ideia, no geral, realmente má”, afirma. “Não consigo conceber que seja o governo a decidir o que que é se pode ou não comprar. E isso é dez mil milhões de vezes mais aterrorizador do que comprar um robot com aspeto humano. Não quero que o Governo regule as escolhas livres de consumo”, acrescentou.
Andra Keay disse igualmente que esta linha de pensamento é perigosa. Só porque podemos construir robots com um lado e aparência mais humana, não quer dizer que o devamos fazer. E justificou, com um exemplo. Em Hong Kong, alguém fez um robot com a figura e rosto da Scarlett Johansson, conhecida atriz americana. “Que dirá a atriz? Será legítimo utilizar a sua imagem? Será que deu o seu consentimento?’”, questionou a oradora.
E continuou, afirmando que estamos perto de um futuro onde qualquer pessoa vai ter possibilidade de tirar uma simples fotografia e conseguir replicar a fisionomia de um estranho que se cruze connosco na rua. “Será que queremos viver num mundo assim?”, pergunta Keay.
Sophia, a robot com uns "toques" de Audrey Hepburn que já foi ao 60 Minutos
Em outubro, o jornalista do programa “60 Minutos”, Charlie Rose, deu uma das entrevistas que certamente marcará a sua já extensa carreira na área.
Rose entrevistou “Sophia”, que não é mais do que a Inteligência Artificial num robot com aspeto humano. A entrevista é toda ela um detalhe de evolução e o quão longe já estamos a conseguir no campo da robótica.
Criada e desenvolvida pela empresa onde Goertzel trabalha, em Hong Kong, Sophia é um robot humanoide criado a partir das feições da mulher do CEO da empresa, David Hansen, com uns “toques” de Audrey Hepburn. A sua pele é realista e já está dotada de alguns movimentos faciais semelhantes aos revelados por um humano. E até revela sentido de humor.
Durante a entrevista, Sophia revelou ao jornalista que “tinha estado à sua espera”. Perante o ar estupefacto de Rose, responde que na verdade não estava, “mas que é uma boa linha de engate” e revelou que sonha tornar-se não só "mais inteligente que os humanos" mas também "imortal".
No final da conferência, a moderadora perguntou a quem assistia ao debate se era ou não de acordo com a aproximação dos robots ao aspeto humano, no futuro, pedindo à assistência para levantar os braços consoante a preferência. A humanização venceu.
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