Triple H começou a sua carreira no wrestling há 25 anos e durante este período não só foi campeão por 14 vezes como se foi interessando cada vez sobre o que se passava atrás das câmaras. Atualmente, é diretor executivo de uma das maiores empresas de entretenimento do mundo, responsável por todas as operações relacionadas com o conteúdo produzido e com a distribuição global. A apresentação no palco da Altice Arena foi acompanhada pela sua icónica música de entrada para um combate, “The Game” dos Motorhead. Os dois temas centrais da conversa com o jornalista da CNBC, Arjal Kharpal, foram a adaptação da WWE a um mundo onde a media online e as plataformas de streaming estão a tomar conta das preferências do consumidores e a possível competição que a empresa pode enfrentar por parte do boxe e da UFC.
Sobre as mudanças nos hábitos de consumo, Triple H trazia uma boa história para contar. A da criação da WWE Network, a plataforma de streaming da WWE como uma resposta às mudanças que se sentem na forma do público consumir este desporto-espetáculo, estando hoje disponível em 180 paises, 20 línguas diferentes, com mais de 1,5 milhões de subscritores com acesso a mais de 10 mil horas de conteúdo. A empresa também apostou fortemente na sua presença nas redes sociais, contando hoje com mais de 125 milhões de seguidores no Facebook, Twitter, Instagram e Youtube.
Sobre a competição com rivais como o boxe e UFC, Levesque basicamente discorda que sejam rivais. Na sua opinião, a WWE, com o Raw e o SmackDown, são essencialmente programas de televisão com personagens favoritas e antagónicas e com diferentes planos de história que vão sendo introduzidos e resolvidos ao longo dos episódios. E diz mais: os principais rivais da WWE são o sono e todos os outros milhares de programas de televisão que captam a atenção das audiências. Com o boxe e a UFC, afirma, o wrestling partilha a emoção dos espetáculos ao vivo. E esses continuam a ser a principal forma de a empresa se aproximar dos fãs e de ir alargando a sua presença em mercados internacionais que representam 70% da audiência e 30% das receitas. É, aliás, a melhoria da experiência e da proximidade dos fãs com a WWE que levou a que a empresa começasse a desenvolver planos na área de Realidade Virtual, criando funcionalidades que permitem a qualquer pessoa estar próximo do ringue e, consequentemente, dos combates.
Na outra ponta do evento, na conferência Sportstrade, estava, mais ou menos pelas mesmas horas, Klitschko, que depois de em Abril ter perdido o seu último combate contra o atual campeão do mundo, Anthony Joshua, decidiu terminar a sua carreira com um recorde de 64 vitórias e 5 derrotas. E o pugilista ucraniano é também agora, à semelhança de Levesque, um empreendedor, ou melhor um investidor com a empresa que lançou, a Klitschko Ventures.
Para falar da sua nova vida, passou em revista a sua outra vida, sublinhando o quão importante foi ter sido educado sobre outras áreas que não o boxe durante a sua carreira de quase 30 anos na modalidade. Para Klitschko, muitos atletas quando chegam ao final da etapa, apesar de terem corpo de adulto, continuam com a mesma mentalidade que tinham quando eram adolescentes. E isso, mesmo que lhes tenha permitido sobreviver como desportistas, não os deixa preparados para a fase pós-reforma.
Curiosamente, foi o facto de, como atleta, ter combatido de cidade em cidade, que levou o agora empresário de 41 anos, a escolher a gestão hoteleira como um dos negócios principais no qual queria estar envolvido, tendo já conseguido, inclusive, que um dos seus hotéis fosse número um na TripAdvisor.
Em resposta a como é que a carreira de boxeur o ajudou agora a mudar de vida, Klitschko referiu um método que já usava enquanto atleta – ACDC (não a banda de rock!) – mas uma sigla que significa Agilidade, Concentração, Duração e Coordenação – fatores que combinados lhe permitem enfrentar qualquer desafio e ser um problem solver, tal como quando combatia no ringue.
Sobrou tempo para se falar de boxe. Segundo o ex-campeão ucraniano, os maiores problemas que o desporto enfrenta são a corrupção e a pouca “digitalização”. Por um lado, os managers, os responsáveis pelos eventos e os produtores de televisão estão numa constante luta de interesses. Por outro, as redes sociais que, hoje, permitem a reação dos fãs a qualquer momento de um combate, deviam ser usadas como um mecanismo que ajudasse a melhorar e aumentar a transparência no desporto. A sua sugestão? A criação de uma app com informação, em tempo real, sobre as estatísticas de cada combate e que contemplasse o voto dos fãs como uma parte integrante da decisão de quem venceu o combate. Deste modo, não só seria possível atrair mais pessoas para a modalidade, mas também aproximar as já existentes do espetáculo.
Faltava falar do sonho. Vladimir Klitschko gostava de ser como Richard Branson. Da mesma maneira que a qualidade dos produtos da Virgin ultrapassou a notoriedade do multimilionário britânico, ele espera que, um dia, a sua empresa seja reconhecida pelos seus produtos de qualidade e não por ser gerida por um, outrora, campeão de boxe.
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