Um dos comentários online à entrevista que o realizador deu na sessão de abertura da Web Summit, esta noite, em Lisboa, dizia simplesmente: “É interessante ouvir um produtor de filmes falar de tecnologia”. E foi de facto interessante, não porque a tecnologia não ande de mãos dadas com o cinema desde sempre, não porque realizadores como George Lucas ou Kubrick não tenham sido responsáveis pelo nosso imaginário do “futuro tecnológico”, mas porque Darren Aronofsky, responsável por filmes como “O Cisne Negro” é, efetivamente, um homem do cinema com uma visão própria da tecnologia, dentro e fora do grande ecrã.
Foi disso que veio falar ao placo central da Web Summit, e muito em concreto da utilização da tecnologia de realidade virtual (VR) que considera uma forma de arte ao lado do cinema e não como ferramenta apenas da 7.ª arte. “É um mundo diferente. Pode substituir os filmes, mas realidade virtual e cinema são duas formas de arte diferentes”, disse à jornalista da Wired, Lauren Goode. Porquê? Porque “quando estamos a ver um filme, relacionamo-nos, não somos passivos. Entramos no filme e seguimos os personagens numa viagem. Na realidade virtual podemos experimentar mais. Somos muito mais nós próprios, não outra pessoa”.
O estado da arte da tecnologia e a sua democraticidade é uma boa notícia para os realizadores. Permite que muitos mais possam experimentar novas formas de contar as histórias - “já não é só para realizadores como o Steven Spielberg”. Essa é a boa notícia. A má é que tanta tecnologia pode deixar produtores e realizadores deslumbrados com as possibilidades, esquecendo-se de que no grande ecrã o mais importante é a história. “Muitos dos realizadores perderam o controlo disso”, considera Darren Aronofsky.
Ainda assim, para Aronofsky, a fronteira das emoções é aquela que continua a separar as máquinas dos homens: “É muito difícil as máquinas saberem o contexto em que um ser humano está a sentir alguma coisa”. E é por isso que a história continua a ser o elemento central de um bom filme: “Vemos um filme em qualquer parte do mundo e, se for bem feito, toda a gente percebe”.
O realizador levou este ano ao festival de Veneza a sua primeira experiência imersiva, usando tecnologia de realidade virtual intitulada “Spheres”, um projeto escrito e realizado por Eliza McNitt, que Aronofsky produziu. "Spheres", uma espécie de viagem no espaço, conta com a narração de Jessica Chastain na segunda parte, sobre buracos negros, e com a participação de Patti Smith na terceira parte, sobre a origem cósmica da música.
O jornal inglês The Guardian dizia que era uma mistura de Stanley Kubrick e Carl Sagan numa narrativa construída em moldes próprios de Terrence Malick. E lançava uma nova questão: afinal, o que são estas experiências de realizadores com tecnologia,“projetos”, “instalações”, “filmes”?
No palco da Web Summit, Aronofsky falou de ciência. “Sempre que a ciência pode ajudar a construir a história é muito interessante para mim”. O filme não vai ser exibido por estes dias e por isso não podemos decidir por nós próprios o que lhe devemos chamar.
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