Kevin Bandy falou à Lusa à margem da Web Summit, evento onde foi orador na quarta-feira numa intervenção sobre a inteligência artificial.

Questionado sobre se a inteligência artificial vai substituir os humanos nos seus locais de trabalho, Kevin Bandy afastou essa ideia e considerou existirem equívocos sobre o tema.

"A tecnologia não vem para substituir o que os humanos fazem, mas sim para melhorar", afirmou.

"Não se vê a Cisco e outras empresas inovadoras a dizerem que querem tornar o trabalho autómato", mas antes que a tecnologia aplicada irá "criar mais produtividade para as pessoas", acrescentou o responsável.

"Vamos ter de redefinir o trabalho? Sim, mas isso é o que já está a acontecer, muitas indústrias já usam inteligência artificial, mas são as pessoas que estão a ensinar os robôs", apontou Kevin Bandy, acrescentando que em muitos casos as máquinas apenas fazem "mímica" daquilo que os humanos ensinam.

Trata-se mais de "uma tecnologia paralela do que de substituição", sublinhou.

Sobre se Portugal pode ter um papel na área da inteligência artificial, Kevin Bandy considerou que o país "já está" nesse caminho, apontando que tem desenvolvido "capacidades de empreendedorismo".

Uma das questões levantadas é se a indústria dos media poderá ser substituída por esta tecnologia, mas Kevin Bandy desvaloriza essa possibilidade.

"A inteligência artificial está a ter impacto em todas as indústrias", no entanto, "as pessoas continuam a confiar nas pessoas, na integridade daquilo que é publicado", continuou.

"Os media e a forma como continuam a comunicar com as pessoas irá evoluir, e tem evoluído com o Twitter, Facebook e outras redes sociais, mas é sempre o indivíduo que estará por trás", sublinhou, pelo que a inteligência artificial não irá substituir os jornalistas.

Segundo o responsável, fala-se muito de inteligência artificial, mas o conceito é mal-entendido, trazendo receios.

"Quando falamos de inteligência artificial falamos de inteligência computacional, mas a maioria das pessoas não se apercebe de que já existe e funciona", como é o caso do telemóvel "que está a ouvir tudo o que dizemos", prosseguiu.

"Sim, a inteligência artificial vai acelerar, a condução autónoma é uma combinação de inteligência artificial e da Internet das coisas [em que tudo está ligado], mas vai ser sempre controlado pelas pessoas", porque são elas que "redefinem o processo" através da aplicação de algoritmos matemáticos a dados.

O responsável da Cisco Systems para a área do digital sublinhou à Lusa que a inteligência artificial já chegou e que a sua vantagem é "melhorar o que se faz e não para substituir".

Nesta área, a Cisco está a ajudar os seus clientes a desenharem a sua própria inteligência artificial aplicada à rede.

Na opinião de Kevin Bandy, a inteligência artificial é um benefício para sociedade: "É algo que facilmente entendemos e gostamos na nossa vida pessoal, mas muitas vezes na nossa vida profissional não percebemos que já está lá".

A Web Summit, considerada a maior cimeira de tecnologias do mundo, termina hoje, contando no seu encerramento com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.