30 anos de Moda Lisboa com a primeira edição 100% digital
A 18 de abril de 1991, no Teatro Municipal de São Luiz, arrancava a primeira edição da ModaLisboa. A comemorar 30 anos de vida, a 56.ª edição (e a terceira "em contingência") acontece exclusivamente online.
Quase um mês depois da data inicialmente prevista, era para se realizar de 10 a 14 de março, mantém a programação e "uma capacidade de reinvenção infinita". Palavras de Eduarda Abbondanza, para muitos "a senhora Moda Lisboa".
Ao SAPO24, e numa conversa ainda antes do adiamento, a presidente da Associação ModaLisboa, revelou que o cancelamento desta edição nunca esteve em cima da mesa, tendo ficado decido "logo em dezembro" que seria uma edição no digital. "Obviamente que não é a maneira que mais nos agrada, mas é a forma possível", explicou.
"Uma coisa seria se ficássemos sempre assim, o que nos obrigaria a questionar o modelo. Outra coisa é saber que esta é uma fase, que temos de ultrapassar. Vamos fazê-lo da melhor maneira possível, salvaguardando a saúde e a segurança".
Sob o lema "Comunidade", a 56.ª edição esteve quase para acontecer com outro selo. "O termo On/Off chegou a ser uma possibilidade exactamente por reflectir o que estamos a viver", contou Eduarda Abbondanza.
E o que mudou nestes 30 anos? "Há 30 anos, quando começámos, não havia licenciaturas, mestrados ou doutoramentos na área de moda. O que significa que também não havia investigação na área da moda. Só isso... O surgimento da Moda Lisboa deu azo a uma indústria que não exista". Hoje, o principal desafio é tentar "perceber como é que vamos estar depois deste 'chuto' que levámos" e continuar "a missão da Moda Lisboa": a promoção e o desenvolvimento da indústria de Moda em Portugal.
O futuro é das marcas independentes
A pandemia mudou comportamentos: "o excesso de mass market vai desaparecer".
"A Europa continuará a ser o território de fabricação de marcas, está no seu ADN, mas o consumo de marcas de luxo está noutros países. As marcas massificadas vão sofrer um rombo", "É inevitável", antevê Eduarda Abbondanza.
Nesse exercício, com os olhos no futuro, a presidente da Associação ModaLisboa identifica, no pós-pandemia, um terreno fértil para as marcas independentes, "aquelas com produções controladas, onde se consegue perceber a sua origem desde o primeiro fio até à criação final".
Com um enorme potencial "de expansão", é nesse território que encontramos os "nossos criadores nacionais". "Têm um preço superior ao mass market? Têm. Mas também têm uma durabilidade e uma história completamente diferente".
Reconhecendo que foram várias as que nasceram durante a pandemia,Eduarda Abbondanza defende, ainda assim, que "Portugal precisa de mais marcas" e de "investimento privado" na Moda.
Do sofá para a passerelle, ou vice-versa
Entre hoje e domingo, serão mais de 20 as marcas e criadores nacionais a apresentarem as suas propostas, sem estação associada, à semelhança da edição anterior.
Segundo a organização, serão quatro dias “para celebrar a Moda de autor, debater Sustentabilidade e Futuro, conhecer a fundo projetos internacionais e a indústria têxtil nacional, comprar Design português e assistir ao encontro entre Moda e inovação”.
Através de uma aplicação para telemóveis e 'tablets', de uma aplicação 'TV' para clientes MEO, de um ‘microsite’ e das contas da Moda Lisboa nas várias redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter), vai ser possível ver, além dos desfiles, entrevistas, reportagens de bastidores, conversas, 'workshops', uma “exposição digital de talento” e fazer compras numa loja 'online'.
Entre as marcas e criadores que apresentam coleções nesta edição estão Béhen, Nuno Baltazar, Awaytomars, Hibu, Buzina, Constança Entrudo, Valentim Quaresma, Carlos Gil, Gonçalo Peixoto, Luís Carvalho, Ricardo Preto e Ricardo Andrez.
Além disso, serão também apresentadas as coleções dos cinco finalistas do Sangue Novo, concurso destinado a finalistas de cursos superiores de Design de Moda de escolas nacionais e internacionais e jovens ‘designers’ em início de carreira.
Em outubro do ano passado foram escolhidos para passar à final Andreia Reimão, Ari Paiva, Arndes, Fora de Jogo e Rafael Ferreira. Cada um recebeu mil euros para preparar a coleção que irá apresentar nesta edição.
Aos prémios habitualmente atribuídos (prémio principal, atribuído em parceria com a escola italiana Polimoda e que consiste num mestrado em Design de Moda ou em Design de Coleção, mais uma bolsa de 3.500 euros; prémio em parceria com a Tintex Textiles que se traduz numa residência de três semanas naquela empresa, mais uma bolsa de dois mil euros), nesta edição junta-se um outro, no valor de 1.500 euros, que resulta da votação do público.
O programa das ‘Fast Talks’ e ‘Designer Talks’, inclui “conversas com especialistas, com designers, com ‘players’ da indústria, com todos os que fazem este setor e que continuam a ter muito para ensinar, para partilhar, para incutir mudança”.
Além disso, haverá ‘workshops’, “dirigidos a profissionais, estudantes e entusiastas, apenas acessíveis por registo”, e ‘Story Sessions’, “em que diversos fazedores de mudança irão abrir uma janela para o futuro, fazendo um estado da arte da inovação”.
Nesta edição, também o ‘Wonder Room’, uma loja temporária, ganha um formato digital.
“Em www.modaLisboa.pt e na app Moda Lisboa, esta montra curada pela Associação Moda Lisboa, é construída de Moda, acessórios e design de produto, bem como de criações dos Designers — tanto dos que fazem parte do calendário, como daqueles que não apresentarão coleção esta estação. Cada peça disponível neste 'Wonder Room' encaminha o consumidor para a loja 'online' do Designer ou marca, onde se efetua a compra direta, reforçando a partilha e o tráfego dos pontos de venda dos criadores nacionais”, explica a organização.
O programa completo pode ser consultado aqui.
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