Imagine que lhe davam um livro para a mão onde as páginas estão impressas de ordem aleatória e têm de ser ordená-las para perceber a história. Pior: suponha que essa história é na verdade um mistério em que seis pessoas foram assassinadas e só descobrirá quem morreu como às mãos de quem se conseguir encontrar a disposição certa das páginas.
Essa é a premissa de “Cain’s Jawbone”, um puzzle literário concebido pelo poeta, tradutor e mestre de palavras cruzadas crípticas inglês Edward Powys Mathers, mais conhecido pelo pseudónimo Torquemada — o que, convenhamos faz sentido: se o Torquemada original tornou-se infame pelo seu lendário sadismo, este ficou célebre pelos bem mais lúdicos atos de tortura mental a quem teve a (in)felicidade de se deparar com este livro.
Se à partida a coisa não parece assim tão complicada, sublinhemos o seguinte: o livro tem 100 páginas, o que significa que o número de combinações é tal que qualquer pessoa estaria uma vida inteira a tentar calcular o resultado. A isto, some-se o facto de que este diabólico tomo foi pensado para ser difícil de resolver. Tanto quanto se sabe, apenas três pessoas conseguiram desvendar o enigma desde que foi lançado em 1934. A última foi em 2020 — durante a pandemia.
Votado ao esquecimento desde os anos 30, julgava-se que a solução de “Cain’s Jawbone” tivesse ficado perdida para sempre. No entanto, o livro foi redescoberto pelo curador da Fundação Laurence Sterne e reeditado em 2019 por uma pequena editora britânica. Desde então, tornou-se um fenómeno de culto, sendo republicado numa dezena de países.
Saiu este ano uma edição em português, pela Lua de Papel, que oferece 1000 euros ao leitor perspicaz que consiga solucionar “A Mandíbula de Caim” até 31 de dezembro de 2023. Para tal, tem de apresentar os nomes dos assassinados e dos seus assassinos, a ordem correta das cem páginas da narrativa e uma pequena explicação dos moldes em que a solução foi obtida.
Caso consiga desvendá-lo, não terá pouco tempo para dar descanso à cabeça, já que a dose é para repetir: a pessoa que conseguiu resolver o enigma em 2020, o escritor e comediante John Finnemore, está a trabalhar numa sequela.
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