Implementado em 16 escolas da Área Metropolitana de Lisboa e em quatro escolas da zona de Coimbra, o projeto de intervenção social tem permitido combater o abandono escolar e ocupar os tempos livres de jovens de bairros carenciados, “onde há, por vezes, comércio de droga e de armas”, disse à Lusa o fundador e coordenador da Orquestra Geração, António Wagner Diniz.
“Chegámos à conclusão de que os alunos que frequentam o projeto são alunos que têm depois um aumento do próprio rendimento escolar. Acho que isso já foi suficiente para acharmos que valeu a pena termos feito isto”, afirmou.
A iniciativa, financiada sobretudo pelo Ministério da Educação, por municípios e por entidades privadas, passou em 10 anos de cinco para cerca de 80 professores.
Foi na escola Miguel Torga, na Amadora, que o projeto arrancou, no ano letivo 2007/2008. Hoje, o silêncio que seria de esperar desta escola a um sábado de manhã é substituído por um conjunto de melodias que ecoam pelos corredores, onde cerca de 20 “artistas de palmo e meio” - mas que já tocam como “gente grande” - participam nos ensaios.
A viver e a estudar na Amadora, Igor Baldé, de 18 anos, entrou para o projeto há cerca de nove, agarrando a oportunidade de aprender música de forma gratuita.
“Os jovens dos bairros sociais têm aquela visão de que a música é uma coisa secante, mas é muito bom para todos e para crescer também”, comentou o jovem da Amadora, que se tem dedicado a aprender a tocar trompa.
A par da aprendizagem musical, Igor está a tirar um curso de informática, ramo que quer seguir no futuro, “mas sempre com a música ao peito”, contou à agência Lusa, referindo que, se não fosse o projeto Orquestra Geração, não tinha possibilidades financeiras para aprender música - “nem sequer tinha condições para obter o instrumento”.
Ester Santos, de 10 anos, frequenta o quinto ano na escola Miguel Torga e é o elemento mais jovem da orquestra, onde toca violoncelo há perto de dois anos. O interesse pela música despertou após ter recebido de presente o instrumento.
“Esforço-me um bocado para dar o meu melhor”, contou Ester, referindo que gostava de seguir uma carreira no mundo da música.
Tal como ela, Rodrigo Araújo, de 17 anos, ambiciona ter uma vida profissional ligada à área da música. Ingressou na Escola de Música do Conservatório Nacional, mas foi através da Orquestra Geração que descobriu a paixão pelo trompete.
Através do projeto, o jovem já subiu ao palco para vários concertos em território nacional e internacional.
“Primeiro fomos à Turquia, a seguir fomos a Itália. Têm dado muitas oportunidades, [como] tocar com a Gulbenkian, que é uma orquestra muito boa. São oportunidades únicas”, afirmou Rodrigo Araújo, que já tem várias opções em cima da mesa para o futuro: “tocar numa banda militar, ser professor [de música], fazer parte de uma orquestra”.
Da experiência que tem como aluno da Orquestra Geração, faz “um balanço muito positivo” do projeto.
“Há jovens que podem seguir maus caminhos e a orquestra tem ajudado bastante nisso, há jovens que ganham muito mais responsabilidade e até conseguem ter melhores notas na escola”, afirmou.
A tocar violino há sete anos, Adriana Rosário, de 16 anos, também reconhece a importância do projeto e o impacto positivo no percurso escolar.
“A música ajuda-nos a concentrar-nos mais, ajuda-nos a melhorar a aprendizagem na escola. A música ajuda-nos em tudo”, considerou a jovem.
Quando a Orquestra Geração surgiu em Portugal, foi criada com base num sistema de orquestras da Venezuela, o que motivou o professor venezuelano Juan Maggiorani a integrar, desde o início, o projeto português.
“Não há nada mais gratificante e que nos encha de orgulho do que ver os miúdos crescer, ver a transformação que a música tem feito na vida deles. A música faz parte da vida deles, eles crescem com a música, não só aqui na escola, como também na comunidade e em casa”, afirmou Juan Maggiorani, frisando que o principal objetivo do projeto é garantir “igualdade de oportunidades para todos”.
Para assinalar os 10 anos, a Orquestra Geração está a realizar uma série de concertos pelo país. Os próximos realizam-se no dia 28 de fevereiro, no Porto, e no dia 05 de março, em Lisboa.
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