Este romance de Vale Ferraz demonstra como “a memória da experiência colonial pode ser aterradora”, lê-se na ata do júri, ao qual presidiu Guilherme d’Oliveira Martins, indica o comunicado da organização, enviado à agência Lusa.
"O ex-Congo Belga e Angola constituem neste romance o eixo geopolítico de ações de guerra e desvarios humanos no qual uma mulher, ‘Madame X’, emerge, simultaneamente, como figura de ligação da estória do romance e da História dos anos 1960, no início da guerra nacionalista”, das ex-colónias europeias em África, refere o júri.
Além de Guilherme d'Oliveira Martins, o júri desta 21.ª edição do Prémio Literário Fernando Namora contou com José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Loureiro, pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual, e com Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, pela Estoril-Sol.
Carlos Vale Ferraz, pseudónimo literário de Carlos de Matos Gomes, nasceu a 24 de julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha, no Ribatejo, e foi oficial do Exército, tendo cumprido várias comissões militares em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Algumas das suas obras refletem esta realidade histórica, e foram adaptadas ao cinema e à televisão, entre as quais “Nó Cego”, romance publicado pela primeira vez em 1982, e reeditado recentemente.
O autor colaborou com a atriz e realizadora Maria de Medeiros no argumento do filme “Capitães de Abril” (2000), realizado pela cineasta.
Na área da História Contemporânea, e assinando como Carlos de Matos Gomes, é coautor, com Aniceto Afonso, dos livros “Guerra Colonial”, “Os Anos da Guerra Colonial” e “Portugal e a Grande Guerra”.
O título “A Última Viúva de África” foi publicado pela Porto Editora, no ano passado.
Segundo a editora, a narrativa partiu "da história real de uma mulher portuguesa que não quis abandonar a sua nova pátria", o ex-Congo Belga, e "o autor procura compreender as linhas do processo africano de descolonização".
A protagonista é Ana Oliveira, natural do Minho, que, na década de 1950, decidiu emigrar para África, onde foi "conhecida, nesses tempos, por 'Madame X', pelas autoridades portuguesas, para quem trabalhava como informadora, e por Kisimbi, a 'mãe', pelos mercenários que combatiam em prol da secessão de Catanga [província no sul da atual República Democrática do Congo]". "Ela permanece uma figura misteriosa, que ganha contornos bem definidos neste romance", afirma a editora.
Ana Oliveira, por opção sua, permaneceu na antiga colónia belga do Congo após a independência, declarada em 1959.
“Gente Feliz com Lágrimas”, de João de Melo, foi o vencedor da primeira edição do Prémio Fernando Namora, em 1989.
No ano passado, o vencedor foi o romance “A Noite não é Eterna”, de Ana Cristina Silva.
Urbano Tavares Rodrigues, Mário Cláudio, Teolinda Gersão e Mário de Carvalho, ambos por duas vezes, José Eduardo Agualusa, Luísa Costa Gomes, Maria Isabel Barreno, António Lobo Antunes e Nuno Júdice são alguns dos autores que já venceram este galardão.
O Prémio Literário Fernando Namora/2018 “será entregue oportunamente em cerimónia a anunciar”, afirma a Estoril Sol.
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