O Património Nacional Espanhol anunciou hoje a decisão deste prémio, dotado de 42.100 euros, atribuído por esta instituição e pela Universidade de Salamanca.

Segundo a agência espanhola EFE, este prémio é o mais importante reconhecimento da poesia em espanhol e português que visa premiar toda a obra poética de um autor vivo.

Ana Luísa Amaral torna-se a terceira autora portuguesa a receber o prémio, depois de Sophia de Mello Breyner (2003) e Nuno Júdice (2013), e a quarta escritora lusófona a ser distinguida, numa lista que inclui também o brasileiro João Cabral de Melo Neto (1994).

Nascida em Lisboa, em abril de 1956, a escritora e professora universitária Ana Luísa Amaral vive em Leça da Palmeira desde os 9 anos e tem recebido múltiplas distinções ao longo da carreira, sendo as mais recentes o Prémio Vergílio Ferreira e o galardão espanhol Leteo.

Ana Luísa Amaral, “uma das mais relevantes poetisas da atualidade”, aborda, na sua obra, traduzida para diversas línguas, “a memória e vindicação do feminismo português”, considerou, no final do ano passado, o júri do prémio Vergílio Ferreira 2021, presidido pelo espanhol Antonio Sáez Delgado.

Num artigo publicado no jornal espanhol El País, no passado dia 03 de outubro, Sáez Delgado considerou Ana Luísa Amaral como “uma das mais importantes vozes das letras portuguesas das últimas três décadas”.

Amaral construiu “uma obra que se desdobra, em paralelo, na poesia (sede central do seu universo literário) e através do teatro, do ensaio, da narrativa para adultos ou infantil e da tradução”, referiu o também professor da Universidade de Évora, no artigo centrado no mais recente livro da escritora portuguesa, “What’s in a Name”, em que, disse, a autora “retoma algumas das suas preocupações fundamentais”.

A obra “habita um território poético que toma como elemento central a tensão entre a observação da realidade quotidiana e a capacidade de expressão e compreensão através da palavra escrita”, assinalou.

Também no ano passado, a associação das Livrarias de Madrid atribuiu-lhe o prémio Livro do Ano, na área de Poesia, pela publicação em Espanha de "What’s in a name".

Doutorada em Literatura Norte-americana pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde foi professora, tem dezenas de títulos de poesia publicados desde “Minha Senhora de Quê” (1990), para além de já ter escrito teatro e ficção, incluindo vários livros para a infância.

A sua obra encontra-se traduzida e publicada em várias línguas e países, tendo obtido diversos prémios, como o Prémio Literário Correntes d'Escritas, o Premio Letterario Poesia Giuseppe Acerbi e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores.

A sua obra poética é editada em Portugal pela Assírio & Alvim.

Ana Luísa Amaral diz que prémio de poesia ibero-americana é "felicidade sem nome"

A poetisa portuguesa Ana Luísa Amaral afirmou hoje à agência Lusa que receber o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana é "uma felicidade sem nome", um reconhecimento de um trabalho que é "prazer, angústia e necessidade".

"O facto de me terem dado este prémio significa que aqueles livros que eu escrevi, de alguma forma, tocaram as pessoas. Eu acho que isso é uma felicidade sem nome", afirmou a escritora.

"É uma grande honra, naturalmente. São tão poucos os portugueses que lá estão e, todavia, é um prémio ibero-americano. E temos grandes poetas em Portugal", sublinhou a escritora, citando ainda dois nomes também já distinguidos: A uruguaia Ida Vitale e o espanhol Antonio Gamoneda, "o maior poeta vivo de Espanha".

Ana Luísa Amaral admitiu que não lhe interessa muito o impacto do prémio na carreira, iniciada há três décadas com "Minha senhora de quê": "Ficamos sempre muito felizes quando o nosso trabalho é reconhecido. Ainda por cima no meu caso é um trabalho que não é trabalho, é prazer, por vezes angústia e é necessidade. Eu escrevo porque eu preciso de escrever".

"A escrita do poema coloca-me ao mesmo tempo uma grande paixão e uma grande angústia. Houve até momentos da minha vida que eu vivi através da poesia, em que a poesia se substituiu à vida", lembrou.