A ideia de fazer este disco, intitulado “Até pensei que fosse minha”, surgiu num ambiente de tertúlia no Brasil com Chico Buarque, que António Zambujo conheceu há três anos.
“A música brasileira sempre teve um papel muito importante na minha formação enquanto ouvinte e enquanto intérprete. Acho que a qualquer altura iria acontecer uma coisa deste género”, explicou o músico.
O álbum apresenta 16 canções de vários períodos da carreira de Chico Buarque, de “Morena dos olhos d’água” a “Até pensei” – tema do qual é retirado o título do disco -, ambas dos anos 1960, passando por “João e Maria” e “Valsinha”, dos anos 1970, e “Cecília”, de 1998.
“A escolha foi sentimental, as músicas pelas músicas; não estar preocupado com épocas, com temáticas. Eram as músicas que eu mais gostava (…) Podíamos ter gravado mais trinta discos com coisas do Chico e eu ficaria satisfeito com todas as escolhas”, disse.
António Zambujo, que tem mantido uma relação mais estreita com o Brasil desde 2009, recordou que Chico Buarque gostou da ideia do álbum e foi bastante participativo.
“Foi uma coisa que não estávamos à espera. Nós vamos homenagear alguém, não estamos à espera que a pessoa homenageada tenha uma participação tão ativa. Ele participou num dos temas, sugeriu temas, fez algumas correções de coisas que estava a cantar mal”, recordou António Zambujo.
Chico Buarque faz, então, um dueto com o músico português em “Joana Francesa”, mas o alinhamento revela ainda as participações da cantora brasileira Roberta Sá, em “Sem fantasia”, e da fadista Carminho, em “O meu amor”.
É no Brasil que António Zambujo, alentejano de 41 anos, diz ter alguns dos seus maiores ídolos. A começar por João Gilberto, um dos pilares da bossa nova.
“Em miúdo a música brasileira entrava como em todas as casas, através das bandas sonoras das novelas, das rádios. Mais tarde, numa visão mais aprofundada foi quando comecei a ouvir João Gilberto. Através dele fui procurando outros autores e fazendo escolhas”, contou António Zambujo.
Com este disco quer prestar um tributo a Chico Buarque, sem mais veleidades: “O que faço é de uma forma muito honesta, é o melhor que sei. Se não tenho mais nada para dar, é isto que vou dar, foi assim que ficou. Fico feliz”.
O músico diz que “Até pensei que fosse minha” é um “parêntesis” na carreira, que começou há mais de dez anos, com seis discos de originais, fado, cante alentejano, música portuguesa e brasileira e vários prémios.
Este disco-tributo surge dois anos depois de “Rua da emenda”, que Zambujo diz ser o fim de um ciclo: “É uma altura de mudança de rumo, de procurar outra coisa qualquer, mas ainda não sei qual é”.
António Zambujo fará uma digressão no Brasil em novembro e marcou para 2017 os primeiros concertos de apresentação do disco em Portugal: A 1 e 2 de março no grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Comentários