A lista completa dos artistas convidados e das representações nacionais foi divulgada pela organização, após uma conferência de imprensa do presidente da Bienal, Roberto Cicutto, e da curadora-geral deste ano, Cecilia Alemani, que escolheu como tema da edição “The Milk of Dreams”, título do livro da artista surrealista Leonora Carrington (1917-2011).
Portugal surge na lista das representações nacionais com “Vampires in Space”, projeto de Pedro Neves Marques com curadoria de João Mourão e Luís Silva, que ficará instalado no Palácio Franchetti, em Veneza, durante o decurso da bienal, entre 23 de abril e 27 de novembro.
A seleção da representação portuguesa ficou marcada pela polémica, depois de o curador Bruno Leitão, que apresentou a concurso o projeto “A Ferida”, da artista Grada Kilomba, ter contestado o processo de seleção e os critérios de avaliação do júri, com a apresentação de um recurso hierárquico ao Ministério da Cultura ainda sem desfecho.
Questionado pela agência Lusa, Pedro Neves Marques reiterou hoje não querer comentar o recurso em processo, recordando que “faltam dois meses e meio [para a abertura da bienal] e há imenso trabalho a fazer”.
Sobre o concurso aberto para escolher a representação de Portugal, Pedro Neves Marques afirmou que “há uma reflexão profunda a ser feita”.
“Da parte do Ministério da Cultura e da Direção-Geral das Artes há uma reflexão profunda a ser feita sobre processos e representações nacionais, que exigem excelência e respeito por todos os artistas. Acho que construtivamente é isso que o ministério tem de fazer”, disse.
Na lista de 213 artistas convidados, oriundos de 58 países, surge a artista portuguesa radicada em Londres Paula Rego, de 87 anos, que, segundo a curadora Cecilia Alemani, estará representada com pinturas da série “Metamorfose”, inspirada na obra do escritor Franz Kafka.
Cecilia Alemani lembrou, na conferência de imprensa, que Paula Rego foi alvo de uma grande exposição retrospetiva da sua obra no ano passado, na Tate Britain, em Londres — que reuniu mais de uma centena de trabalhos -, e apontou que a artista portuguesa “reinterpreta muitas das lendas e histórias do imaginário universal, com formas e simbioses entre seres humanos e animais”.
Na lista das mais de duas centenas de artistas convidados para a exposição internacional contam-se ainda, do universo lusófono, seis criadores do Brasil: Leonora Barros, Jaider Esbell, Linda Gazzera, Rosana Paulino, Solange Pessoa e Luiz Roque.
O Brasil terá também o seu pavilhão nacional com um projeto do artista Jonathas de Andrade, intitulado “Com o coração saindo pela boca”, contando com a curadoria de Jacopo Crivelli Visconti e comissariado por José Olympio da Veiga Pereira, através da Fundação Bienal de São Paulo.
Roberto Cicutto indicou que vão participar nesta edição 80 representações nacionais, com as estreias dos Camarões, Nepal, Oman, Uganda e, pela primeira vez, o Cazaquistão, o Quirguistão e o Uzbequistão terão pavilhões independentes.
Além dos pavilhões nacionais, a curadora-geral descreveu a forma como desenhou a exposição internacional: foram criadas pequenas “cápsulas do tempo”, com temas mais específicos, acolhendo constelações de obras de arte, objetos e documentos, concebidas para “fornecer instrumentos de investigação e introspeção que liguem o passado e o presente”.
Incluem empréstimos de museus e peças menos convencionais que apontam para a vontade de “simbiose, solidariedade e união”, segundo a responsável, que é, desde 2011, diretora e curadora-chefe do High Line Art, um programa de arte pública que veio dinamizar o parque em que foi transformado a antiga linha férrea suspensa da zona oeste de Manhattan, em Nova Iorque.
Dos 213 artistas convidados, 180 vão participar pela primeira vez na exposição internacional, que reunirá um total de 1.433 obras, e mais 80 projetos concebidos especificamente para este evento mundial dedicado à arte contemporânea.
Metamorfose e simbiose são palavras-chave nesta 59.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza, dividida em três temas: a representação dos corpos e as suas metamorfoses, a relação com as tecnologias, e ainda a conexão entre os corpos e o planeta Terra.
“Esta edição da bienal foi criada e organizada durante um período de grande instabilidade e incerteza porque o seu desenvolvimento coincidiu com a expansão da pandemia, obrigando ao adiamento por um ano”, recordou, sobre os entraves da programação do evento.
Para o certame, indicou ter selecionado uma “maioria de artistas mulheres e de temas não-binários porque refletem a riqueza da força criativa do nosso tempo”.
Por seu turno, Roberto Cicutto sublinhou ainda, na conferência de imprensa, que, “depois da experiência acumulada com a Bienal de Arquitetura, durante a pandemia, serão implementados todos os procedimentos para proteger os visitantes, artistas e a produção”.
Ao mesmo tempo que “será monitorizada a redução das emissões de carbono, à luz das preocupações de sustentabilidade ambiental” nas exposições e atividades paralelas que vão decorrer na zona central dos Giardini e no Arsenale, em Veneza.
A 59.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza terá uma pré-abertura a 20, 21 e 22 de abril, e a cerimónia de atribuição de prémios acontece no dia 23 de abril, data de abertura ao público.
Para além de Paula Rego e Pedro Neves Marques, no âmbito da programação das galerias de arte, o português Pedro Cabrita Reis vai apresentar a obra “Field”, especialmente concebida para a Igreja di San Fatin.
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