“Ela” é a personagem central da peça “Proximidade”, do romancista e dramaturgo norueguês Arne Lygre, que surge em palco a fazer uma espécie de balanço do que lhe aconteceu ao longo da vida.

Como é que chegou aqui e o que lhe aconteceu são algumas das interrogações que a personagem levanta ao longo da peça na qual o título serve sempre de mote para que questione a sua relação com o outro, sobretudo em relação à família, aos namorados e aos amigos, nesta nova criação dos Artistas Unidos.

No meio das interrogações, Ela vê-se confrontada com o aparecimento de uma estranha, sem saber se vai ser uma nova amiga, se essa relação vai durar ou acabar como as outras.

“Proximidade” representa também o falhanço, a crise da personagem que vai questionando o tempo e o espaço.

A solidão — o que é e o que representa — e a dificuldade de lidar e de se relacionar com os outros são outras das perguntas presentes em todo texto que, segundo o encenador, António Simão, é “um meio caminho entre o romance e o drama”.

A complexidade e a dificuldade de viver com os outros e a impossibilidade de viver sem eles são também temas constantes do texto do autor norueguês que “tem um pouco de existencialismo”, disse António Simão à Lusa, no final de um ensaio de imprensa.

“É apanágio do autor, que tem uma escrita muito particular e faz uma reflexão sobre alguns temas que, podemos dizer, que versam sobre a nossa existência”, frisou.

Sempre num ambiente muito despojado, no qual a palavra se sobrepõe ao ambiente, as personagens da peça vão levantando questões sobre a existência humana, obrigando o espectador a interrogar-se sobre si próprio.

O que importa nesta peça não é determinada pessoa em concreto, a função ou profissão que exerce ou o género, mas o ser humano “na sua aceção mais básica das emoções humanas e dos relacionamentos”, disse o encenador.

“Esta peça faz lembrar um pouco o trabalho Ingmar Bergman, nomeadamente no filme ‘Sonata de Outono’, centrada no relacionamento entre uma mãe pianista bem-sucedida e uma filha frágil do ponto de vista emocional”, disse António Simão.

Uma “Ela” que não vai para nova, mas que também ainda não chegou à idade em que não há nada a fazer, ou seja “uma idade em que [se pode] recomeçar”.

“Se bem que também não sei com que idade podemos recomeçar. Se calhar, podemos recomeçar sempre, salvo as devidas contingências”, realçou o encenador.

“Proximidade” é um texto que parece realista, mas que depois ao nível da estrutura se percebe que não é.

Porque, às vezes, o autor põe as personagens a saírem delas próprias, a falarem de si na terceira pessoa, e sobre os outros também.

O que confere à peça “uma certa estranheza, um certo distanciamento”, patente também no cenário onde se fixa a ação”.

Uma parede que se prolonga pelo chão, com uma parede estreita e onde existem duas ou três plataformas espelhadas que representam um lugar de passagem, é o cenário onde decorre a ação.

Porque a peça decorre num ambiente “meio límbico”, num sítio de pensamento, mais do que em qualquer lugar concreto”, concluiu António Simão.

Com tradução de Pedro Porto Fernandes, “Proximidade” tem na interpretação Isabel Muñoz Cardoso, Rita Durão, Pedro Carraca e Simon Frankel.

A cenografia e os figurinos são de Rita Lopes Alves, a luz de Pedro Domingos e os desenhos de Daniel Fernandes.

No Teatro da Politécnica vai estar em cena até 03 de dezembro, com récitas de terça-feira a quinta, às 19:00, às sextas, às 21:00, e, aos sábados, às 16:00 e 21:00.

“Proximidade” estreou-se em 02 de março de 2019, no Nationaltheatret de Oslo, com encenação de Sigrid Strøm Reibo.

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