O "Autorretrato com Boina e Duas Correntes" do mestre holandês Rembrandt, pintado em 1640, que ficará no museu até setembro, é a primeira de uma série de obras pertencentes a grandes coleções mundiais que o Museu Calouste Gulbenkian quer acolher temporariamente nas suas galerias.
"Este projeto vai refrescar a visita às coleções Gulbenkian no museu, num percurso que, na realidade, nunca é estático, e onde cada experiência é única", comentou diretor do Museu, António Filipe Pimentel, durante a apresentação da obra aos jornalistas.
Cedida pela Coleção Thyssen-Bornemisza, de Madrid, Espanha, a obra ficará exposta na Galeria de Pintura do século XVII do Museu Gulbenkian, lado a lado com as duas pinturas de Rembrandt da Coleção de Calouste Gulbenkian: "Figura de Ancião" (1645) e "Palas Atena" (1657).
O responsável indicou que o novo ciclo expositivo, "numa lógica de parceria" entre instituições museológicas e coleções, vai ter uma regularidade de apresentação de três obras por ano, que ficarão no museu durante cerca de três meses.
"Acontecerá também sempre numa lógica de diálogo com as coleções da Gulbenkian, e não apenas na pintura", adiantou, acrescentando que o novo programa expositivo "fazia falta ao museu, para dar a noção de retorno aos visitantes, e também para avançar novo conhecimento" na arte.
O "Autorretrato com Boina e Duas Correntes" de Rembrandt é um dos cerca de 40 autorretratos que o pintor criou ao longo de quatro décadas de trabalho, num conjunto total de 300 pinturas, e junta-se às duas únicas obras do autor existentes em Portugal, detidas pela Gulbenkian.
A escolha de Rembrandt van Rijn para iniciar o ciclo explica-se pela "vontade de começar por um grande nome da pintura, e por um nome incontornável", acrescentou o diretor, que dirigiu o Museu Nacional de Arte Antiga antes de ir para a Gulbenkian, em janeiro de 2020.
Sobre a obra seguinte, Pimentel avançou que será uma tapeçaria da armação "Jogos de Criança", do século XVI, de Giulio Romano, proveniente do Museo Poldi Pezzoli, em Milão, na Itália.
A Gulbenkian detém igualmente "A Pesca", uma das quatro tapeçarias desta armação fabricada numa oficina em Mântua, sobre os cartões do pintor e arquiteto renascentista. Segundo informação do museu, esta 'secção' foi adquirida pelo colecionador Calouste Gulbenkian, em 1920.
Relativamente à vinda da pintura de Rembrandt, se teria implicado a cedência de alguma obra da Gulbenkian, o diretor indicou que "a lógica de parceria entre instituições congéneres sempre existiu, e vai continuar em qualquer momento".
"No caso da cedência do Rembrandt, foi uma situação excecional, uma vez que este quadro raramente sai" do museu nacional, em Madrid, e vem "reforçar a relação ibérica de parceria" entre as duas entidades, disse.
Questionada pela agência Lusa, a conservadora responsável, Luísa Sampaio, disse que o autorretrato, “exibido pela primeira vez em Portugal”, foi realizado na mesma altura em que Rembrandt produzia "A Ronda da Noite", uma das obras mais importantes do pintor, e uma das mais conhecidas da coleção do Rijksmuseum, em Amesterdão, a par de outras, como "A Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp", do museu Mauritshuis, na Haia.
"Rembrandt realizou muitos autorretratos, e começou ainda jovem a criá-los, para experimentar a pintura de expressões nele próprio, e vestindo-se com adereços exóticos", apontou a especialista sobre um autor cuja obra é uma das mais estudadas da História da arte.
A produção de autorretratos surge na década de 1620, segue até ao ano da sua morte, em 1669, e deu origem a diversas subcategorias dentro do género em que o artista assumia, de forma subtil, papéis distintos, explicou.
No "Autorretrato com Boina e Duas Correntes", que o Museu Calouste Gulbenkian apresenta até 12 de setembro, o artista faz-se representar de preto, com gibão rematado por pele e duas correntes de ouro, sob fundo neutro.
O traje é idêntico ao envergado por Dirk Bouts (1410/1420-1475) e Rogier van der Weyden (c. 1399-1464) em duas gravuras de Hieronymus Cock (1510-1570), editadas em 1572, nas quais encontrou inspiração, e indica um tributo aos artistas flamengos do século XV, referiu Luísa Sampaio.
Quanto às duas pinturas de Rembrandt que estarão em diálogo com o autorretrato, foram adquiridas pelo colecionador e empresário arménio Calouste Gulbenkian em 1930, ao Museu do Hermitage, em São Petersburgo, na Rússia.
Questionado pela Lusa sobre a situação das obras em curso na galeria de arte francesa do século XVIII, do Museu Gulbenkian, que se encontra encerrada para renovação, António Filipe Pimentel indicou que deverão estar concluídas em junho.
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