Sobre a cobertura das mesas da Sala de Leitura repousam as pranchas da exposição “A Ilha dos Amores e outros lugares imaginários das literaturas portuguesa e brasileira”, resultado da investigação que o diretor adjunto da BGUC fez para homenagear o escritor Alberto Manguel.
António Maia do Amaral leu dezenas de romances à procura de locais fictícios que constam em livros portugueses e brasileiros, numa evocação a “Dicionário de lugares imaginários”, que Manguel editou em 1980.
A ideia surgiu após a confirmação da presença do romancista argentino-canadiano no encerramento do Colóquio das Bibliotecas Icónicas da Humanidade, que a BGUC organizou no final de outubro.
O bibliotecário, um apaixonado pelo “Dicionário de lugares imaginários” - “uma obra extraordinária, feita antes de haver internet - lembro sempre isso às pessoas - e que por isso foi preciso ler, ler, ler” - decidiu homenagear o escritor com a exposição com que Manguel foi recebido em Coimbra.
“Levei um carrego de romances para férias”, recorda, e mergulhou à procura de lugares imaginados por outros autores. “Foi uma parte de prazer, algum sacrifício e também frustração”: primeiro pelo gozo que a leitura lhe proporciona, depois porque teve de ler “alguns péssimos romances” e, ainda, porque “há lugares que já li e não consigo recordar-me onde - daí a frustração”, explicou à agência Lusa.
Com a informação que recolheu de obras que vão de 1572 - “Os Lusíadas”, de Camões - a 2021 - “Hífen”, de Patrícia Portela -, escolheu 32 países, cidades ou casas descritas nas literaturas portuguesa e brasileira. Para cada um, reuniu informação como a que consta no dicionário de Manguel, com o aspeto físico, a organização política, “uma entrada muito ‘científica’”, para “descrever dos vários pontos de vista o lugar onde a literatura acontece”.
Patente há pouco mais de um mês, a exposição tem suscitado reações, tanto de “pessoas que foram tocadas”, como de outras que “acham que aquilo perturba um bocadinho e que será, talvez, estranhíssimo”.
Acima de tudo, o bibliotecário espera que os visitantes “reconheçam algum daqueles lugares e se divirtam. E, vendo uma coisa que lhes pareça interessante, vão procurar a obra”. Como o dicionário do Manguel, a intenção “é que as pessoas se despertem pelo lugar para depois irem ver o que acontece nesse lugar, lendo o romance”, diz António Maia do Amaral, cumprindo a missão de qualquer biblioteca.
“Esta é uma outra forma de promoção da leitura, de intermediação, de servir um produto, neste caso o livro”.
Entretanto, viciou-se no processo de descoberta de lugares imaginários. “Não consigo resistir. Estou, volta e meia, a pedir mais livros na biblioteca para ler. Já tenho mais cinco [lugares imaginários], além destes. Eventualmente poderão constar numa publicação que seja o catálogo desta exposição e que, talvez, traga mais qualquer coisa”.
“A Ilha dos Amores e outros lugares imaginários das literaturas portuguesa e brasileira” pode ser visitada na Sala de Leitura da BGUC até 30 de dezembro.
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