“Estou cansada deles porque são todos iguais”, comenta Pamela dos Anjos, de 28 anos, desempregada e que sobrevive graças a um trabalho informal como vendedora de jornais, o que lhe rende 40 reais (11 euros) por dia.

Pamela é uma entre tantos brasileiros que engrossam a crescente lista de desempregados, com mais de 11 milhões de pessoas.

“Na verdade, não quero saber se a Dilma vai ou fica. Aqui está sempre tudo mal”, diz à AFP ao sair de um centro de assistência social, num bairro periférico de São Paulo.

Desde 2015 que o povo brasileiro tem ouvido falar em inflação, endividamento e recessão.  

“Votei sempre no PT [partido dos Trabalhadores], mas na última eleição de 2014, votei em branco. Estava cansada de ouvir que as coisas iam melhorar e nada melhorava. Estou cansada de todos os políticos porque são todos iguais”, concluiu.

“A nossa vida foi melhor com o Lula. Havia mais emprego e menos fome. Podíamos receber a Bolsa Família ou ajuda para pagar o aluguer [de casa]”, diz Naira de Oliveira, de 27 anos, referindo-se ao programa social criado nos anos promissores do ex-presidente Luiz Inácio da Silva no poder (2003-10).

O Brasil durante esse período dava ares de potência emergente, e era um modelo de referência por ter retirado milhões de pessoas da pobreza. Entretanto, o paradigma mudou e o Partido dos Trabalhadores de Dilma não parece conseguir fazer face à crise.

“Votei na Dilma duas vezes, mas fiquei cansada”, explica a ajudante de cozinha. “No final, quem entre ou saia vai roubar também. Todos fazem a mesma coisa”, resume Oliveira sobre a provável troca de Dilma Rousseff pelo ex-vice e atual presidente interino, Michel Temer, que poderá concluir o mandato da chefe de Estado até 2018, caso esta seja definitivamente afastada.

Embora o caso de corrupção tenha abalado boa parte da elite política e empresarial do Brasil, o Partido dos Trabalhadores é um dos partidos mais afetados pelo escândalo.

Entre os apoiantes de Rousseff e do partido, não existe muita esperança ou espaço para ativismo político.

“Preferia que Dilma ficasse, mas nesta a esta altura, não há muito a fazer”, diz Levy Marques, de 28 anos, dono de uma pequena empresa de dísticos. “Votei e vou continuar no Partido dos Trabalhadores, mas não posso parar de trabalhar para ir a uma manifestação política”, acrescentou.

Marcia Florentino dos Santos, de 55 anos, é uma das beneficiárias do programa Bolsa Família, recebe 75 reais (21 euros) de ajuda de custo para a renda. “Entristece-me pensar que as coisas não saíram como pensávamos”, revela à AFP. “Agora só tenho medo do futuro. O que será que nos vai acontecer?”, questiona.

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