Os casamento reais podem ser, para muitos, uma oportunidade de sonhar com uniões felizes e festas que lembram contos de fadas, mas a verdade é que, na maior parte das vezes, no caso das monarquias reinantes, se tratam de eventos de Estado. Nas restantes, como é caso da Casa Real Portuguesa e do casamento que uniu este sábado a filha do Duque de Bragança com Duarte de Sousa Araújo Martins, é uma oportunidade de relembrar os valores de um Portugal passado e de uma família que continua a ter uma presença na realidade nacional.

O casamento da Infanta Maria Francisca, na Basílica do Palácio de Mafra, tentou em quase tudo aproximar-se do que estamos habituados a ver nas celebrações semelhantes da realeza europeia. Entrada de coche, vestido de autor, convidados de peso, mais nacionais do que internacionais, e a pompa e circunstância que não se observa muitas vezes na República centenária. Porém, existem grandes diferenças entre o Casamento Real português e o que se observa pela Europa fora.

Em primeiro lugar, no horário, que, como sublinhou o especialista em realeza Alberto Miranda em entrevista ao SAPO24, fez com que esta não tenha sido uma celebração de tiaras, tirando na noiva.

"De tarde não há coroas nem tiaras, não é esse o dress code. Neste tipo de eventos, o dress code é fraque para os homens e cocktail para as mulheres, ou seja, vestido curto com chapéu", afirmou.

Ainda sobre o mesmo tópico, explicou que "o uso de tiaras tem a ver com o horário das cerimónias e a tradição do país. Na Escandinávia, os casamentos reais são no fim da tarde e os homens usam casaca, que é superior a fraque, com condecorações, e as mulheres usam tiaras e condecorações numa banda, que é um elemento de uma condecoração nacional ou internacional. Mas isso é em festas noturnas, aqui é diferente".

Por isso, em Portugal observámos uma missa depois de almoço e um cocktail, algo diferente de outros casamentos reais.

Como exemplo, pode recordar-se o casamento da herdeira do trono sueco, a princesa Victoria da Suécia, com o empresário Daniel Westling, em 2010. Neste caso, quase todas as convidadas usaram tiaras e o vestuário foi bastante diferente do observado no Casamento Real português. Além disso, sendo uma casa real reinante, e a celebração de uma herdeira ao trono, contou com a presença das primeiras linhas da realeza europeia, com caras bem conhecidas na fotografia.

Casamento Victoria da Suécia e Daniel Westling
Casamento Victoria da Suécia e Daniel Westling créditos: AFP

No que diz respeito a princesas não herdeiras, como é o caso da Infanta Maria Francisca, dois exemplos recentes de casamentos reais podem ser imediatamente recordados: as uniões das filhas do Príncipe André do Reino Unido, Duque de Iorque, atualmente fora do círculo da família real por se ter alegadamente envolvido com uma menor traficada por um amigo, Jeffrey Epstein.

No caso das filhas, Beatrice e Eugenie de Iorque, os casamentos foram bastante mais simples do que os dos primos reais, príncipes William e Harry, e com uma leveza mais comparável com o Casamento Real português.

A primeira a casar foi Eugenie, em outubro de 2018, meses depois de Harry e Meghan, com o empresário Jack Brooksbank. A união aconteceu de manhã, o que é o normal no Reino Unido, ao contrário da boda real portuguesa, que começou a meio da tarde.

Também em número de convidados foi diferente. Na capela de St. George, em Windsor, apenas couberam 850 convidados, enquanto a Infanta Maria Francisca contou com 1.200, este sábado, em Mafra.

Já os convidados, esses estiveram em peso, porém mais focados em amigos e família e não tanto em casas reais estrangeiras nem em figuras de Estado. Estiveram presentes celebridades como Naomi Campell, Demi Moore, Ellie Goulding, Ricky Martin, Cara Delevigne ou Kate Moss, para alé dos parentes habituais do círculo real britânico.

As roupas também eram diferentes. Do chapéu a acessórios de cabelo, havia um pouco de tudo. Além disso, só a noiva usou tiara e nem a realeza usou condecorações.

Casamento Eugenie
Casamento Eugenie créditos: AFP

Já a irmã mais velha de Eugenie, a princesa Beatrice, teve um casamento real completamente diferente dos demais. Em plena pandemia Covid-19, em 2020, uniu-se ao promotor imobiliário Edoardo Mapelli Mozzi, numa festa com apenas 20 convidados.

Apesar de ser a filha mais velha do príncipe André, a cerimónia foi à porta fechada, sem televisões ou jornais, sendo apenas divulgadas algumas fotografias nas redes sociais da família real britânica. Aconteceu numa capela privada em Windsor, no Royal Lodge, e a noiva utilizou um vestido e tiara emprestados pela avó, a antiga rainha Isabel II. O acessório de cabelo foi inclusivamente o mesmo que a própria monarca usou no dia do seu casamento com o príncipe Filipe, em 1947.

Num último exemplo comparativo de casamentos reais, vale a pena considerar o de uma casa real não reinante, como é o caso da portuguesa. Aqui pode pensar-se no casamento recente do príncipe Philippos da Grécia, filho mais novo dos reis, que se casou com Nina Flohr em outubro de 2021.

Este foi um casamento histórico, por ser o primeiro Casamento Real em mais de 50 anos no país, que teve durante muitos anos a família real exilada.

Uma cerimónia de grande simbolismo para a Grécia e para a família, marcou o regresso da família real grega a um dos locais mais significativos da sua história, a Catedral de Atenas, onde também se casaram os tios do noivo, Juan Carlos e a rainha Sofia de Espanha, em 1962, e ainda os anteriores reis da Grécia e pais do antigo rei Constantino e da rainha Sofia de Espanha, Pavlos e Frederika de Hanover, em 1938.

O último casamento neste local tinha sido o dos pais do noivo, os antigos reis da Grécia, Constantino e Ana Maria, em 1964.

Tendo em conta o acontecimento histórico e as ligações desta família a grandes casas reais da Europa, estas estiveram presentes no casamento. Lembra-se que o pai do noivo, o antigo rei Constantino da Grécia, era irmão da rainha emérita Sofia de Espanha, e a rainha Ana Maria da Grécia é irmã da rainha Margarida da Dinamarca, logo fazia sentido estas casas reais marcarem presença.

Além destas, a família real grega marcou presença por completo com os reis, com o príncipe Pavlos e a mulher Marie-Chantal e os cinco filhos, o príncipe Nikolaus e a mulher Tatiana, a princesa Alexia com o marido e os filhos e a princesa Theodora. Juntaram-se a estes vindos de Espanha a rainha Sofia, a irmã Irene e a infanta Elena, bem como a princesa Benedicta da Dinamarca (também tia do noivo).

A casa real de Hanover fez-se representar pelos príncipes Ernest e Christian, com as respetivas mulheres, Ekaterina e Sassa de Osma, e também com a mãe, Chantal Hochuli. Do Reino Unido vieram as princesas Beatrice e Eugenie de Iorque com os seus maridos, Edoardo Mapelli y Jack Brooksbank. O filho mais velho da princesa Carolina do Mónaco também esteve nesta cerimónia com a sua mulher, Tatiana Santodomingo. Ainda se juntou o príncipe Kyril da Bulgária.

Casamento Philippos da Grécia com Nina Flohr
Casamento Philippos da Grécia com Nina Flohr créditos: DR

Comparando com o Casamento Real português, cuja noiva também é prima de "meia realeza" e filha mais nova de um monarca não reinante, como lembrou Alberto Miranda ao SAPO24, Francisca de Bragança não conseguiu juntar tantos notáveis, em especial reinantes, no seu casamento em Mafra. Contou, porém, com a presença do príncipe Louis e do príncipe Sébastien do Luxemburgo, filhos do Grão-Duque Henri e da Grã-Duquesa Maria Teresa.

Teve ainda a presença de Fra' John Dunlap, Príncipe e 81.º Grão-Mestre da Soberana Ordem Militar de Malta, e de representantes das casas reais da Bélgica, do Liechtenstein, de França, da Áustria, da Rússia e da Bulgária.

Veja aqui as imagens do casamento da Infanta portuguesa, Maria Francisca de Bragança, este sábado: