A decisão da plataforma "é uma absoluta falta de respeito pelos portugueses que gostam de cinema. Mesmo num país em que a ausência de uma clara, afirmativa e consistente política pública para as salas de cinema continua por concretizar, esta é, digamo-lo claramente, uma afronta desnecessária e escusada", afirmou o exibidor em comunicado divulgado em nome do Cinema Ideal.
Em causa está o mais recente filme de Martin Scorsese que se estreia hoje na plataforma de 'streamming' Netflix, a par da exibição em sala em alguns países, mas não em Portugal.
O filme teve uma primeira exibição em setembro, no Festival de Cinema de Nova Iorque, tendo depois as distribuições norte-americanas tentado, em vão, um acordo com a Netflix para exibição durante 90 dias em salas 'multiplex', antes da estreia em 'streamming'.
Ainda assim, a par da estreia na plataforma, a Netflix conseguiu que o filme passe em várias salas independentes, não só nos Estados Unidos, mas também noutros territórios, como Espanha e Itália.
Em Portugal, não houve acordo com as distribuidoras para uma exibição em sala, por isso "O Irlandês" só será visto por quem subscrever o serviço da Netflix.
Pedro Borges sublinha que "não é de todo em todo verdade que os cinemas em Portugal não quisessem estrear o filme".
"O cinema Ideal, que já há um ano tinha estreado o filme 'Roma' [de Alfonso Cuarón e produzido pela Netflix], há muito que fez as diligências necessárias e suficientes para demonstrar o seu interesse em estrear o filme" de Scorsese.
A par da expectativa da estreia, por juntar um elenco com Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci e Martin Scorsese, o filme voltou a suscitar um debate sobre formas de distribuição e exibição cinematográfica, com a entrada em campo das plataformas de 'streamming'.
Em junho, em declarações à Associated Press, Martin Scorsese explicava que a Netflix foi a única produtora disposta a custear o filme, encarecido também por causa dos efeitos especiais inovadores que permitem um rejuvenescimento dos atores, por causa do arco temporal da narrativa.
Em agosto, a agência Lusa tinha pedido informações e esclarecimentos à plataforma sobre uma possível exibição do filme em sala, sem ter obtido resposta.
"O cinema vive hoje em dia uma situação de grande turbulência no que diz respeito às condições da sua circulação e produção, e as salas de cinema são as mais diretamente ameaçadas por essa 'turbulência'", opinou Pedro Borges.
Essa é, aliás, uma das preocupações do setor, expressa na semana passada na conferência bienal da rede Europa Cinemas, em Lisboa, onde produtores, exibidores, distribuidores, programadores portugueses apelaram a uma maior atenção à exibição cinematográfica independente.
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