A carpintaria estava desarrumada. Uma febre aborrecida pusera Tobias demasiado fraco para a sua faina e não lhe sobejavam moedas para um par de braços ajudantes. As grandes fábricas haviam-lhe estagnado o negócio há anos, e ainda que duas delas tivessem feito boas propostas ao carpinteiro, ele acabara por recusá-las. Diz-se que as pessoas querem mudança. E querem-na, sem dúvida, mas desde que não traga dúvidas.

Já não tinha família e nunca casara. Tinha cães e gatos, mas agora, e entrado na idade, temia o futuro e o ramerame dos dias. O sol curto de Dezembro não ajudava e a humidade do fim de ano também não achegava conforto. Pegou no seu calendário e num lápis, apesar de saber muito bem que o que se faz do tempo que passa não pode nunca ser apagado.

Fez as contas e levantou-se devagar para tentar acabar um banquinho que lhe valeria uns dinheiros. Precisava de lenha e legumes, talvez ainda de uma galinha para uns caldos que o ajudassem a tratar desta maleita. Nem pensava no Natal. Já pusera as luzes na janela para animar as crianças da pequena cidade e no jardinzinho já enfeitara o boneco de madeira que fizera quando as mãos eram mais ágeis.

O boneco estava pintado daquele vermelho que o tempo escurece e que parece boémio. Os miúdos diziam que era um Pai Natal, mas para Tobias era um apenas um boneco barrigudo e barbudo que fizera já sem saber porquê. Uma das mãos levantava-se num aceno que no Inverno servia para os passantes oferecerem casacos a outros que deles necessitassem, e quando começava a ficar frio o braço do boneco raramente estava destapado. Tobias já não se lembrava do começo deste hábito, mas todos os anos sentia uma reviravolta boa no humor quando via o primeiro casaco.

A oficina servia também de casa, com um quartinho que era um cubo de três por três por três. Disseram-lhe uma vez que assim fazia parte do clube dos vinte e sete, mas Tobias não percebera.

Ainda a tentear o ambiente com o olhar, reparou num brilho no meio do tapete. Como retirara a sua mesa de trabalho para limpezas, não estava habituado a ver a sala assim disposta. A febre chegara quando estava tudo arredado do sítio e assim ficara. A arrumação era uma das coisas a que sempre se impusera, pois sentia que na desordem havia uma espécie de arrombamento do bom senso.

O brilho no tapete aumentou muito e Tobias pensou que a febre o estava a fazer ver coisas que se conjugavam apenas na imaginação. Sabia que sonhar acordado era tão importante como respirar à noite. As portas abrem-se e fecham-se para deixar entrar coisas boas e manter longe o que nem sequer se quer perto e com a imaginação costuma suceder o mesmo. Os boatos na aldeia também aumentavam de volume quando se davam ouvidos aos que pouco davam pelos outros e Tobias decidiu que este brilho não existia fora da sua cabeça. Virou-lhe a cara, mas não tardou quase nada a tornar a olhar para o centro do rectângulo de chita. O brilho mordente não parecia ser do outro mundo quando era precisamente o que parecia. Aproximou-se.

Estava uma lamparina a olhar para ele, talvez por um efeito engraçado de pareidolia. O brilho pareceu desaparecer com a proximidade do objecto à sua cara. O que era aquilo, que jamais havia visto? Era uma brincadeira de algum dos seus amigos? Estranhava a ideia, pois se o visitassem seria certamente para o ajudar, não para lhe pregar partidas.

Limpou a lamparina, conforme Aladino antes dele, e também conforme Aladino, saiu uma nuvem com forma de gente. Desta vez não era certamente pareidolia.

«Meu amo, olá. Bom dia, boa tarde ou boa noite, que naquele barquinho de metal não há luz que se afoite.»

Tobias coçou a cabeça, abesbílico. Seria a febre a consubstanciar-se em Sherazade? O que era aquilo que se mexia e falava à sua frente? Emitiu durante uns segundos uma vogal que não era nenhuma das cinco e por fim falou.

«Olá, olá, mas o que é que é isto? Que lamparina é esta e quem é o senhor? Eu não tenho disto em cas…»

O fumarento interlocutor cortou-lhe a palavra.

«Desculpe, mas ser o amo não lhe dá esse direito nem esse dever e não é com ‘disto’ que nos devemos conhecer. Começamos com pouco pavio, é o que aqui bem estou a ver.»

A estranha fala da criatura fê-lo adiantar mecanicamente a pergunta.

«Quem é o senhor e o que faz aqui? Por cortesia.»

Com a bonomia de uma velhinha locomotiva a vapor, o ser de fumo retorquiu.

«Quem deve colocar a pergunta sou eu, uma vez que fui interrompido no sono pela sua entrada. É assim há gerações. Quem chega apresenta-se, quem envia a mensagem anuncia-se, quem entra na carruagem pede o destino, quem tem vontade de fazer chichi pede para se apear.»

«Mas foi o senhor que entrou…», ainda disse Tobias, mas num instante atalhou. «Muito bem, chamo-me Tobias e sou carpinteiro há cinquenta anos. E o senhor, tenha a bondade…»

«Não está bom de ver que sou génio da lâmpada? Não é preciso ser uma criatura iluminada, ó senhor Tobias. Por favor, adiantemos os assuntos. Ambos sabemos por que razão estou aqui e despachemo-nos que daqui a nada é Natal.»

Silêncio espantado de Tobias, que reparava agora que o génio era igualzinho ao boneco do jardim. Tentou espreitar pela janela, mas um aceno de uma nuvem que parecia mesmo uma mão chamou-o com uns dedos dançarinos.

Tobias falou por fim, entre o divertido e o zangado. Como não era de maus fígados, mesmo arreliado de febre e de surpresa nunca parecia malévolo.

«Os génios só existem naquelas universidades que mudam o curso da humanidade e naquelas artes que mostram novos mundos. Há-de estar por aí alguém escondido nesta tramóia para depois contar a amigos da onça, essa é que é.»

«Senhor Tobias, sou um génio. Não sou muito afinado e por vezes não consigo concretizar muito acertadamente os pedidos, mas sou exactamente isso em que está a pensar.»

«O quê, um génio desafinado que atende mal os desejos? Então se o meu desejo for saber tocar Chopin lindamente o senhor faz-me tombar um piano em cima quando estiver a andar na rua, é isso? Pare com as brincadeiras, por favor.»

«É esse o seu desejo, meu amo? Quer tocar piano lindamente?»

«Não desconverse, por favor. Se o senhor não começar a falar a sério vou-me embora, a sério que vou.» Estava a ficar enervado e já nem reparava em quem é que estava em casa de quem.

«Não gozo consigo e a minha desafinação nada tem a ver com transformações em sapos ou tragédias de mau ouvido. Sou um génio dos desejos que nem sempre os consegue satisfazer. O que acontece na maioria das vezes, ou melhor, irá acontecer, é pedir-me um desejo, isto se realmente quiser ser meu amo, e eu não lho poder conceder. Posso sugerir-lhe uma alternativa, mais propriamente aquilo que lhe conseguir oferecer nesse instante, mas é o senhor Tobias que decide se quer aceitar essa opção ou não. Não me limito a entregar-lhe o que puder ou o que me apetecer sem lhe perguntar, note bem o que lhe digo. Não o transformo numa pele de leopardo para alindar o chão só porque sim.»

«Como assim? Se eu lhe pedir para tocar piano o senhor diz-me que não é possível, mas que me põe a assobiar de forma assombrosa. É isso?»

O génio sorriu e saíram umas bolinhas de fumo da sua boca.

«Olhe que é uma boa forma de expor as minhas capacidades, sim.»

«E diz o senhor que não está a gozar. Não sei o que entende sobre o que é fazer pouco, mas para mim é isso mesmo. E está a começar a incomodar-me.»

«Senhor Tobias, não acredito que não vacile nem um bocadinho com esta oferta tão boa e tão grátis. Afinal nada tem a perder. Se fosse para fazer figuras já as teria feito.»

Tobias tornou a coçar o cocuruto da cabeça. Não era inteiramente verdade o que o génio dizia, pois a má figura podia chegar por via de um desejo disparatado. Fora sempre um homem composto e qualquer fímbria de vergonha deixava-o transtornado. Mas, realmente, o que tinha a perder? Decidiu-se pelo pedido.

«Muito bem, senhor génio, quero recuperar-me destas febres que me põem a cabeça num balão. Se faz favor.»

«Meu amo, senhor Tobias, não me peça favores, pois são desejos do amo. Deixe ver o que lhe consigo arranjar. Dá-me uns minutos, por favor?»

Tobias cruzou os braços. «Tome lá os minutos e convença-me agora que não me está a aldrabar.»

«Senhor Tobias, não seja inóspito, por favor. Não me parece nada que seja o seu tom.»

Tobias sentiu que estava a ser pouco bruto. Mesmo que fosse tudo uma brincadeira não tinha necessidade de ser tão aguçado. O génio estava agora numa espécie de transe. Ao fim de uns minutos falou numa voz mais espessa.

«Amo, não consigo curá-lo de um instante para o outro. Os pedidos fisiológicos são sempre complicados, talvez por interferirem muito na essência humana. Consigo arrumar-lhe a oficina e acabar aquele banco em que está a trabalhar e que agora lhe custa tanto por causa desta gripe.»

Passou pela cabeça de Tobias uma piada com vassouras, mas nada disse. Após uns momentos, o génio falou numa voz que ressoou estranhamente pela casa.

«… concedido o desejo…»

Quando tirou os olhos do génio tudo estava arrumado, e o lindo banquinho, igual igual ao que tinha nos seus planos da imaginação, estava ali finamente acabado. Olhou para o génio e quis abraçá-lo, mas pareceu-lhe uma ideia despropositada.

«Obrigado, querido génio, obrigado! Isto vai livrar-me desta aflição e poderei voltar à cama para me recompor em termos desta gripe!» Desatou a tossir com a emoção e com o riso da surpresa. Acrescentou. «Tratarmo-nos por génio e por amo ou senhor parece ter pouco cabimento. Mudamos para os nossos nomes?! Como se chama, meu inesperado génio?»

«Estive muito tempo dentro da lamparina e não me lembro do meu nome. Olha, é apenas um detalhe. Escolhe tu a forma como me queres chamar, boa?»

O génio tratou Tobias por tu. Agradado, decidiu fazer o mesmo.

«Bom… para mim não é um detalhe, tu és único. Como és único, escolho um nome que comece por um. Uhm… Humberto! É isso! Humberto serve?».

«Perfeitamente!», disse Humberto agradado. «Agora recolho-me que estou muito cansado com este desejo. Parece que não trabalhei, mas isto aqui dentro andou a mil nestes instantes de concretização.»

Tobias estava muito emocionado, mas deixou Humberto em paz. Também ele sentia o alívio do silêncio quando as conversas se tornavam extensas demais. Agradeceu e ainda quis perguntar quando poderia ver Humberto novamente, mas este bom hábito de pensar antes de falar tapou-lhe a boca a tempo.

«Bom descanso, Humberto. Esta emoção também me deixou ainda mais debilitado, por isso torno à cama.»

Sem uma palavra mais, Humberto mergulhou na lamparina com um volteio de fumo a ser aspirado.

Tobias regressou ao leito e adormeceu profundamente. Quando acordou já era manhã e viu tudo arrumado e o banquinho pronto, não conseguindo perceber nada do que se passava. Eram delírios da febre? Tinha sido realmente visitado por um génio? Não viu a lamparina em lado algum, mas agora também não lhe importou. Sentiu que era uma daquelas ocasiões em que a vida nos dá uma nova oportunidade e estava muito feliz por ver o que o apoquentava tão finamente tratado.

Sentiu-se rejuvenescido. Pôs um par de coisas no sítio e fez uma festinha ao lindo banco que não lhe dera trabalho algum. O cliente devia passar hoje por ali para aferir se estava pronto, e assim ganharia o dinheiro pelo trabalho.

O cliente apareceu pela manhã. Satisfeito pelo trabalho e por ver uma oficina tão limpa, pagou um pouco mais a Tobias. Disse-lhe que era uma prenda de Natal.

Tobias sentia-se bem, com vida a mais e anos a menos no corpo. Foi ao mercado e tratou das suas compras. Encontrou pessoas conhecidas que lhe enalteceram a figura e lhe disseram que parecia mais jovem. Estava feliz o Tobias.

Em regressado a casa deitou mãos ao trabalho e começou um novo banco. Estranhamente, talvez fosse o pedido que mais recebesse. As pessoas estavam sempre a partir bancos, porque estava visto que serviam para tudo – subiam para cima deles, punham-lhes pesos enormes em cima ou então  usavam-nos como lenha quando nada mais tinham para se aquecer. Novo banco, então. Talvez o vendesse ainda antes do Natal.

Passou uma menina na rua com um casaco para pendurar no boneco. Era um grande capote que transportava a custo. Tobias saiu e foi ter com ela.

«Olá, menina, deixa que te ajudo!»

A menina cumprimentou-o e agradeceu. Com timidez, deixou que Tobias pegasse no casaco para o pôr no braço do boneco.

Depois de o pôr, olhou com ternura para a menina. «Como te chamas? Creio que nunca te vi por aqui.»

«Olá, senhor Tobias. Sou a Adoração. Não costumo andar por aqui.»

«Adoração??». Tobias ficou espantado com o nome. Nunca tinha conhecido qualquer adoração, fosse com letra grande ou pequena. Despediu-se da menina e voltou para dentro. Sentiu pena por nunca ter tido filhos e ficou a pensar tristemente em mais um Natal sozinho.

Nem sombra da febre que o havia afligido. Talvez o Humberto, e agora já se convencera que o génio era real, também lhe tivesse tratado da saúde.

Tratou dos legumes e da galinha. Ia olhando em volta para ver se descobria a lamparina, mas debalde. Cantarolou com os seus bichos a fazerem-lhe companhia. Gostava muito deles, mas por vezes tinha pena que não fossem gente a sério.

Pouco depois bateram à porta. Naquela terra abriam-se as portas quando alguém batia. Era um costume de sempre e as pessoas não visitavam alguém se não se supusessem bem vindas. Abriu e estava ali Humberto, desta vez de carne e osso! Vestia o casaco que a Adoração havia deixado no boneco.

«Génio… Humberto?? Então e a carripana? Como estás?»

Humberto riu-se e cumprimentou-o com um aceno amigável. Tobias fez-lhe sinal para entrar e Humberto entrou rapidamente, parecendo um amigo de longa data que conhecia os cantos à casa. E na verdade conhecia mesmo, pensou Tobias.

Sentaram-se num sofá obviamente feito por Tobias e Humberto perguntou-lhe pela saúde com um sorriso maroto. Tobias respondeu-lhe e ficaram assim em silêncio agradável. Dois homens com muitos anos junto à lareira numa calma que acompanha. Tobias levantou-se para pôr mais lenha e Humberto começou a bocejar.

«Tobias, preciso que me peças o teu desejo. Tenho afazeres longe e sou capaz de demorar uns dias até regressar.»

«Não imagino o que queres dizer mas também não vou perguntar», respondeu o carpinteiro. Não fazia a mínima ideia sobre o que havia de pedir.

«Então, queres avançar com o pedido?»

Tobias pensou rapidamente. «Olha, assim de repente não me lembro de nada. Podes precisar dos teus poderes nesses trabalhos que mencionas, por isso deixo-te… olha, ficas com a energia toda, pode ser? Ontem percebi que atender ao desejo, ou melhor, à alternativa ao desejo, te pode deixar muito cansado. Volta no ano novo e pode ser que me lembre de um pedido, sim? Agora estou com saúde e com dinheiro para os próximos tempos e nada mais posso desejar. Vou ter um Natal em paz.»

Lembrou-se da sua solidão, mas não iria naturalmente pedir a Humberto que lhe atendesse a uma coisa tão humana. Humberto ficara a olhar para ele com uma expressão de admiração.

«Noto a tua grande generosidade e vou-me então embora, mas vou com a sensação de ter conhecido um ser humano espantoso! Este caminho que medeia entre a tua intenção e o que verbalizas não tem engulhos e o que afirmas sai-te directamente do ser. Bem hajas, Tobias! Voltarei em breve!»

Tobias não sabia se havia de estender a mão ou um abraço, e enquanto se decidia Humberto começou a elevar-se do chão lentamente. Flutuou até à chaminé e antes de desaparecer deitou-lhe uma piscadela. Visivelmente, as pequenas labaredas não o afectavam. Quando Tobias deu por si estava novamente sozinho e a sorrir em paz.

Pôs uma ópera no gira-discos e voltou à cozinha. Nada percebia de música, mas o canto lírico apaziguava-o e dava-lhe alento.

Estava neste devaneio feliz e passou os dias assim. Os casacos no boneco iam e vinham, como sempre sucedera, e os dias também como sempre e para sempre. Estava tudo a correr lindamente e mesmo o sentimento de solidão de Tobias parecia mais atenuado.

As pessoas também passavam pela rua, as famílias andavam juntas e as crianças mostravam caras de impaciência, que é um sentimento adorável numa criança e de aceitação complicada num adulto.

O advento prosseguiu até à véspera de Natal. Nesse dia Tobias sentiu um vazio quando viu a sua casinha sem ninguém. Estavam lá os seus amados bichos, mas bem sabemos que um bicho não é uma pessoa, nem mesmo para quem afirma que quanto mais conhece os humanos mais gosta de animais, e que como sabemos é apenas uma afirmação que não vem do pensamento.

Tobias estava à lareira quando bateram à porta. Mais uma vez abriu sem perguntar e ficou novamente surpreendido. Estava Adoração ali fora com mais dois meninos. De uma forma muito polida, a menina cumprimentou Tobias e perguntou-lhe se podiam entrar. Tobias, sem uma palavra a sair de um sorriso que parecia uma avenida a estrear, abriu mais a porta. Os meninos tiraram os gorros e entraram em casa.

Tobias fechou a porta com cuidado como se não quisesse acordar ninguém. Talvez não se quisesse acordar a si próprio.

As crianças olharam para ele como só as crianças sabem fazer. E Tobias retribuiu com o olhar feliz crismado pelo universo. Adoração falou.

«Tobias, sou a Adoração como sabes. Sou uma ajudante daquele ser que trataste por Humberto. Viemos de uma terra que não tem existência em muitas cabeças, mas que é tão real como aquele bonequinho ali fora que todos ajuda e a todos saúda. E estamos aqui porque Humberto nos falou de ti. Ou melhor, daquilo que és feito. A ideia de gratidão é muito mais poderosa que a ideia de querença e foi o que mostraste na última visita de Humberto.»

Tobias, que até aí não falara, tampouco emitia agora qualquer som.

«O livre arbítrio, sabes? Quando se decide nada fazer também se faz uma escolha, e tu, sem dares por isso, optaste pela generosidade incondicional. Por isso tens aqui a oferta incondicional.»

Tobias, a adivinhar o que estava para suceder mas sem conseguir acreditar em tamanha bondade, não mexia um músculo. Adoração prosseguiu.

«Os meus irmãos e eu viemos aqui para viver contigo. Ficámos órfãos lá na terra que ninguém acredita que existe e precisamos de um pai. E um pai é aquilo tu és, apesar de nunca teres sido. Tens aqui a tua prenda de Natal. Nada há de mais precioso que o amor incondicional, que é muito mais forte que qualquer carga de tentação ou cobiça.»

Com a cara molhada, Tobias caiu de joelhos para abraçar aquele trio. Pouco se ouviu naquele instante em que uma família estava a ser construída. E nós, que assistimos a esta linda cena, retiramo-nos, pois não somos indiscretos e há muitas coisas que não são para ser vistas por outros.

O Natal, altura de juras e de ideias boas para os outros que entra em ponto morto em Janeiro. Conhecemo-lo todos os anos. Mas o que se passa no Natal é ciência. Se um procedimento é repetido, terá resultados semelhantes. Sejamos então diferentes no novo ano que se avizinha e pode ser que nos cheguem boas mudanças. Ou que nos apareça um desastrado génio dos desejos a mostrar que, na nossa essência, somos seres de paz, dádiva e amor.