Bem-vindos ao Corte e Costura,
um livro sobre fofocas reais.

Alguma vez vos aconteceu estarem na vossa vidinha e, de repente, começarem a surgir perguntas intrusivas como:

«Quem foi o maior traidor de Portugal?»

«E quem teve mais filhos bastardos?»

«Qual acabou por ser o maior chalupa da nossa história?»

A mim também. É por isso que, nestas páginas, poderão ler tudo o que envergonha a nossa monarquia. Descobrirão que aquelas perucas não serviam só para os retratos. Na verdade, escondiam as fofocas mais sumarentas e vergonhosas. Não, não somos um nobre povo e, muito menos, uma nação valente — quando muito, imoral. Somos um país nascido e criado em adultério, consanguinidade, bastardia, falta de noção, vaidade e todas essas coisas que preenchem as revistas cor-de-rosa.

Se não estão capazes de enfrentar a realidade, não sei se deviam estar a ler este livro. Mas também não o podem largar — já começaram, agora, terão de o acabar. Se vos prometo histórias lindas de amor e paixão? Não. Mas podem contar com uma boa sessão de corte na casaca e, possivelmente, umas gargalhadas. Ou, então, aquela expiração repentina pelo nariz quando uma coisa tem piada, sabem? Isso mesmo.

Podia escrever fofocas de pessoas vivas? Sim, mas o D. Duarte Pio de Bragança ainda pode processar-me, e os mortos não. Por isso, olhem para isto como aquelas revistas com dez anos que encontram na sala de espera do médico e que, mesmo assim, é impossível não ler.

Pedro Moura e Susa Monteiro juntam-se ao É Desta Que Leio Isto no próximo encontro, marcado para dia 21 de fevereiro, uma quarta-feira, pelas 21h00. Consigo trazem  "Mensagem", de Fernando Pessoa, numa edição da RTP/Levoir.

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Vou levantar um pouco a ponta do véu quanto ao que se vai dizer aqui: D. Afonso Henriques não era quem diziam ser; D. Sebastião não morreu na batalha de Alcácer-Quibir e D. Pedro não amou apenas Inês de Castro. Agarrei-vos com esta, não foi?

Agora, vistam o vosso melhor fato de fofoquice, agarrem nas linhas, nas agulhas e no chá, e vamos lá dar início à sessão de quadrilhice mais atrasada da História.

I

Masculinidade tóxica

Os traidores, os mentirosos e os sacanas da nossa realeza

Não há mulher que não tenha dito, em algum momento da sua vida, que os homens são lixo. Traem, mentem, escondem... E desengane-se quem diz que «já não se fazem homens como antigamente», que «eram fiéis, amavam as suas mulheres, eram respeitadores, educados e cavalheiros». Este capítulo vai provar o contrário; as minhas desculpas antecipadas pela desilusão causada.

Bem, meus amores, estou aqui para vos mostrar que ser boy-lixo era um requisito obrigatório para se ser rei em Portugal. Não houve um homem de coroa que não tenha sido sacana. Não. Houve. Um.

Antes de começarmos a fofocar a sério, vamos aqui reunir um apanhado de coisas que precisamos de saber para podermos cortar no manto dos reis com conhecimento de causa, que eu quero é quadrilheiras informadas!

1. Não existiam casamentos por amor: as pessoas casavam porque lhes dava jeito. Um tinha um castelo bonito, o outro, um pedaço de terra jeitoso. Um tinha um reino em expansão, o outro, contactos na Igreja. Entendem? Era um contrato, não havia cá amor arrebatador para ninguém. Se viesse depois, perfeito; se não viesse, olha, é o que temos.

2. Quando «apareciam» filhos bastardos, era comum serem assumidos e educados com os filhos legítimos dos reis. Muitas vezes, recebiam altos cargos e pedaços de terra. Viram A Guerra dos Tronos? Pronto, como o Jon Snow, que foi educado com os filhos legítimos do Ned Stark (calma, pessoas que viram até ao fim, eu sei, eu sei).

3. Era costume, e normal, as famílias reais mandarem os seus recém-nascidos até junto de famílias aristocráticas para garantirem a sua educação e tal. A mim, ninguém me engana, pois tenho quase a certeza de que só não os queriam aturar. Havia terras para conquistar, bailes para dar, coroas para usar e rainhas para trair.

Vamos, então, iniciar a sessão de «Quem foi o maior boy-lixo da história de Portugal?». Começamos do menos mau para o maior de todos para mostrar que, quando achamos que não pode piorar, piora sempre. Peguem nas agulhas e segurem bem as linhas, vamos desmascarar estes reis.

D. Afonso Henriques

O início do fim da decência

Ora então, não se tem bem a certeza do dia, nem do ano, do nascimento do nosso Afonsinho. Por razões astrológicas, vamos considerar que foi a 25 de julho de 1109, o que faz dele Leão.

O que sabemos dos homens Leão? Passo o teclado à Madame Márcia, a nossa astróloga de serviço.

O homem de signo Leão gosta de ser o centro das atenções, é simpático, divertido e impulsivo.

Quero que se foquem no impulsivo, por favor. Se isto não é o nosso Afonso, eu não sei... E ainda dizem que a astrologia não é real.

Agora que vos deixei a pensar nisto, vamos lá perceber o quão lixo era.

Afonso Henriques casou com a D. Mafalda de Saboia. Porquê? Porque lhe dava jeito que o reino de Portugal fosse reconhecido como um lugar a sério pela Igreja. A Mafalda tinha contactos com quem falava com Deus e conseguiu colocar o requerimento primeiro que os outros todos. O que é que ganhou com isso? Uma linda coroa e um lindo par de cornos a adorná-la.

O nosso Afonsinho não queria saber quão linda a Mafalda era, se era boa pessoa ou se se preocupava com quem a rodeava. Nada. O grande amor do rei foi uma senhora chamada Châmoa Gomes, sobrinha do último namorado da sua mãe, o que fazia dos dois uma espécie de primos. Mas não se importavam, aquilo era amor, e o monarca chamou-a um figo. A sua amada já tinha sido casada, estava viúva, tinha três filhos legítimos e outro de um amante.

E vocês perguntam-me: Mas, Márcia, quando é que se apaixonaram? Depois de o Afonso estar casado e estar tudo organizadinho para sermos um país?

Não. O Afonso não foi inteligente a esse ponto. Dizem as más-línguas que viveram juntos quase até à véspera do casa- mento do Afonso com a Mafalda, o que fez dele um pouquinho menos sensato do que nós achávamos, ‘né? Este gajo estava disposto a deitar tudo a perder com os conhecimentos da futura rainha por causa de um rabo de saias... É assim... cof cof, rei Carlos III, cof cof.

Mas pronto, lá se safou, nenhum país foi condenado na sequência destes atos. Vamos, agora, falar de filhos do Afonsinho e das suas mães:

Com a Mafalda, teve sete filhos: Henrique Afonso, Urraca Afonso, Teresa Afonso, Mafalda Afonso, Martinho Afonso aka Sancho (não se preocupem, já explico), João Afonso e Sancha Afonso.

Agora, um aparte: o meu pai queria que eu me chamasse Sancha, fiquei Márcia Filipa. Não sei bem qual o pior...

Com a Châmoa, em 1140, três anos antes do Tratado de Zamora, teve o Afonso de Portugal. Estão a ver quão mal isto podia ter corrido? Podíamos ser uma província de Espanha por causa de um gajo com zero controlo abaixo da cintura. Afonso Henriques queria que este filho que teve com a Châmoa o sucedesse no trono, daí o seu nome, mas como não vinha de um casamento, a Igreja disse que não. Deste amor estúpido e louco veio também mais uma Teresa Afonso.

Livro: "Corte e Costura - As maiores fofocas da nossa realeza"

Autor: Márcia Pedroso

Editora: Manuscrito

Data de Lançamento: 21 de fevereiro de 2024

Preço: € 15,90

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Fofoca dentro da fofoca: há quem diga que D. Afonso e Châmoa casaram, mas não se tem bem a certeza. Que escândalo, um rei casar com alguém que amava!

De mãe desconhecida chega-nos o Pedro Afonso, e de outra amante, a Elvira Gualter, e mais uma Urraca Afonso.

Se há coisa que o nosso primeiro rei soube fazer foi filhos. Já na parte de escolher os nomes, não perdeu muito tempo, mas o senhor devia estar ocupado a ser rei, quis despachar...

Mas, Márcia, esta fofoca não nos parece assim tãããããão escandalosa...

Segurem as agulhas, que aí vamos nós:

Certo dia, estava o Afonso a fazer coisas que os reis fazem, mandar cortar cabeças e assim, e decidiu que ia visitar um amigo de quem era muito chegado, o Gonçalo Mendes de Sousa, que fazia parte do exército.

Lá foi o rei, tucatucatucatuca, de cavalo até casa do Gonçalo e, enquanto o anfitrião tratava dos últimos ajustes do jantar, o Afonso ficou livre, leve e solto pela casa. E quem é que encontrou? A mulher do Gonçalo, a Sancha. E o que é que o rei disse? «Olhei para ela e disse “vou-te comer” e comi.» Acaba o Gonçalo de pôr a mesa e vai dar com o Afonso e a Sancha enroladíssimos um com o outro.

Ficou chocado a olhar para o rei e para a mulher e decidiu acabar ali com a brincadeira: deu uma descasca à Sancha, rapou-lhe a cabeça, despiu-a, deu-lhe uma mantinha e mandou-a recambiada para a terra dela num cavalo, virada de costas.

Como é que o Afonso reagiu a isto? Mal. Como assim, o Gonçalo ousou interrompê-los e mandou-a embora?! Um rei já não pode ter as mulheres que quiser?! Aquilo quase correu mal para o «Gongas», mas o Afonsinho perdoou-o pelo ultraje. Quer dizer, o Afonso é que esteve mal na história, mas o homem que foi traído é que teve de pedir desculpa...

E, agora, como é que se sentem ao saber que o fundador da nação foi um homem adúltero?

Ah, Márcia, not all men, não generalizes!

Continuem lá a ler e voltem a pensar no assunto depois.