A história de “Cuties”, ou “Mignonnes” (o seu título original, em francês), tinha tudo para fazer deste filme um lançamento triunfal para o grande público. Obra de estreia de Maïmouna Doucouré, foi filmado depois da realizadora e guionista francesa receber o prémio “Global Filmmaking Award” no festival de cinema independente Sundance pelo seu guião, em 2017.
Essa conquista permitiu a Doucouré obter os meios para gravar “Cuties”, que estreou este ano também em Sundance e que valeu à autora um prémio de realização no festival.
A narrativa, segundo a sinopse do filme, centra-se numa jovem imigrante senegalesa de 11 anos residente em Paris que conhece uma rapariga rebelde e que a leva a entrar num grupo de dança e a descobrir a sua feminilidade, pondo a protagonista em confronto com os valores da sua família e cultura.
O feito, tal como a narrativa, convenceram a plataforma Netflix a comprar os direitos deste filme para ser distribuído nos seus serviços Até aqui, não houve controvérsia.
O problema foi quando a plataforma lançou o póster promocional de “Cuties”, que gerou uma onda de protestos online. Em causa está a pose das quatro protagonistas, todas menores de idade, na capa, encarada como provocadora e acusada de hipersexualizar crianças. A escolha da Netflix contrastou também com o póster original do lançamento francês.
O cariz do póster foi alvo de várias críticas nas redes sociais e até de uma petição, que conta com mais de 230 mil assinaturas, a pedir à Netflix para remover “Cuties” da sua plataforma por “sexualizar uma [criança] de 11 anos para o prazer de pedófilos e por influenciar negativamente as crianças”.
A Netflix acabou por reagir publicamente à polémica, retirando póster de circulação. “Lamentamos profundamente o póster inapropiado que usámos para Mignonnes/Cuties. Não foi OK, nem foi representativo deste filme francês que venceu um prémio em Sundance. Já atualizámos as imagens e a descrição”, lê-se numa publicação na rede Twitter.
Apesar da retração da Netflix, tanto a petição como os pedidos online se mantém, alegando que o filme sexualiza menores. Por outro lado, quem defende o filme, como a atriz britânica Tessa Thompson — que ainda assim criticou o póster — recorda que o filme é justamente um comentário sobre a atual hiperssexualização das crianças e de que a controvérsia acabou por minar o trabalho de Doucouré.
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