“'À Babuja’ surge da vontade de voltar a estar perto das pessoas com um espetáculo de rua, com uma temática algarvia”, afirmou à Lusa o diretor artístico do LAMA, João de Brito, responsável por uma companhia de teatro sediada em Faro e que em 2017 já tinha apresentado uma peça itinerante, com quase 200 atuações por todo o país.
O LAMA regressa agora ao contacto direto com o público, tendo como ponto de partida os “produtos tradicionais algarvios, acima de tudo gastronómicos”, e uma carrinha na qual levam a história a quase todos os cantos do Algarve, revelou o ator e também autor da peça.
A peça tem como base “D. Quixote”, de Cervantes, com o ator André Canário a vestir pele do guerreiro e Sancho Pança, seu escudeiro, a ser interpretado por João Brito. A carrinha, para além de servir como ‘roulotte’, servirá como ‘cavalo’.
Juntos partem numa aventura, percorrendo várias localidades algarvias, com peripécias ligadas à realidade do Algarve, “desde a ‘muito falada’ forma de atender o cliente, ao corridinho, passando pelos pratos típicos”, revelou.
Para convencer Sancho Pança a acompanhá-lo na busca por Dulcineia, D. Quixote promete-lhe “uma ilha nos Algarves”, mas, pelo meio, debatem-se com guarda-sóis – em vez dos moinhos de vento – e encontram-se com vendedores de bolas de Berlim, que, neste caso, preferem os doces D. Rodrigo, adiantou João de Brito.
A peça conta ainda com outro elemento, Igor Martins, que além de garantir a banda sonora, tocada ao vivo com bateria e sopros, assume também outros personagens com os quais a dupla se vai cruzando no seu caminho.
O diretor artístico da companhia confessou ter “boas expectativas”, já que é um espetáculo “para toda a família”, com pouco texto, mas com uma vertente cómica, com a qual “as pessoas se vão identificar”.
Na origem da história esteve a intenção de tratar “algo típico, daí o título “À babuja”, um termo algarvio que pode significar “estar à beira-mar” ou mesmo “à mão de semear”, mas pretende transmitir também a sensação que é estar “muito perto do público”, realçou o ator.
A peça estreia-se no sábado na Associação Recreativa e Cultural de Músicos em Faro, às 21:30, onde volta a estar em cena no dia seguinte às 16:00.
Na segunda-feira, a ‘carrinha-cavalo’ ruma a São Brás de Alportel e, até maio, passa por Loulé, Olhão, Vila do Bispo, Lagos, Vila Real de Santo António e Castro Marim.
Apenas as duas primeiras atuações, em Faro, não são gratuitas, tendo um valor de cinco euros.
O evento insere-se no programa 365 Algarve, que tem como objetivo combater a sazonalidade e mostrar que a oferta cultural também pode um elemento de atração para quem visita a região fora da época alta, entre outubro e maio.
A comissária da programação do 365, Anabela Afonso, afirmou à Lusa que esta peça recupera a essência do teatro de rua e da peça “A carripana”, também apoiada pelo 365 Algarve e que se centrava em algumas das memórias do Algarve, quer “de palavras, alimentos ou comidas” próprias da região.
“Será interessante saber como uma ‘roulotte’ de comida pode ser trabalhada do ponto de vista cénico do que são as memórias e o património do Algarve”, conclui Anabela Afonso.
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