“Já passámos por várias fases da negociação [com as autoridades brasileiras]. Uma das últimas conquistas foi, eventualmente, poder trazer alguns dos vestidos e algum do espólio que está no museu da Carmen Miranda [no Rio de Janeiro], que neste momento não está em exposição e que não estará conservado da melhor forma”, assinalou a autarca Cristina Vieira, indicando que “uma das contrapartidas em trazer para cá o espólio seria poder fazer também o restauro”.

A presidente da câmara falava no Museu Municipal Carmen Miranda, recentemente requalificado, onde se pode ver uma exposição de fotografias e cartazes de grande formato e objetos pessoais, sobretudo joias, que retratam a vida e a carreira da artista que nasceu a 09 de fevereiro de 1909, em Marco de Canaveses.

A autarca referiu que o concelho pretende “trabalhar a Carmen Miranda como figura notável que foi, mas também como emigrante”, pelo que está a ser preparada no museu, para exposição permanente, “uma parte dedicada à Carmen, como emigrante e dedicada aos emigrantes”.

“Neste momento, está a ser tratada com o Brasil, através da Secretaria de Estado das Comunidades, a cedência de algum do espólio de Carmen Miranda para se fazer réplicas e, eventualmente, trazê-las para cá, para o museu, por cedência”, acrescentou, realçando que já foi apresentado um orçamento.

A autarca admitiu que não tem sido um processo fácil, também devido à instabilidade política que se tem observado no Brasil, mas o propósito é atrair cada vez mais brasileiros a visitarem o museu de Carmen Miranda, em Marco de Canaveses.

Cristina Vieira referiu que isso já acontece, mas prevê que ainda mais brasileiros o queiram fazer, sobretudo quando a exposição permanente estiver concluída, o que deverá acontecer ainda este ano.

“A marca Carmen Miranda é muito forte, mas temos de a trabalhar, não só com o marketing, mas também recorrer aos nossas parceiros institucionais, para podermos ter este museu numa rede de museus da diáspora, aliás já existe esse comprometimento com a Secretaria de Estado das Comunidades”, reforçou.

O atual espaço do museu, situado no centro da cidade, apresenta três salas de exposição, nas quais os visitantes vão ouvindo alguns dos grandes sucessos musicais da artista.

A primeira sala, no rés-do-chão, é dedicada a Maria do Carmo (nome original da artista), podendo observar-se uma foto da casa onde nasceu, em Várzea de Ovelha, a sua ida para o Brasil com a família, ainda criança, e os primeiros anos na sua carreira artística, quando se começou a destacar como cantora.

“Nos primeiros anos, no Brasil, Carmen já revela ser uma mulher muito à frente no seu tempo”, disse Armando David, o técnico superior responsável pelo museu. Nesse espaço também se encontram fotografias que retratam o funeral de Carmen, em 1955, no Rio Janeiro, seguido por centenas de milhares de pessoas.

Na segunda sala, no primeiro piso, os visitantes podem ver cartazes que anunciavam as atuações de Carmen Miranda, nos Estados Unidos, no mundo da rádio, música, teatro e cinema, complementados com várias fotografias da artista na Broadway e em Hollywood.

Na terceira e última sala, veem-se fotografias a preto e branco de Carmen Miranda, enquanto mulher destacada na sociedade brasileira e norte-americana.

“Carmen é uma mulher da sociedade, ela é muito mais do que entendemos, a Carmen é uma cultura”, comentou o técnico, apontando também para os objetos pessoais da artista, patentes no espaço, nomeadamente várias joias que usou em filmes e em convívios com “grandes vedetas” daquele tempo, destacando-se o ator John Wayne e o ex-presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt.

“Devemos perceber Carmen. O visitante deste museu vem e depois vai perceber melhor aquilo que é esta criança que nasceu no Marco e se transformou num mito mundial”, rematou Armando David.