“Então hoje vai haver folclore?”, ouve-se vindo de uma das janelas na praça principal de Reguengo do Fetal. Era dia de casório na Igreja da Nossa Senhora dos Remédios e, à janela, alguns populares deliciavam-se a ver as ruas com algum movimento. Por aqui, o tempo costuma correr mais devagar e mais do que meia dúzia de pessoas na rua é considerado um dia de movimento. Mas, como manda a tradição, no primeiro domingo de outubro, as ruas enchem-se para a grande celebração da terra. Mas a festa começa nove dias antes, quando a Nossa Senhora do Fetal, que está habitualmente lá em cima, na Ermida de Nossa Senhora do Fetal, é transportada até à Igreja Matriz, na primeira procissão do ritual. Depois, começam os preparativos para o seu regresso, para a procissão que vai rua acima.

Mas quem acha que este ritual é apenas mais um, está enganado. Celebra-se o milagre da Senhora do Fetal, uma história que nos diz que, numa altura em que se passava fome, a Nossa Senhora apareceu no meio dos fetos (as plantas que dão nome ao local) e fez um milagre que trouxe alimento para toda a população.

E o povo não esqueceu e todos os anos presta a sua devoção. Para as cerimónias, a aldeia sai à rua e organiza uma procissão iluminada por cascas de caracóis cheias de azeite e um pedaço de algodão. Ainda que seja um ritual invulgar, a verdade é que nem os próprios populares parecem saber o porquê de isto acontecer. Uns dizem que foi por criatividade dos antepassados. Outros afirmam que não foi mais do que a necessidade de encontrar uma alternativa às velas. Mas a verdade é que a tradição se manteve até aos dias de hoje.

Grutas que nos levam à Idade do Bronze

Tradições à parte, a freguesia atrai sobretudo amantes de passeios pedestres e investe no geoturismo. É aqui que pode ser visitada a Gruta do Buraco Roto, uma gruta necrópole que faz parte da unidade geomorfológica calcária das Serras de Aire e Candeeiros.

O percurso pedestre do Buraco Roto tem início na principal praça da aldeia, o Largo da Palmeira, e, ao longo de seis quilómetros utiliza vários caminhos rurais, de asfalto e carreteiros, para ligar os principais pontos de interesse. A primeira paragem são as grutas. Até lá, é preciso enfrentar uma subida íngreme e estreita que, pelas palavras de quem lá mora, “não é para todos”.

Ao chegar, deparamo-nos com uma gruta que nos conduz em direção a uma escuridão incógnita. “Estamos numa zona cheia de fósseis do período jurássico. Para além das grutas, aqui já foram encontrados vestígios de rituais fúnebres da Idade do Bronze. Isto está cheio de recordações do nosso passado e qualquer um as pode vir descobrir, desde que tenha o devido cuidado.”, conta-nos Danilo Guimarães, colaborador das Grutas da Moeda e grande conhecedor dos percursos pedestres disponíveis à volta de Reguengo do Fetal.

Diz Danilo que no inverno, ainda que as condições atmosféricas possam não parecer as mais favoráveis, a zona das grutas ganha um encanto especial. A conjugação da chuva com o tipo de calcário ali apresentado e a configuração das grutas faz com que se formem pequenas cascatas ao longo das Serras de Aire e Candeeiros. Nos meses de maior calor, não há cascatas, mas a conjugação do clima húmido do oeste com a paisagem de vegetação mediterrânica fazem a subida valer a pena.

As duas paragens seguintes do percurso definido são em Pia da Ovelha e Vale dos Ventos, duas zonas propícias à prática de escalada, que tiram partido da altitude diferenciada daquela zona, que varia entre os 70 e os 400 metros. Pelo caminho, cruzam-se percursos. É que esta zona também é utilizada pelos peregrinos que se dirigem ao Santuário de Fátima, a cerca de 12 quilómetros de distância.

O percurso circular passa ainda pela Ermida da Senhora do Fetal e pela Capelinha da Memória. A última paragem é no local onde tudo começou e onde, ao que tudo indica, de vez em quando há folclore.

Já que estamos em Reguengo do Fetal....

Este é apenas um dos muitos percursos assinalados pela zona. Quem visita Reguengo do Fetal é ainda convidado a fazer o Percurso da Mata do Cerejal, o Percurso da Rota dos Moinhos e o Caminho de Ferro Mineiro do Lena, todos com diferentes níveis de dificuldade. Para os mais corajosos, a Escola de Escalada de Reguengo do Fetal tem vários desafios à disposição.

Para muitos, as Grutas da Moeda são de paragem obrigatória. As grutas calcárias de elevado valor geológico ficam a poucos quilómetros de distância, também no concelho da Batalha, e recebem anualmente milhares de visitantes que procuram não só ver a principal atração, como também ter visitar o Centro de Interpretação Científico-Ambiental, um espaço interativo que complementa a visita às grutas.

Para além disto, é impossível não notar as várias pinturas com as quais nos cruzamos nas ruas e estradas desta zona. A assinatura da iniciativa é do projeto Aldeia Pintada, e abrange outras freguesias do concelho da Batalha.

O projeto de cariz social e cultural começou na aldeia da Torre, onde, como forma de homenagear a cultura e tradição locais, começaram por registar ditados e dizeres nas paredes. Ainda que a street art pareça uma coisa dos tempos modernos, a verdade é que até os mais velhos gostaram da iniciativa, e a Aldeia Pintada acabou por crescer para as zonas circundantes.

Perto de Reguengo do Fetal, uma das paragens mais conhecidas é o sino dentro de um túnel à beira da estrada. Ao que tudo indica, quem o tocar tem direito a 10 anos de sorte. Para além disso, fica o desafio de descobrir todas as paragens e obras de street art espalhadas por ali.

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*O SAPO24 viajou a convite do Turismo do Centro de Portugal

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