O projeto chama-se “Artistas portugueses em Paris – uma história oral” e o primeiro filme foi publicado esta semana na página internet da delegação da Gulbenkian em França, com uma entrevista de uma hora e vinte minutos ao ensaísta Eduardo Lourenço.
O objetivo é preservar a memória das personalidades artísticas que passaram por França, sobretudo pela capital, disse à Lusa o diretor da Gulbenkian de Paris, Miguel Magalhães.
“O projeto ‘Artistas Portugueses em Paris – uma história oral’ nasceu da necessidade de preservarmos a memória de algumas gerações de artistas e figuras da cultura portuguesa que foram passando por Paris nos últimos 50, 60 anos. Há um conjunto de figuras tutelares da cultura portuguesa que passaram por França, alguns começam a deixar-nos”, explicou.
Miguel Magalhães destacou que além de Eduardo Lourenço – “provavelmente a pessoa mais habilitada para falar sobre a relação de Portugal e França” e que foi “ele próprio um português em França durante cerca de 60 anos” – já estão terminadas entrevistas ao músico Sérgio Godinho, aos artistas plásticos José de Guimarães e Graça Morais e ao escritor e político António Coimbra Martins, que foi fundador do Centro Cultural Português em Paris em 1965 e embaixador na capital francesa.
Há, ainda, “uma planificação intensa nos próximos tempos de entrevistas com várias outras figuras”, a começar pelo pintor Manuel Cargaleiro, o músico José Mário Branco e o artista Jorge Martins, entre “tantas outras figuras da arte e da cultura portuguesa em França e em Paris”.
“Não tem um limite, a verdade é essa. O conjunto de pessoas, de figuras importantes da cultura portuguesa que foram passando por França nas últimas décadas é de tal forma impressionante que não começámos este projeto com o fim em vista”, continuou o diretor da delegação, não excluindo a possibilidade das entrevistas filmadas virem a ser transformadas em livro, mais tarde.
As conversas assentam na formação de cada personalidade, nas suas motivações para emigrar, na sua vida em França – nomeadamente as dificuldades, as conquistas e as ligações com o meio artístico francês e português – assim como as relações entre Portugal e França.
Os artistas convidados têm aderido ao projeto “de forma muito calorosa”, em entrevistas conduzidas, até agora, pelo artista e investigador António Contador e por Luísa Braz de Oliveira, especialista em cultura portuguesa e antiga colaboradora de Eduardo Lourenço e de António Coimbra Martins.
“Julgo que todos os entrevistados perceberam a importância da preservação desta memória, destes testemunhos. Estamos a falar de diferentes gerações, de diferentes motivações. Estamos a falar com pessoas que fugiram à ditadura, estamos a falar com outras que vieram cá porque eram bolseiros na Fundação Gulbenkian, outros que vieram porque estavam de passagem”, continuou Miguel Magalhães, sem esquecer os que escolheram Paris por causa da “vida artística estimulante”.
O responsável sublinhou, também, que este “não é um projeto científico, é verdadeiramente um projeto de preservação da memória” que pretende servir, no futuro, para as pesquisas de investigadores, estudantes e pessoas interessadas pela cultura portuguesa em França.
Ainda que se trate “de um testemunho oral”, Miguel Magalhães defendeu que “a história da emigração portuguesa em França, em geral, tem sido investigada”, mas “a história da emigração cultural e artística está provavelmente um pouco menos feita”, pelo que o projeto da Gulbenkian de Paris é como “uma investigação especializada” dentro da emigração portuguesa.
Na apresentação do projeto, no ‘site’ da instituição, pode ler-se que “a cidade de Paris ocupa um lugar proeminente como destino para artistas, músicos e homens de letras portugueses ao longo dos tempos”, nomeadamente, “André de Gouveia no século XVI, Eça de Queiroz no século XIX, Amadeo de Souza Cardoso, Almada Negreiros, Vieira da Silva, Lourdes de Castro, Manuel Cargaleiro, Sérgio Godinho e tantos outros”.
“Esta lista poderia continuar indefinidamente, tal é o número de personalidades da cultura portuguesa que viveram e trabalharam por esta cidade ao longo de décadas. Paris foi porto de abrigo, cidade de exílio, mas também de aprendizagem e de liberdade – política, de pensamento, liberdade criativa – para gerações sucessivas de jovens portugueses”, conclui o texto.
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