Em comunicado, o centro da Universidade do Porto explica hoje que a descoberta, publicada na revista científica SHILAP Revista de lepidopterologia, decorreu durante trabalhos de campo, realizados entre Vila Nova de Milfontes e o Cabo Sardão, para encontrar “borboletas do género ‘Ypsolopha’, que em Espanha se alimentam de plantas género ‘Ephedra’”.

A investigação permitiu encontrar “quatro adultos e diversas lagartas pequenas e castanhas” que, posteriormente, foram identificadas como sendo uma “nova espécie para a fauna portuguesa”.

Em homenagem ao local da descoberta, Vila Nova de Milfontes, no distrito de Beja, os investigadores nomearam esta nova espécie de ‘Ypsolopha milfontensis’.

Esta borboleta noturna é resultante de ‘Ypsolopha rhinolophi Corley’, uma espécie descrita em 2019 no Norte de Portugal e de França, apresentando, contudo, “uma ecologia muito distinta”.

“Enquanto ‘Ypsolopha rhinolopsi’ se alimenta de carvalho-negral, a nova espécie alimenta-se de um arbusto ameaçado endémico do oeste da região mediterrânica e dos arquipélagos da Madeira e Canária”, revela o CIBIO-InBIO, acrescentando que esta planta – conhecida como gestrela ou cornicabra - está classificada como “vulnerável” na lista vermelha de flora vascular de Portugal continental.

“A redução das suas populações deve-se principalmente à destruição de ‘habitat’ pela pressão urbana e turística”, refere.

Segundo o centro da Universidade do Porto, em Portugal, pelo menos 381 espécies de flora vascular encontram-se ameaçadas de extinção, assim como 44% dos endemismos [grupos taxonómicos que se desenvolvem numa região restrita]”.

Citado no comunicado, Miguel Porto, investigador do CIBIO-InBIO e presidente da Sociedade Portuguesa de Botânica, afirma que o sudoeste alentejano é “uma das regiões onde ocorrem mais endemismos de flora ameaçados”.

“Por um lado, é uma região de elevada concentração de endemismos, mas, por outro, é uma região que está sujeita a fortes ameaças como a expansão em larga escala da agricultura intensiva e o desenvolvimento urbano turístico”, acrescenta.

O desaparecimento dos endemismos implica a “extinção de espécies animais que delas dependem”, sendo que os investigadores suspeitam que esta nova espécie de borboleta “esteja igualmente em risco de extinção”.

“Em Portugal sabemos ainda muito pouco sobre a nossa fauna de invertebrados. Seguramente existem várias outras espécies no anonimato, dependentes das diversas espécies endémicas de plantas vasculares de Portugal. É urgente estudar o nosso património cultural, para conhecer e preservar”, defende Sónia Ferreira, entomóloga e investigadora do CIBIO-InBIO.