“Fui encontrar essa imagem num dos livros que existem publicados sobre grafitos do Mosteiro da Batalha, do autor Orlindo Jorge, (…) e no meio deles havia este absolutamente invulgar”, afirmou à agência Lusa Alfredo Pinheiro Marques.

Segundo o historiador, “quer em termos fisionómicos, quer de uma série de adereços que tem, percebe-se que é a mesma figura daquilo que até agora era conhecido do rei D. Manuel I”.

Alfredo Pinheiro Marques tinha identificado, em maio de 2021, a figura do rei D. Manuel I num painel no Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu. A identificação do grafito ocorreu em março.

“Uma simples semelhança fisionómica não é suficiente para que possamos fazer identificações destas”, ressalvou o especialista em História da Cartografia e dos Descobrimentos, salientando, no caso deste grafito, que é “mais do que isso”, como o “corte de cabelo em redondo sobre a testa, que é muito característico”, e a boina.

Referindo que “as imagens até agora seguras de que havia do rei D. Manuel são duas iluminuras no Arquivo Nacional da Torre do Tombo” e têm “sempre essa boina” com “uma joia que é inconfundível”, o também diretor do Centro de Estudos do Mar, sediado na Figueira da Foz (Coimbra), precisou que “permite fazer uma identificação, sem dúvida, porque a joia é sempre a mesma”.

“Além disso, a boina tem uma espécie de orla lateral”, observou o investigador, realçando que “a situação é de facto extraordinariamente sensacional, porque não é habitual que do rei mais célebre e mais rico da História de Portugal só houvesse estas pequenas imagens dele, das iluminuras ou as da escultura”, estas no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.

Alfredo Pinheiro Marques destacou ainda as feições, exemplificando com o nariz - “batatudo na ponta” - e os lábios, e o queixo duplo que “já que se vê que é de idade mais avançada”.

“Mas, de facto, o feitio da boca e dos lábios, quer do lábio superior, quer de inferior, é o mesmo, portanto são feições muito características individuais”, sublinhou.

Assumindo que esta matéria “vai, certamente, ser de grande discussão e de grande sensação na História da Arte Portuguesa, porque é uma imagem coeva”, o historiador realçou que se percebe que “é um retrato pessoal do que se chamava, na altura, tirada do natural, significa, portanto, ‘à vista, de alguém que viu’”.

Por outro lado, o investigador observou ser “invulgar que um grafito tenha uma qualidade tão grande”.

“A hipótese que pode ser posta é de que quem o tenha feito não seja um pedreiro normal das obras e, sim, algum mestre ou de cantaria ou de vidraçaria”, declarou, notando que o grafito “está a cerca de dois metros e meio de altura”, pelo que “não é muito acessível” e “passou despercebido”.

De acordo com Alfredo Pinheiro Marques, “tratar-se-á, de facto, de um esboço a carvão que impregnou de tal maneira na pedra que sobreviveu”.

O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha (Leiria), resultou do cumprimento de uma promessa feita pelo rei D. João I, em agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota, travada em 14 de agosto de 1385, que lhe assegurou o trono e garantiu a independência de Portugal.

O monumento é Património Mundial da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.