"A chegada à Terra é um dos períodos mais difíceis de toda a experiência de ser cosmonauta", porque tinha "dor nas costelas e costas e os joelhos estavam sempre inchados", num período que considera "mau para qualquer cosmonauta que regressa".

O engenheiro russo, que nasceu em 1960, disse aos alunos da Faculdade de Ciências presentes na palestra sobre as suas experiências a bordo da Estação Espacial Internacional que "conseguiu realizar o sonho de criança de ir ao espaço" e que quando recebeu o convite para embarcar pela primeira vez numa nave, em 2010, não conseguiu "rejeitar uma proposta tão honrada".

"Quanto mais cedo entendermos os processos que se passam lá no fundo do cosmos, como por exemplo o buraco negro, mais rápido vamos conseguir chegar a novos tipos de energia", explicou à Lusa, Mikhail Kornienko, sobre a primeira imagem de sempre de um buraco negro, captada pelo telescópio "Event Horizon", no dia 10 de abril.

Kornienko acrescentou que "os motores químicos já se esgotaram" e que "descobertas como esta [primeira fotografia de um buraco negro] podem ajudar-nos a encontrar as respostas que procuramos".

Às perguntas dos alunos sobre as saudades que tinha do planeta Terra enquanto estava na missão espacial, o cosmonauta russo respondeu que na sua última expedição, em 2016, pediu aos psicólogos da equipa que lhe enviassem "fotografias e sons da natureza" e pendurou "as fotografias nas paredes da Estação Espacial Internacional".

"Tinha saudades dos rios, das florestas e, sobretudo, da terra, da terra que pisamos e do cheiro da terra", salientou.

Quanto à poluição, Kornienko explicou aos alunos da Faculdade de Ciências que "os humanos tratam de forma muito bárbara o planeta" e que a única resposta ao problema é começar por "uma mudança pessoal".

"Somos uma sociedade suicida que está no último piso de um edifício e quer atirar-se", disse o cosmonauta sobre a devastação da natureza devido às alterações climáticas.

O engenheiro acrescentou ainda que "a utilização do espaço para fins militares é má" e que a única explicação para tal ato é "o egoísmo".

"E não se esqueçam que a China também fez recentemente cair um míssil", acrescentou Kornienko.

O evento englobou também a inauguração de uma réplica à escala real do Sputnik I, o primeiro satélite da história, que foi construída por Rui Moura, da Faculdade de Ciências, em parceria com a empresa Skyline.

A iniciativa, organizada em colaboração com o conselheiro cultural da embaixada russa em Portugal, insere-se nas comemorações dos 240 anos de relações entre os dois países.