“Perfil”, editado pela Universal Music Portugal e a Decca Records, marca uma nova etapa na carreira de Dulce Pontes, um “regresso às origens em Portugal, com a Universal Portugal”.

“Ter o apoio da Universal significa ter também liberdade e confiança das pessoas que estão ao meu redor para poder produzir exatamente o trabalho que tenho em mente, que foi aquilo que aconteceu, e ter músicos maravilhosos e técnicos”, afirmou a cantora em entrevista à agência Lusa.

O regresso da cantora à Universal acontece 18 depois do álbum “Focus”, editado em 2003 e que gravou com o compositor italiano Ennio Morricone.

O álbum que hoje edita, e que sucede a “Peregrinação” (2017), tem dentro “uma homenagem” que Dulce Pontes quis “fazer de uma forma mais ampla”. “Em primeiro lugar a Amália Rodrigues, sempre, mas não menos a Hermínia Silva, também, a Fernando Maurício e a Alfredo Marceneiro, que tem muita história para se contar fora de Portugal, e em Portugal também. Dá-me ideia que as novas gerações mal conhecem e acho importante”, referiu.

A cantora partilhou como foi “muito compensador, nesta altura da vida, ter oportunidade de gravar este disco a pensar muito em todo o público”.

“Porque a minha vida e a minha carreira é feita por público de todo o mundo. Sentia que tinha este álbum em dívida para com as pessoas que amam fado e que gostam de me ouvir cantar fado, e que esperaram por isso bastante tempo, apesar de eu ter continuado sempre a gravar fado. Em qualquer registo fonográfico meu, está lá sempre”, disse.

“Perfil” é um álbum sobretudo de fado, mas, segundo a cantora, “é mais fado no sentido dos arranjos, da escolha dos músicos, dos próprios fados elegidos e canções”. “Mas também há aquele pezinho no folclore, na ‘Laranjinha’ [adaptação de uma canção popular portuguesa], que eu gosto sempre de lá ir”, referiu.

No novo trabalho, Dulce Pontes canta temas popularizados por Alfredo Marceneiro, “O leilão da casa da Mariquinhas”, Celeste Rodrigues, “Lenda das algas”, Hermínia Silva, “Fado mal falado”, e Amália Rodrigues, “Soledad”, tema com letra de Cecília Meireles e música de Alain Oulman, que a ‘diva’ do Fado não chegou a gravar.

“Pode-se sempre recriar, reinterpretar, reinventar, mas fado será sempre fado, folclore será sempre folclore”, disse.

Em “Perfil”, Dulce Pontes canta também palavras de Pedro Homem de Mello, em “Valsa da Libertação”, tema que conta com a colaboração do fadista Ricardo Ribeiro, e de Sophia de Mello Breyner Andresen, em “Porque”, mas também suas.

Entre os 11 temas que compõem o álbum, está ainda uma versão portuguesa de “Amapola”, canção do músico espanhol José María Lacalle García.

“Perfil” tem dentro um período da vida de Dulce Pontes que “é mais maduro, é diferente, tem o peso de muitos anos, de muitos palcos, de muita gente, peso não no mau sentido”.

“Tem o chegar a muitas conclusões dentro de mim enquanto pessoa, enquanto eu, mulher portuguesa no mundo. Não quer dizer que os outros álbuns não sejam, eles têm sempre essa abordagem, é a minha forma de estar, não sei estar de outra forma”, disse.

Agora quer levar o álbum aos palcos, “por aí fora a passear e a crescer com muito amor, e muito a pensar no público português”. “Porque eu devia isto ao público português”, partilhou.

Agora, Dulce Pontes está focada em “Perfil”, mas partilhou com a Lusa que tem planos, como a gravação de um álbum de homenagem à cantora brasileira Elis Regina.

“Quando fechou tudo [por imposição da pandemia da covid-19] pensei que já não poderia homenagear a Elis Regina, nem a Hermínia ou o Fernando Maurício, o Alfredo Marceneiro. Comecei a pensar: ‘E agora?’ É ir aproveitando o tempo, vivendo um dia de cada vez, mas sempre com foco, que eu perdi, durante a pandemia. Foi a horta que me salvou”, confidenciou.