
O prémio, o “único em Portugal que distingue a carreira de um compositor”, inclui a encomenda de uma peça musical, disse à agência Lusa o pianista Filipe Pinto-Ribeiro, diretor artístico do DSCH — Schostakovich Ensemble.
O pianista afirmou que é intenção do DSCH, “ao longo dos próximos anos, ir dando destaque aos grandes compositores portugueses e ir criando um repertório de excelência nos concertos em Portugal e fora de Portugal”.
O prémio visa ainda “reconhecer, incentivar e divulgar a criação musical contemporânea portuguesa”, disse o pianista, referindo que o DSCH–Schostakovich Ensemble, ao longo dos seus 13 anos, tem “tocado várias obras de compositores contemporâneos portugueses e tem estreado, fora de Portugal, obras de Vianna da Motta, Armando José Fernandes, Fernando Lopes-Graça”.
A entrega do prémio será feita no próximo dia 28, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, num concerto, em que será estreada “Alepo”, a obra resultante da encomenda a Luís Tinoco.
“Alepo” é uma composição que “cruza diversas fontes musicais, e o compositor debruçou-se o sobre músicas do Médio Oriente, não só melodias árabes, mas também sobre cores e sonoridades que procura trazer para os instrumentos clássicos”, explicou Pinto-Ribeiro.
“Cruzamentos é, aliás, o tema do concerto de atribuição do prémio, que se intitula ‘Crossings’, que vai buscar, precisamente, cruzamentos entre a música clássica e outras linguagens como o jazz e a música popular”, afirma Pinto-Ribeiro.
“Luís [Tinoco] pensou também na ideia do cruzamento propriamente dito, neste caso do mar Mediterrâneo — pessoas fugindo aos conflitos e às adversidades. Começou a imaginar a sua angústia e criou um lamento musical, que, com certeza, percorre todos aqueles que buscam terra firme e paz”, prosseguiu o pianista.
“Muitas das vezes partem sem nada, apenas as suas memórias e, de um modo poético, podem lembrar-se das músicas das suas terras que ficaram para trás”.
Luís Tinoco tem a sua música publicada pela University of York Music Press, do Reino Unido, e disponível em álbuns editados pelas etiquetas Odradek, Naxos e Lorelt, entre outras.
Tinoco licenciou-se na Escola Superior de Música de Lisboa e completou um Mestrado na Royal Academy of Music, em Londres, e um Doutoramento na Universidade de York, no Reino Unido.
Desde 2000, o compositor colabora com a Antena 2/RTP como autor de programas radiofónicos sobre a música dos séculos XX e XXI. Para a mesma emissora é responsável pela direcção artística do Prémio e Festival Jovens Músicos. É professor na Escola Superior de Música de Lisboa.
Em 2016 obteve o título de Associate of the Royal Academy of Music e, na temporada de 2017/2018, foi Artista Associado da Casa da Música e Compositor Residente no Teatro Nacional de S.Carlos, respetivamente. Como compositor, o seu catálogo inclui obras para música de câmara, orquestra e de cena.
O concerto do dia 28 intitula-se “Crossings: Clássica, Folk & Jazz”, e inclui obras de Stravinsky, Gershwin, Bartók e Poulenc.
DSCH–Schostakovich Ensemble apreensivo com continuidade do Prémio de Composição
O Prémio de Composição DSCH–Schostakovich Ensemble será entregue pela primeira vez este ano, mas o ensemble está apreensivo quanto à sua continuidade, porque a candidatura apresentada à Direção-Geral das Artes ficou sem apoio, embora tenha sido considerada elegível.
Os resultados provisórios do concurso do programa sustentado de apoio às artes, divulgados no passado mês de outubro, pela Direção-Geral das Artes (DGArtes), não contemplam a candidatura do DSCH-Schostakovich Ensemble, embora o júri a tenha considerado elegível para financiamento.
De acordo com o pianista Filipe Pinto-Ribeiro, diretor artístico do ensemble, este facto causou surpresa e deixou-o apreensivo, “pondo em causa toda a atividade" do agrupamento, não só o Prémio de Composição agora encetado, mas também outros projetos como o Verão Clássico.
"Há mais de dez anos [que o DSCH–Schostakovich Ensemble] é responsável por projetos artísticos de excelência, como o 'Verão Clássico', reconhecido como um dos melhores festivais e academias mundiais [de música]", recordou Pinto-Ribeiro à Lusa.
O Verão Clássico - Academia Internacional de Música de Lisboa tem decorrido anualmente no Centro Cultural de Belém, entre julho e agosto, com um "eixo performativo e um eixo educativo", envolvendo concertos diários, 'masterclasses' e atuações, com músicos e professores oriundos de instituições portuguesas e estrangeiras, e solistas de diferentes orquestras mundiais.
Este ano, a academia mobilizou músicos de professores de instituições como a Escola Superior de Música "Hans Eisler" de Berlim, a Escola de Música e Drama Guildhall e a Real Academia de Música de Londres, o Conservatório Superior de Paris, assim como músicos das orquestras de Paris, do Mozarteum de Salzburg e da Filarmónica de Berlim, entre outras instituições.
Pinto-Ribeiro recordou à Lusa que este projeto "é uma plataforma de profissionalização de jovens músicos, e a candidatura para 2020/2021 [apresentada à DGArtes] foi considerada elegível”, mas ficou sem apoio, única e simplesmente por causa da “insuficiência da verba disponível”.
Esta realidade foi aliás reconhecida por júris, que inscreveram em ata, pela primeira vez, de forma unânime, a falta de dinheiro para os concursos, e também pela própria DGArtes, que já defendeu a necessidade de melhorar e corrigir o atual modelo de apoio, assim a ministra da Cultura, Graça Fonseca, que já admitiu uma "revisão crítica" do modelo.
Na área da Música, os resultados provisórios dos concursos da DGArtes somaram 25 candidaturas elegíveis, deixando dez sem apoio. Nesta área, o júri assegurou ainda, em ata, que o limite imposto por região excluiu "cinco das dez [candidaturas] elegíveis na Área Metropolitana de Lisboa”.
O ensemble “apresentou já uma contestação" à DGArtes, no prazo previsto do concurso bienal do apoio sustentado, e aguarda "uma decisão final, esperando uma correção da classificação que é muito penalizadora”, disse o pianista à Lusa.
Em declarações à Lusa, Filipe Pinto-Ribeiro recordou a aclamada carreira nacional e internacional do DSCH – Schostakovich Ensemble e a sua discografia premiada.
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